O Diabo é pai do Rock! Já
cantava aos quatro ventos nosso querido Raul Seixas. Afinal, o Diabo é uma figura
arquetípica importante e não poderia deixar de ter seu espaço também no âmbito
musical. Dizem que caiu do céu ou foi despedido e, como odiava Adão, ficou
tentando Eva até que conseguiu arruinar aquele arrumadinho e chato Paraíso. A
tentação era - e continua a ser - a sua especialidade.
Sua
estranha aparência nos lembra Pan, personagem da mitologia grega, chamado de o
Grande Todo. Pan era tão feio ao nascer – o corpo coberto de pêlos, metade
homem, metade bode, chifres, barba e cauda – que sua mãe fugiu para bem longe,
rejeitando e abandonando o filho logo ao nascer. Pan personifica a natureza
livre e indomada, as necessidades instintivas do corpo, a sexualidade e a
agressividade. Era um deus alegre, amante da boa música e da dança. Morava em
cavernas e vagava pelas profundezas escuras das florestas, representando todos
aqueles conteúdos que habitam a nossa sombra, aquilo que aprendemos a reprimir
e que, portanto, desconhecemos. Aqueles aspectos de nós mesmos que negamos ou
fugimos apavorados, exatamente como a mãe de Pan fez.
Pan |
Todas
essas características, é claro, vão na contramão da doutrina ensinada pelas
principais religiões. Durante muito tempo, para o Cristianismo, o riso, o
prazer, o divertimento, ou a nossa parte animal representada pelos instintos,
foram relacionadas ao mal, ao Diabo, a Pan. A vida na terra deveria ser um vale
de lágrimas e sofrimento, a fim de que se pudesse alcançar o céu eterno. Tudo o
que fosse diferente e que não se enquadrasse nesses parâmetros divinos era
visto com desconfiança, como coisas do “chifrudo”.
O
Rock, por sua vez, teve suas origens na música negra, no blues. Nasceu nos
Estados Unidos no contexto pós-guerra, numa época em que a sociedade americana
começava a abandonar seus preconceitos mais arraigados. O nome desse novo
estilo musical surgiu da expressão rock’n’roll, usada em letras de música como
sinônimo ou gíria para “dançar” ou “fazer amor”. Nutriu e ainda nutre estreitos
vínculos com a rebeldia, pois surgiu como uma forma de contestação à ordem
vigente, provocando um verdadeiro choque entre gerações. A associação com o
“cover de Deus” foi imediata: o Diabo é o pai do Rock!
O
Rock cresceu, se desenvolveu e amadureceu. Tornou-se símbolo de um estado de
espírito e jeito de ser. Continuou e continua “fazendo a cabeça” de muita gente
e chacoalhando a sociedade. “Rock é atitude!”, como se diz e, sendo assim,
sempre teve um papel muito importante e, porque não, curador.
Sinceramente, nós precisamos ser muito gratos ao Diabo por ele ter criado o rock.
Ele nos fez lembrar de viver a vida de forma mais espontânea, mais solta, livre
e original. O Diabo, através da sua música, nos fez lembrar que também somos
como ele, que também somos Pan - a totalidade. Nós não somos apenas luz, mas
também sombra; não somos apenas espírito, mas também instinto. E não somos
apenas mente, mas também corpo.
O
Diabo, o pai do rock, nos fez um convite a ouvir a sua música e a celebrar o
nosso corpo, respeitando suas necessidades e seus desejos. Sem medo e sem
vergonha. Na função de pai e “velho sábio” nos questiona: “Quando você parou de
dançar e cantar? Quando você parou de se alegrar e sentir prazer? Quando você
parou de sonhar e amar?”. E ele mesmo responde: “a solução pode ser o Rock, baby!”, já
pegando a sua guitarra.
Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Do céu ao inferno: é o Rock and Roll!!!
Fontes: CHEVALIER, Jean. GHEERBRANT. Alain. Dicionário de
Símbolos. 16 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001. NICHOLS, Sallie. Jung e o Tarô, uma jornada arquetípica. São Paulo: Cultrix, 1997. OLIVEIRA, Claudinei José de Oliveira. O Diabo é o pai do Rock. Disponível em http://whiplash.net/materias/biografias/221676-satanismo.html .SHARMAN-BURKE, Juliet & GREENE, Liz. O Tarô Mitológico.
São Paulo: Arx/Siciliano, 2003.
Muito bom! Eu como músico e rockeiro gostei da forma como foi abordado o rock, na verdade a associação com o diabo está mesmo associada a premissa básica do rock, tanto na música como no texto produzido a partir dele, com ênfase na contestação de padrãos e tradições, seja no comportamento ou na estética. Obrigado Melissa por nos brindar com esse texto. Longa vida ao Rock and Roll!!!
ResponderExcluirObrigado Carlos!!! Abraço pra ti!
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