terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Nosso maior desafio é contra nossa própria estupidez!

"Quando você está fazendo o que é certo para a Terra, ela lhe dá uma ótima companhia"


Abrindo os trabalhos do mês de março - mês das mulheres - transcrevi uma pequena parte da entrevista realizada com Vandana Shiva*, que toca em pontos importantes sobre um velho mundo que está ruindo, outro que está nascendo e o papel das mulheres e do feminino dentro de tudo isso:

“A maior estupidez que nos governa é deixar que os sistemas de água, os sistemas de alimentação e os sistemas climáticos planetários sejam destruídos. Hoje, nosso maior desafio é realmente contra a estupidez.

Existe a idéia de que se acabarem a água e a comida, logo encontraremos substitutos. Mas, não existem substitutos para as verdadeiras coisas que fazem a vida funcionar. A comida que dizem ter encontrado como substituta, por exemplo, é comida falsa, que está provocando grandes danos à nossa saúde. Além do mais, tudo que não podem produzir, roubam. Até ir às comunidades mais pobres para desviar sua água, vão.

Uma coisa é fato: o planeta não vai morrer. A terra é muito poderosa: viveu tempos mais quentes e tempos mais frios; viveu com dinossauros e sem dinossauros. E assim viverá: com seres humanos ou sem seres humanos. Somos dispensáveis. Ela encontrará um modo, como sempre encontrou. Somos nós que temos que proteger nosso lar. 

As mulheres têm uma importância crucial. O trabalho que não era considerado importante foi deixado para elas. Ir para a guerra e matar era considerado importante. Obter lucro às custas dos outros paises era considerado importante. Homens poderosos determinaram isso e encarregaram os homens não poderosos de fazer o trabalho sujo. As mulheres foram deixadas para as coisas reais: prover água, prover comida, cuidar da família. 

Os valores de que precisamos hoje são os valores do conhecimento de COMO VIVER COM A NATUREZA. E isso é conhecimento de mulheres! Precisamos de conhecimentos de como CUIDAR, isso é conhecimento! Chamamos hoje de Inteligência Emocional. Também precisamos de conhecimentos de como COMPARTILHAR. Essa é uma necessidade que teremos cada vez mais no futuro. Em uma época de privatização e de extração, as mulheres com seu cuidado e sua capacidade de compartilhar, serão as mestras de como SER humano no futuro.

Estamos vivendo as etapas finais de um sistema muito equivocado, que fez com que tudo que é caro para o planeta e para o produtor pareça barato para o consumidor. Então, a produção de custo muito elevado, com transgênicos, patentes, royalties e combustível fóssil se apresenta como coisa barata. Uma produção que custa muito, que mata as meninas em Bangladesh, por exemplo, em fábricas escravocratas, e se apresenta como roupa barata. Mas isso é um barato falso!

Então, como semear a esperança de um mundo possível nesse período de fim do mundo?
Cada jovem deve reconhecer que trabalhar com as MÃOS, com o CORAÇÃO e com a MENTE - que estão interconectados - é a evolução mais elevada da nossa espécie. Trabalhar com as nossas mãos não é degradante, é a nossa verdadeira humanidade! 

Faça um jardim, crie um pátio para brincar, um lugar onde também se cultiva a COMIDA. Proteja as sementes. Cozinhe! 

Cozinhar foi considerada uma atividade menos importante. Sua avó e sua mãe cozinhavam, e isso nem era considerado um trabalho, mas graças a elas você está alimentado. Comece a fazer aulas de culinária. Peça para suas avós te ensinarem a cozinhar. Crie uma comunidade. Não somos produtores e consumidores dispersos, fazemos parte da família da Terra, fazemos parte da família humana, fazemos parte de uma comunidade alimentar. 

A comida nos conecta. Tudo é comida!

E, por último, nunca tenha medo do poder falso, desonesto e cruel. Essa é a verdadeira liberdade!”


* estudiosa indiana, física, Ph.D. em filosofia, ecofeminista e ativista ambiental. É uma das líderes que compõem a diretoria do Fórum Internacional sobre Globalização e fundadora da Navdanya , ONG que promove a biodiversidade de sementes, as plantações orgânicas e os direitos de agricultores.

Nosso maior desafio é contra nossa própria estupidez! 
Que venham os novos tempos!!!


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

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