O termo
“complexo” foi incorporado ao vocabulário comum. Muitos de nós com
certeza já nos referimos a alguém ou a nós mesmos como “eu sou complexado” ou
“fulano (ou fulana) é complexado”, mas poucos sabem exatamente o que isso
significa. A teoria dos complexos foi desenvolvida por Jung a partir de suas
experiências com os pacientes na associação de palavras, onde ele percebeu que
as pessoas reagem de modo peculiar diante de determinadas palavras estímulo.
O complexo é, na
verdade, a imagem de uma determinada situação psicológica extremamente
carregada emocionalmente e que é incompatível com a atitude habitual da nossa
consciência. É como se fosse uma espécie de personalidade autônoma que existe
dentro de nós e que não conhecemos. Por isso, os complexos estão relacionados
com a nossa sombra, ou seja, com os aspectos obscuros e desconhecidos dentro de
nós. E, por isso, é que eles são capazes de interferir na nossa consciência e
provocar reações emocionais que nos fazem perder a capacidade de ver com
clareza o que de fato está acontecendo. Quando somos invadidos por algum
complexo, perdemos o controle da situação e somos tomados por pensamentos e
atitudes com forte carga emocional que se impõem sobre nossa vontade, interferindo
na nossa capacidade de reflexão e decisão. Nossas reações são muito mais fruto
do complexo ativado do que da situação que está ali diante de nós.
É o que acontece,
por exemplo, quando uma pessoa com complexo de rejeição sente que não estão lhe
dando a devida atenção. Mesmo que isso não corresponda ao fato em si, ela assim
o interpreta, e reage, inclusive através de sintomas físicos, como choro ou
mal-estar, por ter sido desprezada injustamente. A pessoa foi colocada diante
de uma situação que por algum motivo acionou o tal complexo, desencadeando as
suas reações emocionais características.
Não existe um
número fechado de complexos sobre os quais poderíamos falar, porém existem
aqueles que, pela sua aparição mais freqüente, são mais fáceis de serem
visualizados e analisados, como o complexo materno, o complexo paterno, o
complexo de poder, o complexo de inferioridade ou superioridade, o complexo de
culpa, entre outros. Todos eles têm uma imagem central em torno da qual se
agrupam pensamentos, sentimentos, emoções, sensações, experiências e memórias.
Eles são como nós de energia que movimentam toda nossa vida psíquica.
Nossos complexos podem ter duas origens distintas. Podem se originar através de
uma situação traumática, principalmente quando ocorreu na infância. Ou se
originar ao longo de uma sucessão de eventos correspondentes que nos levam a
formar, de forma inconsciente, uma ideia coesa a partir de determinadas
experiências que fomos vivendo. A imagem formadora do complexo irá interferir
na nossa consciência sempre que o contexto permitir, nos fazendo agir de forma
peculiar e emocionalmente intensa, de acordo com o complexo ativado.
Nesses casos, o
nosso ego sofre algo como um lapso momentâneo, muito próximo daquilo que os
povos primitivos chamavam de possessão. Nós literalmente somos possuídos pelo
complexo, que assume a direção nos levando a agir de forma descontrolada e
desproporcional ao que seria considerado sensato naquela situação. Nesse
sentido, Jung sempre dizia que não somos nós que temos um complexo, ao
contrário, é ele que nos têm. Então, depois da ocorrência do complexo, ele
retorna ao inconsciente e nós voltamos a nos recompor, sem, no entanto,
encontrarmos uma explicação satisfatória para o que aconteceu. Muito provavelmente,
ele passará a nos possuir, sempre que uma situação similar acontecer.
Apesar de suas
consequências, não é possível vivermos sem os complexos. Eles fazem parte da
nossa vida psíquica, da nossa anatomia mental. O que os torna nocivos ou
prejudiciais é quando nos tornamos cegos diante deles e passamos a agir sem a
devida consciência dos nossos atos. Na verdade, eles são nossos grandes
aliados, pois são o caminho que nos permitem chegar ao nosso inconsciente,
possibilitando o nosso desenvolvimento e crescimento emocional. A única forma
de superar nossos complexos é vive-los intensamente e compreender o papel que
eles exercem nos nossos padrões de comportamento e reações emocionais. Depois,
é preciso um esforço consciente no sentido de darmos respostas
diferentes para as mesmas situações.
Quer fazer um
teste? Pare e pense: existe algo desagradável em sua vida que insiste em se
reproduzir? Pois eis aí um complexo e também uma grande oportunidade de
transformação que se apresenta a você.
Por Melissa
Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Obrigada, Melissa....uma explicação que clareou aqui!
ResponderExcluirMaravilha Mirian! Um grande abraço pra ti!
ExcluirMel, suas palavras conversam com a gente de forma tão clara! Eu não conhecia esse tema e sou muito grata pelos seus ensinamentos. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirUm beijo!