A mãe possui um papel muito profundo na vida de todos nós.
Afinal, nós viemos dela e, em geral, fomos cuidados e sustentados por ela. Ela
estava lá desde o começo, onipresente, durante a fase mais importante da
formação da nossa personalidade. A mãe é imensa e necessária. Ela é o nosso
primeiro modelo de comportamento e de valores e também a primeira mediadora da
nossa relação com o mundo maior.
A mensagem que todos nós recebemos quando somos crianças,
de que o mundo é grande e poderoso e nós não, é reforçada ou abrandada na
medida em que internalizamos a experiência da mãe. A forma como a nossa mãe é,
também o nosso mundo é, e é por isso que muito da nossa vida é pré-programada.
No
entanto, esse frágil indivíduo que ganhamos de presente do destino é apenas a
portadora de uma energia muito maior. Ela é a portadora de uma imagem que
trazemos dentro de nós e que se encontra profundamente presente no inconsciente
coletivo da humanidade desde os seus primórdios. A nossa mãe pessoal apenas
transmite, molda ou reforça essa imagem. Todos nós somos influenciados por um
arquétipo, o arquétipo da Grande Mãe, que é anterior à nossa mãe pessoal e que
está ligada à herança coletiva da humanidade.
Os
arquétipos são como um código genético da psique e refletem as experiências
fundamentais e os padrões do nosso desenvolvimento psicológico. Eles já nascem
conosco. São universais e existem em todas as pessoas, de todas as civilizações
e culturas, em todos os períodos da História. Podemos citar como exemplo de experiências
arquetípicas o nascimento, a morte, o casamento, a puberdade, nossas
experiências de mãe e de pai, a gravidez, o envelhecimento, entre tantas outras,
etc. Experiências e situações comuns a todos nós e que são decorrentes da nossa
condição humana. Pré-disposições inatas que vão ser moldadas pela experiência
pessoal.
No Dia das Mães costumamos enaltecer as
características positivas desse arquétipo: a característica de gerar e
sustentar a vida, o cuidado, a solicitude, a bondade, a sabedoria intuitiva, a
compreensão, a proteção e a proximidade com o Sagrado. Mas, como todos os
arquétipos, o da Grande Mãe também possui um lado negativo, muito bem
representado pelas Bruxas dos contos de fadas, como João e Maria, Branca de
Neve, Cinderela e Bela Adormecida. Todos eles narram a relação mãe e filho, uma
relação que também pode nos levar a vivenciar dificuldades, abandonos,
sofrimentos e morte.
O arquétipo da Mãe, ou da Grande Mãe, pode
ser entendido como a própria vida ou como a experiência que temos sendo filhos
da Terra. Nesse sentido, ela é tanto a fonte da vida quanto da morte. A mesma
Grande Mãe que nos dá a vida, nos transporta em direção à extinção e à
destruição. Tudo isso a serviço de um grande mistério que talvez jamais
conseguiremos desvendar.
Sendo
assim, a maior parte das influências que a literatura psicológica descreve como
sendo exercidas sobre a criança, na verdade, não vem da mãe, mas desse
arquétipo que projetamos sobre ela e que acaba por lhe conferir muito poder. As
características da nossa mãe pessoal, como eu falei antes, vão apenas abrandar
ou reforçar algo que, na verdade, está presente dentro de nós desde o começo.
Uma
das principais tarefas de qualquer terapia ou processo de autoconhecimento e
amadurecimento é identificar e curar a tirania dessa imagem que internalizamos
na nossa infância. A pessoa que não transforma isso dentro de si mesma acaba
por desempenhar essa imagem em todos os lugares e, principalmente, transmite
esses mesmos padrões para os seus filhos e para as demais relações que
estabelece. Fica eternamente preso à roda da repetição, sem descanso ou
transformação.
Cada filho traz consigo uma mãe. Cada um de nós deve
reconhecer de que forma esta imagem influenciou e continua influenciando a
nossa história. Não é uma tarefa fácil, mas crescer e amadurecer requer olhar
para isso, requer curar as feridas emocionais da nossa infância, humanizar e
perdoar a nossa mãe pessoal, reconhecer a nossa parcela de responsabilidade
pelos problemas e fazer as pazes com a nossa própria história, com a nossa
própria vida – nossa Grande Mãe.
Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Atende em Porto Alegre/RS
Fonte: HOLLIS, James: Mitologemas, encarnações
do mundo invisível. São Paulo: Paulus, 2005.
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ResponderExcluir" Jane Mãe dos Chimpanzés."