Os complexos são imagens ou
idéias carregadas de emoção, presentes no nosso inconsciente, que se formaram a
partir de experiências emocionais significativas que tivemos na nossa vida.
Toda vez que uma determinada experiência toca em algum complexo, eles invadem a
nossa consciência nos fazendo agir de forma desproporcional ao fato em si,
prejudicando a nossa adaptação criativa às situações. O que os torna nocivos ou prejudiciais é
quando nos tornamos cegos diante deles e passamos a agir sem a devida
consciência dos nossos atos.
Para Jung, um
dos complexos mais presentes é o complexo de poder, que aparece na forma como
lidamos com o dinheiro, reconhecimento e as relações interpessoais. Este
complexo nos leva a pensar e agir unicamente em nosso próprio benefício,
sujeitando tudo à nossa vontade. Nos
sentimos o poder em pessoa, e passamos a agir assim em relação a tudo e a
todos. O dinheiro, as posses e o consumo surgem como um meio de satisfação de
nossos desejos e alimentam a idéia de superioridade característica.
O complexo de poder é bastante
alimentado pela visão de mundo do homem moderno. Como diz Mia Couto, poeta e
escritor Moçambicano, “Somos uma sociedade obcecada pelo poder. Tudo tem uma
leitura política, o mais pequeno detalhe é uma definição de hierarquias. Quem
chega primeiro à reunião, onde se senta, quem não comparece, com que carro
chegou, quem se faz acompanhar, tudo isso são sinais de poder”. Colocamos a razão, o pensamento e os valores do ego acima de
todas as coisas e, por negarmos os mistérios inerentes à vida e à natureza,
buscamos no materialismo e no consumismo uma forma de suprir nosso vazio
existencial e nossas inseguranças.
Surgem como conseqüência o
individualismo e o narcisismo. A incapacidade de se preservar as relações
humanas, a falta de interesse pelo próximo e a exaltação do dinheiro, fruto da
necessidade imperiosa por poder e superioridade, impedem a prática do altruísmo
e da solidariedade humana. Como o poder está voltado unilateralmente para nós
mesmos, deixamos de reconhecer no outro aquilo que ele tem de único e
particular. Desse modo, o poder promove relações baseadas, sobretudo, na
dominação, já que o envolvimento afetivo genuíno e criativo com o outro é
rechaçado pelo desejo de poder.
Podemos tomar como exemplo da manifestação desse complexo
a história de Fausto. Fausto é um personagem inspirado na vida do nebuloso Dr.
Faust, que teria vivido na Alemanha no século XV, e que inspirou inúmeras
obras. Foi escrito por Goethe (1749-1832) numa época em que o capitalismo ainda
estava em seu estágio inicial. Fausto era uma pessoa dotada de vasto
conhecimento e erudição, mas era incapaz de suprir um sentimento de vazio que o
atormentava. Foi quando o diabo, na figura de Mefistófoles, lhe propôs que
vendesse sua alma em troca de poder, prazeres e riqueza. Fausto consentiu e foi
tomado por um ímpeto por progresso e desenvolvimento, que deveriam ser
alcançados a todo custo. Um de seus últimos projetos foi o desejo de represar o
mar e se apossar da força de suas ondas, cujo incessante movimento parecia-lhe
um desperdício de energia. Antes que esse ambicioso projeto estivesse
terminado, Fausto fica cego e morre ao som ininterrupto de máquinas e
engrenagens que cavavam sua sepultura.
![]() |
Fausto e Mefistófoles |
O que aconteceu com Fausto acontece com todos nós, filhos
dessa sociedade dita moderna, que no afã de ganharmos e consumirmos cada vez
mais fechamos os olhos para nós mesmos e para tudo aquilo que está ao nosso redor. Cegos como Fausto, buscamos aliviar ou
fugir de nossas aflições interiores através de satisfações e prazeres mundanos. Por isso, podemos considerar que Mefistófoles foi a manifestação
de um poderoso complexo de poder que se apossou da personalidade de Fausto,
levando-o a agir sem que ele tomasse consciência dos seus atos. Como Jung
dizia, os complexos são também os nossos demônios interiores.
Portanto, por trás da busca desenfreada por fortuna e
poder, onde somos levados a acreditar que somos tudo aquilo que o dinheiro pode
comprar, está a ignorância da nossa própria sombra, uma cegueira ou
inconsciência em relação aos nossos próprios complexos, que no caso da vontade
de poder, escondem uma fraqueza interior, um vazio existencial e o medo de
não sermos capazes.
Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Fonte: Yabuschita, Fábio Massao. The Dark Side of The Moon, a obra-prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana. Editora Dracaena.
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Fonte: Yabuschita, Fábio Massao. The Dark Side of The Moon, a obra-prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana. Editora Dracaena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário