Todos nós possuímos uma tendência inata, natural e
espontânea para encontrar nosso centro, nossa unidade, ou nossa
totalidade. Essa tendência não é um
fim, mas um processo, que se desenvolve no tempo, chamado de “individuação”. A
individuação consiste em evoluir de um estado infantil de identificação com o
inconsciente para um estado de maior diferenciação em relação a ele, resultando
na ampliação da consciência. Os elementos inatos da nossa personalidade, seus
componentes mais imaturos e as experiências de nossa vida procuram se integrar
ao longo do tempo formando uma totalidade em pleno funcionamento.
Da
mesma forma que possuímos uma estrutura física comum, todos temos também uma
estrutura psíquica comum. Todos nós possuímos um coração e um pulmão, por
exemplo. Com a psique acontece algo semelhante, pois ela também possui uma
estrutura e um modo de funcionar que são comuns. Os arquétipos são esses
elementos comuns da psique humana e, de certa forma, corresponderiam aos elementos
comuns do corpo humano.
Os
arquétipos são os blocos básicos da construção da personalidade. São padrões de
emoção, de imaginação e de significado. A soma de todos eles compõe o
inconsciente coletivo e forma o substrato básico da nossa vida emocional.
Quando ativados, atingem a consciência e influenciam no desenvolvimento e
expressão da nossa personalidade de forma bem definida. Os arquétipos nos
impelem a certa atividade física, que será acompanhada por imagens, fantasias e
emoções características.
Um
bom exemplo é a experiência de apaixonar-se por alguém, uma experiência típica
e que apresenta uma base arquetípica. Quando nos apaixonamos, sentimos um
desejo sexual e ao mesmo tempo nossa consciência é inundada por fantasias
referentes à pessoa amada. Experimentamos o surgir de profundas emoções e
verificamos que no centro de tudo há um significado profundo. É um estado de
coisas único para nós. No entanto, em todo mundo a linguagem do amor é
admiravelmente a mesma. A experiência humana em si é tão antiga como a própria
vida humana. Em outras palavras, é uma experiência arquetípica.
É
claro que a vida humana é, ao mesmo tempo, única. Apesar dos corpos humanos
possuírem todos a mesma estrutura, não são, contudo, exatamente iguais. O mesmo
acontece com as personalidades. A personalidade de cada um jamais existiu
antes. Há alguma coisa em cada pessoa que faz com que seja ela somente. No
entanto, enquanto vivemos inconscientemente, tendemos a ser semelhantes aos
demais. Os arquétipos vão nos formando de acordo com os moldes gerais da
humanidade, e tornamo-nos o homem coletivo. Mas se adotamos uma outra atitude
em relação ao inconsciente, se nos tornamos conscientes do que somos e dos
elementos únicos que existem em nós, então começa o desenvolvimento individual.
Os mesmos arquétipos que antes nos modelavam pelo tipo de homem comum, agora
começam a nos ajudar a nos tornar indivíduos, no momento em que estabelecemos
uma relação consciente com eles.
O
inconsciente coletivo, ou a soma de todos os arquétipos, portanto, contém não
apenas a sabedoria do passado, como também a energia do futuro ou um enorme
potencial criativo. A vida está constantemente lutando por fazer surgir formas novas e únicas. No centro do inconsciente há um instinto profundo para tornar-se
si mesmo, para expressar a personalidade única que há em nós. Uma personalidade que é integrada ao inconsciente. Naturalmente, ninguém consegue tornar-se um
indivíduo completo e total. Sempre ficam muitas possibilidades em nós que
poderiam ser desenvolvidas em nossa vida. O importante é o processo de
tornar-se uma pessoa mais desenvolvida. É isso que dá significado à vida e
interesse pela mesma. O sofrimento e as doenças psíquicas são decorrentes da
nossa resistência ao desenrolar natural desse processo.
A
individuação é o instinto fundamental da vida. Atua sobre nós e nos impele a
procurar e a tomar consciência da nossa totalidade. Não só tomar consciência,
como também expressa-la. O objetivo é nos tornarmos a pessoa que realmente
somos, e isso não se dá somente através do processo de aceitação de si mesmo.
Além de se conhecer, devemos também nos colocar no mundo. Buscar o equilíbrio
entre as demandas do mundo externo e interno. Descobrir o nosso papel na
sociedade, o lugar em que podemos viver a nossa própria natureza individual
para o bem-estar da sociedade. Esse processo não nos leva ao isolamento, mas a
um relacionamento mais íntegro com o coletivo. Tornar-se si mesmo não significa
tornar-se perfeito, mas pleno e completo. Assumir a própria condição humana tal
qual se apresenta, e vive-la com todas as suas implicações e riquezas, com
todas as dores e as delícias de ser quem se é.
Por
Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário