
As Górgonas na Mitologia Grega eram três
irmãs-monstros com a cabeça rodeada de serpentes venenosas enfurecidas, presas
de javali saindo dos lábios, mãos de bronze e asas de ouro. A mais famosa delas
é Medusa, a única das três que era mortal. Quem se atrevesse a olhar
diretamente para os seus olhos, era petrificado.
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As Górgonas eram as três irmãs-monstros: Medusa, Esteno e Euríale |
Há diversas versões do mito. Uma delas conta que
Medusa foi uma mulher deslumbrante, que despertava o desejo de todos os homens
da Grécia e a inveja de todas as mulheres. Ela não podia se casar, pois era
sacerdotisa de Atena (deusa da guerra) cujas servas deveriam permanecer virgens
e longe dos desejos masculinos. No entanto, Poseidon (deus dos mares),
enlouquecido pelo desejo, violentou a sacerdotisa dentro do templo de Atena,
engravidando-a. Esta, ao saber do ocorrido, volta sua ira contra Medusa,
jogando uma maldição sobre a sacerdotisa transformando-a em um monstro
horripilante.
O castigo foi além da mudança em sua aparência,
pois também passou a petrificar as pessoas com o seu olhar, além de tornar-se
alvo para os guerreiros, já que Atena passou a oferecer incríveis recompensas
para aquele que lhe trouxesse sua cabeça a fim de transforma-la em uma poderosa
arma de batalha. O único herói que conseguiu derrota-la foi Perseu, que com
sandálias aladas, um elmo de invisibilidade, uma espada e um escudo espelhado
(objetos que recebeu como ajuda de Atena, Hermes e Hades) conseguiu decepar sua
cabeça sem ser visto, olhando apenas para o reflexo de Medusa no escudo,
evitando assim ser transformado em pedra.
Medusa pode ser entendida, portanto, como símbolo
de um complexo emocional que tem suas origens a partir de uma experiência
traumática. O trauma é como uma camisa de força interna, criada quando um
momento devastador é congelado no tempo, petrificando, tirando a vitalidade, a
espontaneidade e qualquer possibilidade de desenvolvimento na vida do
indivíduo. Em função do trauma, a necessidade de crescer e evoluir fica
estagnada, paralisada. A energia vital disponível fica presa no complexo e não
pode fluir.
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Medusa, obra de Bernini no Museu Capitolinos em Roma |
O ato heroico de Perseu, por sua vez, nos mostra
que quando resolvemos tratar um trauma nunca devemos ir logo de frente a ele,
mergulhar de cabeça, sob o risco de sermos “petrificados”, ou seja, fortalecer
ou recriar o trauma. É preciso ir devagar, de forma indireta como Perseu fez,
através dos reflexos desse trauma na formação das nossas respostas instintivas,
resgatando pouco a pouco os pedacinhos do trauma, até que o Ego sinta-se fortalecido, com tempo e condições de integrar a experiência, liberando a
energia presa no complexo e direcionando-a a favor da vida.
Na Alquimia, há a expressão “petra genetrix” que
significa “fora da pedra uma criança nasce”. Ou seja, quando a energia presa e
congelada no complexo é liberada, uma vida nova pode nascer!
Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Ref.: CANOVAS, Vera. Perseu e Medusa, um estudo
psicológico do trauma. Disponível em www.veracanovas.com.br/perseu-e-a-medusa-um-estudo-psicologico-do-trauma.
CHEERBRANT & CHEVALIER. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2001. HILLMAN. James. Puer Aeternus. Adelphi ebooks. Disponivel em https://books.google.com.
WIKIPEDIA. Medusa, monstro da mitologia grega. Disponível em https://pt.wikipedia.org
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