segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

O parto natural mais famoso de todos os tempos


Natalie Lennard ('Miss Aniela'), fotógrafa do Reino Unido, criou uma série de fotografias sobre o nascimento intitulada “A Criação do Homem” cujo propósito era mostrar com extrema fidelidade a natureza do nascimento, e o quanto as mulheres são aptas a dar à luz, sem interferências, como qualquer outra das 5 mil espécies de mamíferos do planeta.

Uma das imagens criadas pela artista foi o nascimento de Jesus, retratando o êxtase e o poder de Maria ao dar a Luz. Após intensa pesquisa, ela verificou que todas as imagens de arte relacionadas a este acontecimento sempre mostram os momentos do pós-parto, mas nunca o nascimento em si. Um parto que, segundo a lenda, foi realizado no estábulo, rodeado de animais, o que o aproxima de sua natureza selvagem e instintiva. Uma imagem de difícil absorção para uma sociedade de bases patriarcais que nega e reprime o feminino, ou a nossa realidade instintiva, animal, emocional.

No entanto, esse é o nascimento mais famoso de todos os tempos. Todos os anos, mesmo sem perceber, celebramos esse parto! Eis a história...


A natividade de Jesus recontada


No dia em que Jesus estava pronto para vir ao mundo, Maria recebeu uma mensagem não verbal de humildade. Não verbal, porque essa mensagem veio da própria natureza do nascimento. Encontrou-se ela em um estábulo, entre outros mamíferos. Sem palavras, eles a ajudaram a entender essa mensagem naquele dia: ela tinha que aceitar sua condição de mamífero. Ela tinha que lidar com a desvantagem da sua humanidade e desconsiderar a efervescência de seu intelecto. Ela tinha que liberar os mesmos hormônios que os outros mamíferos parturientes, através da mesma glândula e da mesma parte primitiva do cérebro, que todos nós temos em comum.

O ambiente foi idealmente adaptado às circunstâncias. Maria sentiu-se segura e, por isso, seu nível de adrenalina foi o mais baixo possível. O trabalho pôde estabelecer-se nas melhores condições possíveis. Tendo percebido essa mensagem de humildade e aceitando suas condições de mamífero, Maria colocou-se de quatro. Em uma postura como essa, e na escuridão da noite, ela pôde facilmente se afastar do mundo cotidiano.

Logo após o nascimento, o recém nascido Jesus estava nos braços de uma mãe extática, tão instintiva como um mamífero não humano. Ele foi recebido em uma atmosfera sagrada e não violenta. Foi capaz, de forma fácil e gradual, de eliminar o alto nível de hormônios do estresse que ele produziu ao nascer. O corpo de Maria estava quente. O estábulo também estava quente, graças à presença dos outros mamíferos. Instintivamente, Maria cobriu seu bebê com um pedaço de pano que ela tinha na mão. Ela ficou fascinada com os olhos do seu filho e nada poderia distraí-la do contato prolongado com ele. Olhar um para o outro foi fundamental para a produção de oxitocina, de modo que seu útero se contraiu novamente e devolveu uma pequena quantidade de sangue enriquecido da placenta ao longo do cordão umbilical para o bebê; e logo depois, a placenta foi liberada.

Mãe e bebê puderam se sentir seguros. Maria, guiada por seu cérebro de mamífero, ficou de joelhos por um curto período de tempo após o nascimento. Depois que a placenta foi liberada, ela se deitou de lado com o bebê perto de seu coração. De repente, Jesus começou a virar a cabeça de um lado para o outro, abrindo sua boca. Guiado pelo odor do cheiro, ele se aproximou cada vez mais do mamilo, enquanto Maria, que ainda estava em um equilíbrio hormonal muito especial, e ainda se comportando de forma muito instintiva, soube como segurar seu bebê, fazendo o tipo de movimentos que o ajudaram a encontrar o peito. Jesus foi iniciado por sua mãe.

Jesus passou um longo tempo sugando vigorosamente. Com o apoio de Maria, ele conseguiu sair vitorioso de um dos episódios mais críticos de sua vida. No espaço de alguns minutos, ele entrou no mundo dos micróbios. Adaptado à atmosfera, separado da placenta, começou a usar seus pulmões e respirava independentemente. Também estava adaptado à força da gravidade e às diferenças de temperatura. Jesus é um herói!

Não havia relógio no estábulo. Maria não contou quanto tempo Jesus estava no peito antes de adormecer. Durante a primeira noite após o nascimento, Maria teve apenas alguns episódios de sono leve. Ela estava vigilante e protetora, ansiosa para satisfazer as necessidades da mais preciosa criatura da terra.
Nos dias que se seguiram, Maria aprendeu a reconhecer quando seu bebê queria ser embalado. Ela estava tão em sintonia com ele que poderia perfeitamente adaptar o ritmo dos movimentos de balanço à demanda do bebê. Ao balançar, Maria começou a cantar algumas músicas; as palavras iam sendo adicionadas. Como milhões de outras mães, ela redescobriu canções de ninar. Foi assim que Jesus começou a aprender sobre o movimento e, portanto, sobre o espaço. Foi assim que ele começou a aprender sobre o ritmo e, portanto, sobre o tempo. Ele estava gradualmente entrando na realidade do espaço e do tempo. Quando o bebê Jesus cresceu, Maria começou a introduzir mais e mais palavras em suas canções de ninar, e foi assim que Jesus aprendeu a língua materna.



“O nascimento de uma criança é algo tão cotidiano, algo que estamos tão habituados a ver, que muitas vezes esquecemos a grandeza, a magia desse ato inédito que é... 
Criar uma alma.”
-         Laurent Gounelle, psicólogo e escritor francês.


 

 


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

Para acompanhar o processo de produção da fotografia acesse:


Fontes:
CAVALCANTI. Raissa. O casamento do Sol com a Lua: uma visão simbólica do masculino e do feminino. Circulo do Livro, 1987.
LENARD, Nathali. Miss Aniela. www.facebook.com/missanielaphotography/
ODENT, Michel. A cientificação do amor. Midwifery Today, Vol. 58, 2001. Disponível em  http://www.wonderfulbirth.com/Services/ViewServices.asp?Ref=2305

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