quinta-feira, 6 de setembro de 2018

MEDUSA E PERSEU: um breve ensaio sobre a psicologia e superação do trauma




As Górgonas na Mitologia Grega eram três irmãs-monstros com a cabeça rodeada de serpentes venenosas enfurecidas, presas de javali saindo dos lábios, mãos de bronze e asas de ouro. A mais famosa delas é Medusa, a única das três que era mortal. Quem se atrevesse a olhar diretamente para os seus olhos, era petrificado.
As Górgonas eram as três irmãs-monstros: Medusa, Esteno e Euríale
Há diversas versões do mito. Uma delas conta que Medusa foi uma mulher deslumbrante, que despertava o desejo de todos os homens da Grécia e a inveja de todas as mulheres. Ela não podia se casar, pois era sacerdotisa de Atena (deusa da guerra) cujas servas deveriam permanecer virgens e longe dos desejos masculinos. No entanto, Poseidon (deus dos mares), enlouquecido pelo desejo, violentou a sacerdotisa dentro do templo de Atena, engravidando-a. Esta, ao saber do ocorrido, volta sua ira contra Medusa, jogando uma maldição sobre a sacerdotisa transformando-a em um monstro horripilante.

O castigo foi além da mudança em sua aparência, pois também passou a petrificar as pessoas com o seu olhar, além de tornar-se alvo para os guerreiros, já que Atena passou a oferecer incríveis recompensas para aquele que lhe trouxesse sua cabeça a fim de transforma-la em uma poderosa arma de batalha. O único herói que conseguiu derrota-la foi Perseu, que com sandálias aladas, um elmo de invisibilidade, uma espada e um escudo espelhado (objetos que recebeu como ajuda de Atena, Hermes e Hades) conseguiu decepar sua cabeça sem ser visto, olhando apenas para o reflexo de Medusa no escudo, evitando assim ser transformado em pedra.

Medusa pode ser entendida, portanto, como símbolo de um complexo emocional que tem suas origens a partir de uma experiência traumática. O trauma é como uma camisa de força interna, criada quando um momento devastador é congelado no tempo, petrificando, tirando a vitalidade, a espontaneidade e qualquer possibilidade de desenvolvimento na vida do indivíduo. Em função do trauma, a necessidade de crescer e evoluir fica estagnada, paralisada. A energia vital disponível fica presa no complexo e não pode fluir.

Medusa, obra de Bernini no Museu Capitolinos em Roma

O ato heroico de Perseu, por sua vez, nos mostra que quando resolvemos tratar um trauma nunca devemos ir logo de frente a ele, mergulhar de cabeça, sob o risco de sermos “petrificados”, ou seja, fortalecer ou recriar o trauma. É preciso ir devagar, de forma indireta como Perseu fez, através dos reflexos desse trauma na formação das nossas respostas instintivas, resgatando pouco a pouco os pedacinhos do trauma, até que o Ego sinta-se fortalecido, com tempo e condições de integrar a experiência, liberando a energia presa no complexo e direcionando-a a favor da vida.

Na Alquimia, há a expressão “petra genetrix” que significa “fora da pedra uma criança nasce”. Ou seja, quando a energia presa e congelada no complexo é liberada, uma vida nova pode nascer!




Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS





Ref.: CANOVAS, Vera. Perseu e Medusa, um estudo psicológico do trauma. Disponível em www.veracanovas.com.br/perseu-e-a-medusa-um-estudo-psicologico-do-trauma. CHEERBRANT & CHEVALIER. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001. HILLMAN. James. Puer Aeternus. Adelphi ebooks. Disponivel em https://books.google.com. WIKIPEDIA. Medusa, monstro da mitologia grega. Disponível em  https://pt.wikipedia.org

Nenhum comentário:

Postar um comentário