quinta-feira, 16 de agosto de 2018

OXUM, a Rainha do Amor

A partir do estudo das religiões, mitos,  contos de fada, fantasias, sonhos, ideias delirantes e ilusões dos indivíduos, Jung observou a presença de determinados temas que reaparecem sempre e por toda parte. Esses temas se manifestam através de imagens que nos impressionam, nos influenciam e nos fascinam. Essas imagens têm origem a partir daquilo que Jung chamou de arquétipos: formas pré-existentes e inconscientes que correspondem psiquicamente aos instintos.  Os arquétipos fazem parte da estrutura psíquica herdada, estão presentes no Inconsciente Coletivo da Humanidade, e condicionam a expressão e o desenvolvimento da psique de todos nós.


Dentre as mais variadas IMAGENS ARQUETÍPICAS DO FEMININO E DA GRANDE MÃE também encontramos...
OXUM, a Rainha do Amor!




Conta o mito que quando todos os orixás chegaram à Terra, organizaram reuniões onde as mulheres não eram admitidas. Oxum ficou tão aborrecida por ser posta de lado e não poder participar, que tornou as mulheres estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a resultados favoráveis. Desesperados, os orixás dirigiram-se a Olorum em busca de ajuda. Ele explicou aos deuses que sem a presença de Oxum, com seu poder sobre a fecundidade, nenhum empreendimento poderia dar certo. Então, os orixás convidaram Oxum a participar dos trabalhos, o que ela acabou aceitando depois de muita insistência. E a seguir, todas as mulheres tornaram-se novamente fecundas e todos os projetos dos orixás obtiveram bons resultados.

Na mitologia africana, OXUM é a deusa do Amor, está ligada à abundância e à fertilidade, propiciando a fecundidade a tudo que tem possibilidade de crescer. Rainha das águas doces e frescas, dos rios e das cachoeiras, distribui riquezas e rege com sabedoria o reino da fertilidade e das gestações. Como diz no mito, sem ela não é possível levar a cabo qualquer empreendimento. Oxum enaltece os atributos femininos, tem orgulho do poder fecundador das mulheres e da sua capacidade de gerar. É bela e cultiva a vaidade e a beleza como atributos do poder feminino. Um de seus símbolos é o espelho, no qual ela toma consciência da sua beleza. Ao percebe-la, compreende seu poder de sedução e sua utilidade. Por isso, além de usar o espelho como reflexo de sua beleza, Oxum também passa a usa-lo como escudo. O espelho, quando invertido, cega e paralisa os inimigos. O que significa que a beleza, como atributo feminino, pode ser usada com mais de um propósito: estar à serviço de Eros (o Amor) ou estar à serviço de sua sombra (o Poder), tornando-se uma arma sedutora que prende e cega.



Oxum representa o tipo de mulher que usa seus atributos femininos para conquistar os homens: a voz doce e suave, o sorriso e a alegria dengosa. É uma mulher que se mostra sensual, volúvel e inconstante. Está sempre atrás de coisas novas e imprevistas, sempre em busca de mudanças e transformações, ao mesmo tempo em que pode se mostrar calma e tranquila. Os homens geralmente caem vítimas da sua sedução, e ela faz o que quer através desse poder. Tem grande habilidade nas artes eróticas, fazendo um paralelo perfeito com a Afrodite da mitologia grega. Quando dança, expressa o prazer de ser sensual, bonita e desejada.

Oxum também é a protetora das mulheres gestantes e das crianças. Está ligada àquelas qualidades e dinamismos femininos que pertencem aos mistérios do nascimento e renascimento. Por isso, representa as qualidades femininas primordiais ligadas à origem da consciência, o feminino mais puro e natural. E, por ser assim, possui uma grande força energética instintiva, o domínio sobre si mesma, não admitindo ser controlada. A única submissão possível é à natureza e ao seu próprio poder.

Oxum está associada à natureza feminina instintiva, que se expressa em toda a sua espontaneidade e ausência de limites e de controle. É a feminilidade em si mesma, que não está sob o domínio ou a regência do masculino, do Logos ou do patriarcado. É como se ela fosse a vegetação, que se alastra em sua expansão natural. Assim é o principio feminino, que rege a si próprio, de acordo com a sua essência. É livre, não pode ser preso, enquadrado ou possuído. É a mulher dona de si mesma, orgulhosa de sua feminilidade, que não admite que a tomem como posse e que se orienta, essencialmente, por princípios internos e não por controle ou regras externas.

Quando o arquétipo representado por Oxum manifesta-se em nossas vidas, tanto no homem quanto na mulher, ele nos brinda com  os melhores atributos femininos, representados pela doçura do mel e pelo frescor de suas águas. Oxum é tranquilidade, leveza, criatividade, imaginação fecunda, alegria de viver, sensualidade,  sedução, espontaneidade, fertilidade, abundância, amabilidade e capacidade de gerar e desfrutar os prazeres da vida. 

ORA YÈYÉ O!!!






Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP O713831
Atende em Porto Alegre - RS



Ref.: CAVALCANTI, Raissa. O Casamento do Sol com a Lua. São Paulo: Circulo do Livro, 1990. JUNG, Carl Gustav Jung. Memórias, Sonhos, Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2OOO. MOURÃO, Hellen Reis. Oxum, a Afrodite afro-brasileira. Disponível no site Café com Jung: www.cafecomjung.com

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