Neste mundo rápido e acelerado em que vivemos, normalmente
não há muito espaço para refletir sobre a própria vida. Vivemos de forma
automática, esmagados pelas demandas do cotidiano, submetidos às imposições da
sociedade e com uma sensação de escassez de tempo constante. Sentimos como se
tivéssemos nos perdido no meio do caminho, e muitos já não enxergam mais um
sentido ou propósito para a própria existência. Porém, como disse o psiquiatra
chileno Cláudio Naranjo, “é normal não encontrar sentido na vida quando se
está muito condicionado pelo mundo”.
Desde que nascemos somos ensinados a nos guiar a partir de
um modelo que é oferecido por outras pessoas. O processo educativo é uma parte
importante e indispensável na formação e estruturação da personalidade de
qualquer pessoa. Receber limites e aprender as normas sociais nos prepara para
a futura convivência em sociedade e lança as bases sobre as quais conseguiremos
sobreviver no mundo. No entanto, esse processo, na maioria das vezes, implica
em sermos colocados dentro de verdadeiros compartimentos, que fazem mais
sentido para os outros do que para nós mesmos. Como dependemos do amor e
aprovação daqueles que nos cuidam, nos submetemos a esse processo e aprendemos
negar seguidamente quem somos. Passamos a viver do jeito que alguém diz que
temos que viver. E, quanto mais rígidos e restritos forem esses compartimentos,
mais nos afastamos de quem somos e mais dificuldades teremos de nos encontrar
depois.
Aprendemos a viver de fora
para dentro e não de dentro para fora. A pior conseqüência disso é que a
maioria de nós, quando chega o momento de se definir em termos profissionais,
acaba optando por uma carreira antes de descobrir seu verdadeiro propósito.
Nossa sociedade defende a idéia do sucesso como algo restrito a uma carreira
estável e altamente rentável, além de alguns outros requisitos a serem
preenchidos. Então, como fomos condicionados a fazer o que os outros esperam de
nós, entramos na direção do conformismo. Assumimos o compromisso social e
deixamos para depois uma reflexão mais profunda sobre os nossos próprios
anseios.
No entanto, ter uma
profissão não deve se resumir apenas a uma questão de sobrevivência ou de
ganhar dinheiro, pois passamos a maior parte do dia e da nossa vida
trabalhando. Então, é preciso que ele faça sentido, para que a nossa vida tenha
sentido. Quando o trabalho evoca os sentimentos, quando nos proporciona
alegria, inspira e fascina dá a nossa vida um significado maior, uma razão a
mais para viver, um senso de destino pessoal, um propósito ou uma vocação.
Vocação é uma palavra que
descende do latim e significa voz do coração. Está associada tanto a um
chamado, dom ou predestinação, como a talento ou aptidão, na qual uma
determinada atividade se desenvolve de maneira admirável. Vocação é diferente
de profissão porque é uma expressão natural da personalidade. Todos nós
deveríamos buscar uma atividade profissional correspondente aos nossos talentos
naturais. Assim, não encontraríamos apenas um caminho profissional, mas também
o nosso propósito e nossa realização pessoal.
No entanto, não é possível
ter tudo na vida. Honrar o nosso propósito implica em perdas. Muitas vezes
vamos ter que abrir mão de convites, oportunidades, hábitos, da necessidade de
ser admirado e de estar de acordo com os padrões, do conforto e até de dinheiro
para viver de acordo com aquilo que faz mais sentido para nós. Como diz o
escritor Gabriel Carneiro Costa: “No sentido filosófico, todo mundo considera
que o dinheiro tem menos importância, mas, na esfera prática, ninguém quer
diminuir a renda que recebe”. E assim, seguimos insatisfeitos. Correndo o risco
de chegar ao fim da vida compartilhando do arrependimento mais comum: não ter
tido a coragem de viver uma vida fiel a si mesmo.
O importante a compreender
é que “quem você é” e “quem você quer ser” são questões que devem vir antes e
acima daquilo que você quer ter. E para isso, precisamos ter a coragem de olhar
para dentro e encarar com honestidade as próprias necessidades, sonhos e desejos.
Dar espaço para que a nossa autenticidade possa aparecer. Como diz o filósofo
Alan Watts em seu vídeo E se o dinheiro não fosse a finalidade?, "melhor viver uma vida pequena que é cheia do que você gosta de fazer, do que
uma longa vida vivida de forma miserável. Afinal, se você realmente gosta do
que está fazendo, não importa o que seja, pode eventualmente se tornar um
mestre nisso. E o único jeito de se tornar um mestre em algo, é fazendo o que
se gosta." E então você poderá ganhar bem e ter aquilo que deseja.
O propósito
da vida não é dado, cada um constrói o seu a partir do intercâmbio entre aquilo
que nos é dado e aquilo que já existe dentro de nós.
Então, qual é o propósito
da sua vida?
Por Melissa Samrsla
Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Atende em Porto Alegre/RS
Muito bom o texto! Gostei mesmo e acabou casando bem com o que escrevi. Acho que o maior problema em tudo isso é que estamos submetidos a um estilo de vida degradante e sequer temos a capacidade de parar e questionar: "O que estou fazendo?" "Para aonde estamos indo?", ou seja, estamos cegos em todos os sentidos caminhando para o precipício. Tristes tempos.
ResponderExcluirAbraços!
É por aí mesmo Erik!!! Obrigada, Beijos e abraços pra ti.
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