Para além do romantismo, o sentido de uma
relação amorosa é ser uma escola onde aprendemos sobre nós mesmos e sobre
nossas concepções de amor e liberdade. A relação afetiva produz inevitavelmente
uma série de situações que nos possibilitam conhecer e, portanto, remover
possíveis obstáculos que nos impedem de amar e se relacionar de forma
verdadeira com o outro.
Existem certas lições que nós só
conseguimos aprender através das relações amorosas, porque elas são
catalisadoras de todas as nossas feridas, de tudo aquilo que não está integrado
em nós. Todo nosso passado é reeditado nesse cenário para que possamos ter a
chance de integrá-lo, curando as feridas emocionais que ainda estão, de alguma
forma, interferindo no nosso sistema psíquico-emocional.
Por outro lado, embora o relacionamento
amoroso seja um poderoso instrumento de autoconhecimento, ele também pode nos
levar a uma espécie de sono. Nós podemos ficar presos em determinados padrões
destrutivos, repetindo seus roteiros e andando em círculos, deixando de
aprender e crescer.
Para que um relacionamento amoroso seja
considerado saudável e maduro, para que exista amor, é preciso que ele esteja
pautado na liberdade e no respeito à individualidade do outro. Isso implica na ausência de sentimentos de
poder, ciúmes e possessividade. Jung
costumava dizer que onde o poder predomina, há falta de amor, pois um é a
sombra do outro.
Uma relação amorosa madura deve pressupor
que o outro é uma pessoa livre, principalmente da necessidade de nos amar
eternamente. Essa compreensão é a prova final de qualquer relacionamento, pois
exige de nós um trabalho árduo em relação às nossas carências afetivas e
emocionais mais profundas. É só dessa forma que nós conseguiremos ser de fato
livres e deixar o outro livre.
Às vezes, ficamos tão cegos pelas nossas
carências, que não conseguimos perceber nossa necessidade de estar só, ou não
conseguimos perceber se nossas relações têm contribuído para o nosso
crescimento. Mas, quando uma relação se torna eminentemente destrutiva,
precisamos ter a coragem de olhar para isso de frente, encarar a verdade e o
medo que sentimos de ficar sozinhos. Precisamos, acima de tudo, ser honestos
com nós mesmos e com o outro.
Às vezes, também, mantemos um
relacionamento para poder ter onde projetar nossos sonhos de príncipes e
princesas encantadas. O outro passa a funcionar como uma tela na qual projetamos todos
os nossos ideais de perfeição. Porém, quando essa pessoa quer deixar de ser
essa tela, ou quando sentimos que nossas projeções não se sustentam mais,
costumamos terminar a relação. Então ficamos procurando ansiosamente outras
telas para poder continuar projetando nossos ideais, nossos sonhos. Outras
vezes, passamos a exigir que o outro se torne um escravo dos nossos desejos, como uma
prova do seu amor por nós. Mas
precisamos ter a consciência que isso não é amor. Isso é prisão, é estabelecer
uma relação de poder com o outro.
Precisamos sempre nos perguntar os motivos
que nos mantém em uma relação. Não devemos ter medo de sermos honestos. Se os
nossos relacionamentos são baseados no amor, na liberdade, no crescimento e no
aprendizado mútuos, sigamos em frente. Do contrário, tenhamos a coragem de
olhar para tudo o que nos mantém presos à essas relações, dando os passos
necessários para a nossa expansão e amadurecimento.
Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Ref: BABA, Sri Prem. Seu relacionamento amoroso tem feito você crescer? Disponível em https://www.sriprembaba.org/.../seu-relacionamento-amoroso-tem-feito-voce-crescer. JUNG, Carl Gustav. Presente e Futuro. Obras Completas. Vol. X. Petrópolis: Vozes, 1999.
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