sábado, 2 de julho de 2016

Somos todos complexados





O termo “complexo” foi incorporado ao vocabulário comum. Muitos de nós com certeza já nos referimos a alguém ou a nós mesmos como “eu sou complexado” ou “fulano (ou fulana) é complexado”, mas poucos sabem exatamente o que isso significa. A teoria dos complexos foi desenvolvida por Jung a partir de suas experiências com os pacientes na associação de palavras, onde ele percebeu que as pessoas reagem de modo peculiar diante de determinadas palavras estímulo.

O complexo é, na verdade, a imagem de uma determinada situação psicológica extremamente carregada emocionalmente e que é incompatível com a atitude habitual da nossa consciência. É como se fosse uma espécie de personalidade autônoma que existe dentro de nós e que não conhecemos. Por isso, os complexos estão relacionados com a nossa sombra, ou seja, com os aspectos obscuros e desconhecidos dentro de nós. E, por isso, é que eles são capazes de interferir na nossa consciência e provocar reações emocionais que nos fazem perder a capacidade de ver com clareza o que de fato está acontecendo. Quando somos invadidos por algum complexo, perdemos o controle da situação e somos tomados por pensamentos e atitudes com forte carga emocional que se impõem sobre nossa vontade, interferindo na nossa capacidade de reflexão e decisão. Nossas reações são muito mais fruto do complexo ativado do que da situação que está ali diante de nós.

É o que acontece, por exemplo, quando uma pessoa com complexo de rejeição sente que não estão lhe dando a devida atenção. Mesmo que isso não corresponda ao fato em si, ela assim o interpreta, e reage, inclusive através de sintomas físicos, como choro ou mal-estar, por ter sido desprezada injustamente. A pessoa foi colocada diante de uma situação que por algum motivo acionou o tal complexo, desencadeando as suas reações emocionais características.

Não existe um número fechado de complexos sobre os quais poderíamos falar, porém existem aqueles que, pela sua aparição mais freqüente, são mais fáceis de serem visualizados e analisados, como o complexo materno, o complexo paterno, o complexo de poder, o complexo de inferioridade ou superioridade, o complexo de culpa, entre outros. Todos eles têm uma imagem central em torno da qual se agrupam pensamentos, sentimentos, emoções, sensações, experiências e memórias. Eles são como nós de energia que movimentam toda nossa vida psíquica.

Nossos complexos podem ter duas origens distintas. Podem se originar através de uma situação traumática, principalmente quando ocorreu na infância. Ou se originar ao longo de uma sucessão de eventos correspondentes que nos levam a formar, de forma inconsciente, uma ideia coesa a partir de determinadas experiências que fomos vivendo. A imagem formadora do complexo irá interferir na nossa consciência sempre que o contexto permitir, nos fazendo agir de forma peculiar e emocionalmente intensa, de acordo com o complexo ativado.

Nesses casos, o nosso ego sofre algo como um lapso momentâneo, muito próximo daquilo que os povos primitivos chamavam de possessão. Nós literalmente somos possuídos pelo complexo, que assume a direção nos levando a agir de forma descontrolada e desproporcional ao que seria considerado sensato naquela situação. Nesse sentido, Jung sempre dizia que não somos nós que temos um complexo, ao contrário, é ele que nos têm. Então, depois da ocorrência do complexo, ele retorna ao inconsciente e nós voltamos a nos recompor, sem, no entanto, encontrarmos uma explicação satisfatória para o que aconteceu. Muito provavelmente, ele passará a nos possuir, sempre que uma situação similar acontecer.

Apesar de suas consequências, não é possível vivermos sem os complexos. Eles fazem parte da nossa vida psíquica, da nossa anatomia mental. O que os torna nocivos ou prejudiciais é quando nos tornamos cegos diante deles e passamos a agir sem a devida consciência dos nossos atos. Na verdade, eles são nossos grandes aliados, pois são o caminho que nos permitem chegar ao nosso inconsciente, possibilitando o nosso desenvolvimento e crescimento emocional. A única forma de superar nossos complexos é vive-los intensamente e compreender o papel que eles exercem nos nossos padrões de comportamento e reações emocionais. Depois, é preciso um esforço consciente no sentido de darmos respostas diferentes para as mesmas situações.

Quer fazer um teste? Pare e pense: existe algo desagradável em sua vida que insiste em se reproduzir? Pois eis aí um complexo e também uma grande oportunidade de transformação que se apresenta a você.


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS



3 comentários:

  1. Obrigada, Melissa....uma explicação que clareou aqui!

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  2. Mel, suas palavras conversam com a gente de forma tão clara! Eu não conhecia esse tema e sou muito grata pelos seus ensinamentos. Parabéns pelo texto!
    Um beijo!

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