Sonhar
é uma experiência humana universal, natural e necessária para o nosso
desenvolvimento e equilíbrio psicológico.
Todos nós gastamos em média seis anos da nossa vida sonhando. Enquanto a maioria de
nós ignora e despreza o assunto dos sonhos, nos tempos antigos eles eram
vistos como extremamente importantes, faziam parte da vida de homens e mulheres
sábios e eram vistos como a manifestação mais óbvia da realidade do mundo
espiritual.
Em função da ênfase no racionalismo e no materialismo,
uma característica da modernidade, nós perdemos contato com as fontes da nossa
vida espiritual. Nossa cultura se empobreceu e um abismo profundo surgiu entre
a nossa vida consciente e a realidade de nossas almas. Apesar de todo bem estar
material, estamos culturalmente e emocionalmente carentes. Nos sentimos
perdidos e separados da nossa vida interior. E é claro que, a partir dessa
perspectiva, os sonhos não fazem sentido algum.
No entanto, essa situação vem mudando. Desde o
final do séc. XX, o interesse dos estudiosos e pesquisadores na realidade dos
sonhos vem crescendo e vem sendo vista como uma possibilidade válida no estudo
e investigação da alma humana. O psiquiatra suíço Carl G. Jung foi um pioneiro
nesse sentido. Ele descobriu que os sonhos procuram regular e equilibrar as
nossas energias físicas e mentais. Eles não apenas revelam a causa básica da
nossa desarmonia interior e da angústia emocional, como também indicam o
potencial de vida que há em nós, além de nos apresentarem soluções criativas
para os nossos problemas diários. Jung descobriu que, enquanto dormem, através
dos sonhos, as pessoas despertam para aquilo que realmente são.
Os sonhos, na verdade, são a manifestação mais
direta do nosso inconsciente, ou do nosso mundo interior. Eles seriam como que
a expressão dos pensamentos do nosso inconsciente. No entanto, esses
pensamentos não se assemelham aos da consciência. Nossa consciência pensa
através das palavras, da análise racional e lógica, de conceitos e idéias. Ao
passo que o inconsciente pensa através de imagens, metáforas e símbolos, numa
linguagem intimamente associada à da arte. A linguagem dos sonhos é a linguagem
do “como se” ou de semelhança. O inconsciente utiliza-se de algo que nos é
conhecido e familiar para representar algo que nos é desconhecido e
não-familiar e, assim, nos colocar em contato com a realidade mais profunda de
nossas almas.
A chave para a compreensão dos sonhos, portanto, é
o conhecimento dos símbolos. Essa tarefa não é assim tão simples e requer
estudo, dedicação e certa habilidade profissional. Além do mais, a maioria dos
nossos sonhos não são tão óbvios. Eles costumam tocar o nosso ponto cego,
aquilo que não conseguimos enxergar. Eles nunca nos dizem o que já sabemos, mas
o que não sabemos. E é por essa razão que não se deve interpretar os próprios
sonhos, pois nossa tendência é sempre projetar no sonho aquilo que já sabemos.
Entretanto, algumas regras básicas e aspectos gerais podem ser transmitidos, no
intuito de ajudar às pessoas a conhecerem e a estabelecerem uma comunicação com
esse universo. Muitas vezes, em meio a sonhos completamente ininteligíveis,
aparecem sonhos simples que qualquer um pode entender de imediato.
No próximo texto, vou abordar de forma mais específica os
tipos de sonhos, seus elementos, algumas regras e aspectos gerais para
interpretação. Mas, se você já quiser começar a se relacionar com os seus
sonhos, a primeira coisa que deve fazer é passa-los para o papel. Isso funciona
como um contrato com o inconsciente, além de ajudar a fixa-los na memória. O
simples hábito de registrar os sonhos já traz uma sutil e significativa mudança
à nossa consciência, ainda que não a entendamos. Depois, é importante nos
tornarmos como que “amigo” dos sonhos. Olhar para a história do sonho,
explora-la, rumina-la, refletir sobre ela, sobre os sentimentos, pensamentos e
sensações que nos despertam, sobre as figuras presentes e, acima de tudo,
tentar responder às seguintes perguntas: “Por que será que tive esse sonho?” e
“Como esse sonho se relaciona com a minha situação de vida atual?”. Você também
pode pinta-los, desenha-los e conta-los para outras pessoas de sua confiança. O
importante é relacionar-se com eles e considera-los como uma parte comum e
significativa da vida cotidiana.
Enfim, recordar e se relacionar com os próprios
sonhos é como capturar peixes e possuir um pouco da vida do mar do
inconsciente. É tempo de tentarmos nos reorientar, olhar um pouco mais para
dentro de nós mesmos e descobrirmos as riquezas que estão aí escondidas. Como
diz Cathy, a heroína do romance O Morro dos Ventos Uivantes,
“Meus sonhos parece que ficaram sempre comigo e mudaram minhas idéias;
misturam-se comigo como água e vinho e mudaram a cor do meu espírito.” É o que
os sonhos fazem. Mudam a cor do nosso espírito. O colorido da nossa
consciência se modifica gradual e sutilmente e acrescenta uma nova dimensão à nossa vida.
Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Fontes: HALL, James A. Jung e a Interpretação dos Sonhos: manual de teoria e prática. São Paulo: Cultrix, 2007. SANFORD, John A. Os Sonhos e A Cura da Alma. São Paulo: Edições Paulinas, 1988. BOA, Fraser, VON FRANZ, Marie Louise. O Caminho dos Sonhos. São Paulo: Cultrix, 2007.
Atende em Porto Alegre/RS
Fontes: HALL, James A. Jung e a Interpretação dos Sonhos: manual de teoria e prática. São Paulo: Cultrix, 2007. SANFORD, John A. Os Sonhos e A Cura da Alma. São Paulo: Edições Paulinas, 1988. BOA, Fraser, VON FRANZ, Marie Louise. O Caminho dos Sonhos. São Paulo: Cultrix, 2007.
Muito bons os seus textos...bem escritos,com sensibilidade, profundidade e leveza, tratam de assuntos que vão na essência das coisas. Gratidão!
ResponderExcluirMuito obrigada, de coração, Rosa!!!
ExcluirAdorei os textos! Parabéns! Um abraço! Luciana Derenze
ResponderExcluirAh, que legal! Obrigada Luciana! Um abração pra ti.
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