Você
já ouviu falar em uma coisa chamada “Curva da Felicidade”?
Uma
pesquisa realizada em 80 países, com mais de dois milhões de pessoas, descobriu
um padrão constante em relação à felicidade: que as pessoas mais jovens e as
pessoas mais velhas é que são as mais felizes. As que se sentem menos felizes
são aquelas que estão entre 40 e 50 anos. Os pesquisadores descobriram uma
curva da felicidade, que tem o mesmo formato da letra U: ela é maior no início
da vida, começa a diminuir ao longo dos anos, chegando ao seu ponto mais baixo
em torno dos 45 anos, e depois começa a subir novamente. Ou seja, eles
descobriram que as pessoas mais velhas - se tiverem boa saúde, estabilidade
financeira e afetiva - podem se sentir tão ou mais felizes quanto a mais
jovens.
A
antropóloga e escritora Mirian Goldenberg, uma das referências mais importantes no campo de estudos de gênero no
Brasil, encontrou essa mesma
curva da felicidade na sua pesquisa de mais de 30 anos com mulheres brasileiras.
Ela descobriu que aquelas que têm entre 40 e 50 anos são as que mais se sentem
infelizes, insatisfeitas, frustradas, deprimidas e exaustas. Entre as
reclamações principais estão: falta de tempo, falta de reconhecimento e falta
de liberdade. Quando foram questionadas sobre aquilo que mais invejavam nos
homens, respondiam em primeiríssimo lugar: LIBERDADE. A liberdade com o próprio
corpo, a liberdade sexual, a liberdade de rir e de brincar por qualquer bobagem
e tantas outras liberdades. Em relação ao que mais invejavam nas outras
mulheres estavam o corpo, a beleza, a juventude, a magreza e a sensualidade.
Veja
bem, o corpo invejado pelas mulheres brasileiras é jovem, magro e sensual.
Obviamente, isso não é nenhuma novidade. No Brasil, este modelo de corpo é um
verdadeiro capital. As mulheres brasileiras são as que mais fazem (no mundo) cirurgia plástica, preenchimento e botox. São também as que mais fazem uso de
tinturas pra cabelo, remédios para dormir e emagrecer, moderadores de apetite e
ansiolíticos. Somos nós, as mulheres brasileiras, as que estão mais
insatisfeitas com o próprio corpo. Somos nós as que mais deixam de sair de
casa, de ir a festas e até mesmo de trabalhar quando nos sentimos velhas,
gordas e feias. Ou seja, as brasileiras têm um verdadeiro pânico de
envelhecer. Essa crise parece que
encontra o seu ápice por volta dos 40 anos de idade, a chamada fase do
“nem-nem”: nem jovem e nem velha. Uma participante da pesquisa (45 anos) chegou
a dizer que se sentia uma mulher invisível ou transparente: sem saber que lugar
ocupar e com muito medo de parecer ridícula aos olhos dos outros.
Porém,
as coisas tendem a melhorar - e muito - depois dos 50 anos. Época em que a
curva da felicidade começa a subir novamente. As mulheres com mais de 60 anos
costumam definir este período como o melhor momento de suas vidas. Sentem-se
muito felizes, pois finalmente sentem que podem ser elas mesmas. Elas sentem-se
livres!
Mas
como será que elas conquistaram essa liberdade tão almejada?
Segundo
Mirian Goldenberg, em primeiro lugar, elas descobriram que o TEMPO é o
verdadeiro capital. As mulheres mais velhas não querem e não podem mais
desperdiçar o próprio tempo. As mais jovens, ao contrário, se preocupam demais
em querer agradar e cuidar de todo mundo, e acabam não tendo tempo para elas
mesmas. Quando amadurecem, há uma mudança de foco, e o tempo para cuidar de si passa a ser prioridade. No
entanto, para isso acontecer, essas mulheres tiveram que aprender algumas
coisas...
A
principal delas foi APRENDER A DIZER NÃO. Uma coisa que parece muito simples,
mas não é. Na verdade, aprender a dizer não é uma verdadeira revolução para as
mulheres, que desde muito cedo são ensinadas a serem muito solícitas e abnegadas, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para agradar aos demais. Além disso, elas também precisaram fazer uma verdadeira FAXINA
EXISTENCIAL. Não no sentido de se desfazer de roupas ou cacarecos que não
servem mais - isso também é importante, mas é o mais fácil. A faxina
existencial que precisaram fazer foi tirar da vida todas aquelas pessoas que só
faziam mal, só criticavam, só sugavam suas energias. Os chamados vampiros
emocionais. Elas também aprenderam uma outra coisa muito importante. Como a
própria Miriam Goldenberg disse: “elas aprenderam a ligar o botão do FODA-SE.
Não é que ficam dizendo foda-se para todo mundo. Não é isso. Elas são muito
elegantes”. O foda-se a que ela se
refere é, na verdade, uma atitude interna ou uma espécie de filosofia: é um não se preocupar, um não estar
nem aí para o que os outros possam pensar ou dizer a respeito delas. E isso, em se tratando de mulheres, tem um
efeito verdadeiramente libertador!
Outro
ponto bastante curioso sobre as mulheres que redescobriram a felicidade, é a importância da amizade.
Segundo elas, são as amigas que cuidam, escutam, conversam, levam ao médico e
que telefonam todos os dias para saber como elas estão. Elas falaram muito mais
das amigas do que dos maridos, filhos e netos. Quando perguntadas sobre quem
cuidaria delas na velhice, responderam em primeiro lugar “eu mesma”, e, em
segundo lugar, “minhas amigas”.
Por
fim, essas mulheres finalmente aprenderam a rir e a brincar muito mais. 60% das
mulheres mais jovens, que participaram da pesquisa, disseram que
invejavam a capacidade masculina de rir de brincar de qualquer bobagem. Quanto
perguntadas, então, porque não riam mais, a resposta era sempre “falta de
tempo” ou “muito medo do que os outros vão pensar”. Assim, quando mais velhas,
aprenderam a rir muito mais, especialmente rir de si mesmas!
Como
disse uma médica de 65 anos: “não sei porque eu demorei tanto tempo pra
descobrir uma coisa tão simples: que liberdade é a melhor rima pra felicidade!
Minha receita para uma vida feliz é: ter um projeto de vida, não me preocupar
com que os outros pensam, dizer não pra tudo o que eu não quero mais na minha
vida e curtir as minhas amigas. Como médica eu posso garantir: rir muito,
principalmente rir de si mesma, é sempre o melhor remédio!”.
Por
que será que demoramos tanto tempo para descobrir uma coisa tão simples?
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Fonte: GOLDENBERG, Mirian. A Bela Velhice. Rio de Janeiro: Record, 2013.
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