sábado, 11 de junho de 2016

Música transforma!



A música parece ser tão essencial para nós quanto a linguagem. A maioria de nós ouve música, não importa o momento da vida. Todos nós somos capazes de sentir o poder vivificante e prazeroso da música, e todos nós sentimos como se ela tivesse algo de mágico e transcendente. Não existe uma cultura que não possua suas músicas características, não existe um povo que não tenha algum deus ou algum tipo de representação mitológica ligada à música, não há quem não goste. O que prova que ela é algo intrínseco à história do ser humano sobre a Terra e uma de suas manifestações mais importantes.

Como meio de expressão e de comunicação entre os homens, a música sempre refletiu as condições sociais e históricas de cada época, de cada povo, de cada cultura. Os homens pré-históricos, por exemplo, expressavam sua música, em forma de ritual, por meio de batidas rítmicas dos pés e das mãos.  E, através dos ritmos e dos sons, agradeciam e pediam proteção aos deuses para todas as suas questões.

Uma das facetas mais importantes da música na história da humanidade é como meio de cura para os males do corpo e da alma. De acordo com as concepções de saúde/doença de cada época, a música foi considerada de diversas formas como instrumento auxiliar na cura das pessoas. Na China antiga, por exemplo, um dos primeiros efeitos da música foi para a cura. A palavra chinesa, ou caractere, para a medicina, na verdade, vem do mesmo caractere para a música. Os antepassados chineses ​​acreditavam que a música tinha o poder de harmonizar a alma das pessoas de uma forma que a medicina não podia.


Caractere chinês para a palavra música e para a palavra medicina.

Essa associação entre música e cura também se fez presente no Ocidente através da mitologia grego-romana, principalmente no personagem de Orfeu. Orfeu era filho do Rei Ôiagro e da musa Calíope. Ele era músico, poeta e médico. Recebeu de presente de Apolo, o deus da música, uma lira, e aprendeu a tocar com tal perfeição que nada resistia ao encanto de sua música. Não somente os deuses e mortais, mas as árvores, os animais e até as rochas perdiam algo de sua ferocidade, de sua dureza, abrandadas pelas notas de sua lira. E foi com esse poder que Orfeu foi até os infernos resgatar sua mulher Eurídice, que morreu no dia do próprio casamento. Com a força de sua música, ele enfrenta Cérbero, o cão de três cabeças, as Fúrias e convence o próprio Hades (o senhor das Trevas) a levar Eurídice com ele. Porém, existia uma condição: não olhar nunca para ela enquanto durasse a travessia para o reino dos vivos. Não conseguindo resistir, Orfeu quebra o compromisso. Ele a vê ainda mais uma vez, antes de Eurídice se transformar numa sombra que se esvaiu para sempre. Perdido de dor pela nova perda de sua amada, ele canta. E, pelo poder curativo de sua música, torna-se um guia espiritual, confortando a todos que o procuravam.


O mito de Orfeu mostra como a música pode ser um meio de cura e expressão da totalidade do nosso ser. A música tem a capacidade de tocar mais rápido e mais profundamente as emoções das pessoas de uma forma que a linguagem verbal não consegue. A música é como se fosse uma espécie de linguagem emocional, pois através dos sons, consegue traduzir nossos afetos, emoções e conteúdos que nós, por vários motivos, não conseguimos acessar. Através dos sons, a música tem a capacidade de criar uma ponte, ou um laço, com tudo aquilo que está reprimido ou que permanece desconhecido dentro de nós, com tudo aquilo que nos é inconsciente. Ela nos faz acordar para a nossa essência, para o que somos e para o que podemos ser, levando vida aos lugares onde ela foi esquecida.


Atualmente, a idéia de que a música tem o poder de curar está sendo novamente considerada. Essa capacidade foi lindamente mostrada no documentário Alive Inside (Vivo por Dentro). O cineasta Michel Rossato-Bennet narra as experiências surpreendentes de pessoas em todos os EUA que foram revitalizadas através da simples experiência de ouvir música. Sua câmera revela a conexão exclusivamente humana que encontramos na música e como seu poder de cura pode triunfar onde os medicamentos normais não conseguem chegar.


Este documentário segue os passos do assistente social Dan Cohen, fundador de uma organização sem fins lucrativos chamada Music & Memory (Música e Memória), e mostra o seu esforço em demonstrar a capacidade da música para combater a perda de memória e restaurar um senso profundo de si mesmo para aqueles que sofrem com isso. O filme conta ainda com diversos depoimentos emocionantes de membros da família, que testemunharam os efeitos quase milagrosos da música sobre seus entes queridos, além dos depoimentos do renomado neurologista Oliver Sacks e do músico Bobby McFerrin. O documentário foi aplaudido de pé e ganhou prêmio no Sundance Film Festival em 2014.


A música nos toca e produz em todos nós reações instintivas e emocionais, que independem da razão. Podemos rir, chorar, ficar tristes, sentir saudades ou comover-nos ao som da música, pois ela expressa o movimento dos nossos sentimentos mais profundos. E, por ser assim, permite uma espécie de reconhecimento ou de reencontro com nós mesmos, despertando em nós, como mostra no filme, a nossa mais profunda segurança.


A música nos transforma! 

E, então, qual é a sua preferida?



 

Assista aqui na íntegra o documentário Alive Inside (Vivo por Dentro).



Por Melissa Samrsla Brendler 

Psicóloga - CRP 07/13831

Atende em Porto Alegre/RS


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