Os sonhos nascem de uma extensa parte de nós mesmos
que é psíquica e que não se identifica com a nossa consciência. Por isso é
chamada de inconsciente. O inconsciente possui uma linguagem própria, ele se
expressa através de imagens, metáforas e símbolos. É como se fosse uma língua
estrangeira. Se quisermos aprender, teremos que dedicar nosso tempo para essa
aprendizagem, afim de que possamos entender o novo vocabulário e sua “estrutura
gramatical”. Na verdade, não são os sonhos que são obscuros, mas nossa
compreensão dos mesmos. Eles se tornam claros, na medida em que aprendemos a
sua linguagem.
Existem diferentes tipos de sonhos, e cada um é
diferente em qualidade e intensidade. Muitos sonhos são “comuns”, apenas
refletem e comentam os acontecimentos da vida diária. Separam os acontecimentos
do dia anterior ou nos preparam para o dia seguinte. Outros refletem a nossa
história de vida, trabalham uma ferida antiga, algum evento traumático ou
procuram integrar o passado, relembrando-o e dando-lhe um sentido. Outros,
porém, são de difícil compreensão, mesmo quando levamos em conta tudo o que se
passou ou que se passa na nossa vida. São os sonhos provenientes do
inconsciente coletivo e, por isso, são chamados de sonhos “arquetípicos”. Esse tipo
de sonho é tão carregado de energia e simbolismo, que somos obrigados a
prestar-lhes atenção. Eles transcendem a nossa experiência individual e nos
tocam profundamente. Para compreende-los é preciso ter conhecimento técnico,
pois os símbolos que aparecem nesses sonhos são de certa forma desconhecidos e
encontram paralelos nas histórias mitológicas, contos de fada e simbolismo
religioso. São, por exemplo, aqueles sonhos com catástrofes naturais, seres
desconhecidos, extraterrestres e animais esquisitos. Esses sonhos podem
acontecer em momentos críticos da nossa vida, nos chamando atenção para um
desenvolvimento maior a ser atingido pela nossa personalidade. E há também os
sonhos em que recebemos informações de coisas que ainda não aconteceram ou que
nos põem em contato com algo que acontece com uma pessoa que está distante.
Esses sonhos parecem ter por objetivo preparar-nos para alguma ação de
importância crucial ou vital. Às vezes, os sonhos também podem estar
relacionados com o nosso estado de saúde física.
Como os sonhos revelam a nossa mente inconsciente,
as figuras que a aparecem nos mesmos personificam algum aspecto da nossa
personalidade global. As pessoas do mesmo sexo do sonhador personificam a sua sombra.
A sombra representa aqueles aspectos ou qualidades que nos pertencem, mas que
rejeitamos ou não reconhecemos em nós e que, por isso, precisam ser integrados.
Por outro lado, as figuras do sexo oposto ao do sonhador representam aquilo que
Jung denominou de anima e animus, que são respectivamente as
personificações das qualidades femininas no homem e a personificação das qualidades masculinas na mulher. Essas figuras trazem complicações significativas para o relacionamento
entre os sexos e têm um importância crucial para o nosso desenvolvimento, pois
somente quando entendidas de forma correta é que temos acesso as camadas
mais profundas do nosso inconsciente. Os sonhos nos convidam a tomarmos
consciência de todas essas figuras e a encontrar a maneira pela qual a vida
contida nelas se expresse adequadamente.
Como um drama, o sonho possui muitas vezes cena de
abertura, desenvolvimento e conclusão. A cena de abertura do sonho expõe o
problema ou a situação a respeito da qual o sonho vai tratar e, para
compreender o sonho é bom prestar especial atenção ao modo como o sonho começa,
porque esse início prepara o palco para tudo o que se segue. Depois
desenrola-se a ação, na qual a situação de abertura do sonho se transforma em
história. Geralmente, à medida que o sonho se desenrola, algum dilema é
apresentado. Na conclusão do sonho está a solução ou a pista para a solução. É
o desatar do nó, a sugestão que o inconsciente nos oferece de como proceder para
resolver a dificuldade. O final do sonho é muito importante, pois contém o
aspecto que deve ser conscientizado.
Porém, nem todos os sonhos nos oferecem uma
solução. Um exemplo claro são os pesadelos. Num pesadelo, a situação que produz
tensão se desenvolve e cria cada vez mais ansiedade, chegando ao ponto de
despertarmos aterrorizados. Uma das razões do pesadelo é o de não encontramos
solução para o impasse produtor de ansiedade no sonho. Nos pesadelos existe uma
grande tensão entre a nossa atitude consciente e o inconsciente, como eles estivessem em desacordo. Eles são
extremamente importantes. São como que eletrochoques que a natureza nos aplica
quando quer que despertemos. O ponto do sonho em que acordamos é o choque
através do qual o inconsciente diz: “É isso, preste atenção nisso!”. De alguma
forma, não estamos dando a devida atenção para algum problema que é
psicologicamente urgente.
Existe também o que se poderia falar de um padrão
geral dos sonhos. Normalmente, na primeira metade da vida, os sonhos se referem
mais a uma adaptação dinâmica à vida exterior, terrena, material. Na segunda,
em geral, começam a dirigir a pessoa a recolher-se e a desenvolver uma certa
sabedoria ou insight sobre o que está por trás da vida aparente. Os
últimos sonhos de pessoas à beira da morte são claramente uma preparação para o
que está por vir. Não abordam a morte de uma forma concreta, mas falam de uma transformação ou passagem para um outro estágio ou nível.
Enfim, nós não sabemos de onde viemos, nem o porque de
estarmos aqui e tampouco sabemos para onde vamos. Todos nós fazemos parte desse
grande mistério que é a existência. No entanto, os sonhos nos mostram que
parece haver uma força diretriz, um padrão dominante que organiza a vida
interior, que Jung deu o nome de Self. Nossa vida interior não é um
fenômeno caótico e casual como muitos pensam, ao contrário, ela tem um centro e
uma finalidade.
O desenvolvimento humano assemelha-se a uma árvore
que para crescer deve possuir raízes muito firmes na terra. E o problema do
nosso tempo é estarmos como árvores sem raízes. Nossas raízes não atingem a
profundidade suficiente para extrair o alimento com o qual crescemos em direção
ao domínio do espírito. Os sonhos são raízes que atingem as profundezas da alma
e ajudam o fluxo da energia para o crescimento e desenvolvimento que nos são
possíveis. Por isso, preste atenção nos seus sonhos!
Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Fontes: HALL, James A. Jung e a Interpretação dos Sonhos: manual de teoria e prática. São Paulo: Cultrix, 2007. SANFORD, John A. Os Sonhos e A Cura da Alma. São Paulo: Edições Paulinas, 1988. BOA, Fraser, VON FRANZ, Marie Louise. O Caminho dos Sonhos. São Paulo: Cultrix, 2007.
Atende em Porto Alegre/RS
Fontes: HALL, James A. Jung e a Interpretação dos Sonhos: manual de teoria e prática. São Paulo: Cultrix, 2007. SANFORD, John A. Os Sonhos e A Cura da Alma. São Paulo: Edições Paulinas, 1988. BOA, Fraser, VON FRANZ, Marie Louise. O Caminho dos Sonhos. São Paulo: Cultrix, 2007.
Obrigado.
ResponderExcluirAbraços Jonas!
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