Certa vez a jornalista Eliane Brum disse que nós vivemos em um mundo de “surdos sem deficiência auditiva”, já que a maioria das pessoas se preocupa mais em falar, do que escutar. E, o pior, se preocupam apenas em falar sobre si mesmas.
Se pararmos para analisar, muito daquilo que se diz em uma conversa, não precisaria realmente ter sido dito. Na verdade, procuramos preencher todos os espaços possíveis com uma torrente de palavras, na tentativa de fugir ou esconder o medo que temos do silêncio e, certamente, com a possibilidade de nos encontrarmos com o nosso mundo interior e com a realidade do outro que está ali na nossa frente.
Eliane fez uma listagem, bastante divertida até, dos cinco tipos básicos de surdos que ela detectou ao observar as pessoas em uma conversa. Eis aqui:
Tipo 1: aqueles que literalmente só falam. Emendam um assunto no outro e quase não respiram.
Tipo 2: aqueles que falam e falam e, de repente, percebem que deveriam perguntar alguma coisa a você, por educação. Perguntam. Mas quando você está abrindo a boca para responder, já enveredaram para mais algum aspecto sobre o único tema que conhecem: eles mesmos.
Tipo 3: aqueles que fingem ouvir o que você está dizendo. Você até consegue responder. Mas, quando coloca o primeiro ponto final, percebe que não escutaram uma palavra do que você disse. De imediato, eles retomam do ponto em que haviam parado. E não há nenhuma conexão entre o que você acabou de dizer e o que eles começaram a falar.
Tipo 4: aqueles que ouvem o que você diz, mas apenas para mostrar em seguida que já haviam pensado nisso ou que sabem mais do que você. (o que é só mais um jeito de não escutar).
E, por fim, o Tipo 5: aqueles que só ouvem o que você está dizendo para rapidamente reagir. Enquanto você fala, ficam em busca de argumentos para demolir os seus e vencer a discussão. A ideia é ganhar. Para eles, qualquer conversa é um jogo em que devem sair vitoriosos. E o outro, de preferência, massacrado. Só conhecem uma verdade, a sua. E não aprendem nada, por acreditarem que ninguém está à altura para lhes ensinar algo.
Esses são apenas alguns tipos que ela conseguiu encontrar, certamente deve haver outros por aí. Também podemos pensar em um mix das várias modalidades em uma mesma pessoa, ou até em nós mesmos. Será que já paramos para pensar sobre isso?
O fato é que nós vivemos em um mundo barulhento, povoado por faladores compulsivos. E um mundo assim é solitário, restrito e muito chato.
Façamos o nosso mea culpa!
Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
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