sábado, 20 de agosto de 2016

Prazer não garante Felicidade




Uma coisa é sentir prazer, outra é sentir felicidade. No entanto, nossa sociedade nos convence a todo instante que quanto mais prazer tivermos, mais felizes seremos. Mas, esses parâmetros são ilusórios, pois o prazer em si mesmo não gera a felicidade que buscamos.
O prazer é o produto direto dos estímulos que recebemos no âmbito das sensações e, portanto, é fugaz, depende das circunstâncias, de um lugar específico ou de um momento no tempo. É naturalmente instável, pois logo se torna neutro ou até desagradável. Se os estímulos forem repetidos muitas vezes podem até nos gerar repulsa. Quem consegue, por exemplo, comer sem parar ou escutar sempre a mesma música? Chega uma hora em que os nossos sentidos não aguentam e gritam por um “basta”.
O prazer termina com a rotina e nos leva ao tédio. Além disso, o prazer é uma experiência individual e pode facilmente transformar-se em egoísmo e entrar em conflito com o bem-estar das outras pessoas. Pode vir associado à crueldade, violência, orgulho, ganância e outras situações que não fazem jus ao que, de fato, é a verdadeira felicidade.
Já a felicidade não depende das circunstâncias. Ela está ligada a um sentimento de plenitude, de bem estar, que tende a perdurar e aumentar com a experiência. Não está ligada a uma ação ou atividade, mas a um estado de ser, ou a um equilíbrio emocional, que decorre da compreensão do funcionamento da mente e dos processos da vida. A felicidade é um estado de harmonia com a nossa natureza interior e, portanto, está intimamente ligada ao autoconhecimento. Ao contrário do prazer, uma das características principais da felicidade é o altruísmo, pois quem está em paz consigo mesmo naturalmente vai contribuir para promover a paz ao seu redor.
Isso não significa que não devemos buscar sensações agradáveis. Pelo contrário, sentir prazer faz parte da experiência de sermos humanos e de possuirmos um corpo. Estamos equipados para isso. A busca por prazer somente se torna um obstáculo quando nos impede de ver a verdadeira beleza e significado das coisas simples da vida, ou quando perturba o nosso equilíbrio emocional, nos levando à obsessão ou à aversão por tudo aquilo que possa impedi-lo. Todos nós queremos um estado de bem-estar constante. Mas, se não tivermos a clareza do que buscamos, podemos acabar buscando no lugar errado.
Para encerrar esse assunto, deixo aqui, na voz de Antonio Abujamra, o já conhecido texto da escritora e jornalista gaúcha Martha Medeiros, chamado “Felicidade Realista”. Ele ilustra essa diferença e nos chama atenção para um aspecto muito importante: que a felicidade, na verdade, é um sentimento muito simples e que não requer muito esforço. 




Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831

(Para atendimento clínico na cidade de Porto Alegre, favor mandar email para meldeluz@hotmail.com ou entrar em contato através do messenger do facebook)



* Texto especialmente produzido para o Programa Psicodrops, que vai ao ar todas as terças e quintas-feiras, às 19 horas na Rádio Mutante.


* Baseado no livro de Matthieu Ricard: Felicidade, a prática do bem-estar. São Paulo: Palas Athena, 2012.

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