Atualmente,
os papéis, as funções e o relacionamento entre homens e mulheres estão sendo
reexaminados. Tanto o homem quanto a mulher procuram uma melhor compreensão de
si mesmos, já que as definições antigas e estereotipadas já não se mostram mais
tão satisfatórias. E é neste ponto que surgem algumas questões importantes. O
que é ser homem? O que é ser mulher? Há alguma diferença essencial entre o
homem e a mulher? O que é o masculino e o que é feminino?
Masculino
e feminino são modos de existir, de estar presente no mundo, de percepção e de
relação com a vida, com o outro, consigo mesmo e com o universo. Masculino e
feminino são polaridades psíquicas ou energéticas que estão presentes tanto no
homem quanto na mulher. Em tradições milenares, como a cultura chinesa, por
exemplo, esses princípios são denominados yin e yang e formam o casal cósmico que
refletem simbolicamente o masculino e o feminino. O yin é a terra, a mãe, a lua, ou o
feminino. O yang é o céu, o pai, o sol, ou o masculino.
O
masculino está mais relacionado aos valores da razão e da consciência. Ele
analisa, discrimina, organiza, estabelece regras e leis, racionaliza e executa.
O sol todas as manhãs traz um novo dia, ele organiza o tempo, é regular no seu
surgimento, lógico, previsível e esperado. Nos desperta da noite da
inconsciência para a vida consciente e nos incita ao movimento. A criatividade
solar masculina se dirige sempre ao objetivo. Não há flexibilidade e
maleabilidade, ele é agente de um tempo e direção que não podem ser mudados. O
princípio masculino está mais ligado ao social, ao cultural e ao civilizado. O
sol (masculino) rege mais o plano exterior e age no plano da consciência, do
concreto e do palpável.
Por
outro lado, para compreender o feminino observamos a lua. Entramos em um mundo
mais obscuro, caprichoso, mutável, atemporal e inesperado. O feminino apresenta
um outro tipo de saber, a sabedoria que vem do inconsciente, da intuição, da
natureza e dos instintos. Possui ritmo e natureza próprios e suas qualidades
aparecem mais ligadas à fertilidade e à receptividade. O feminino é acolhedor,
nutridor e propiciador do crescimento. Jamais pode ser inteiramente apreendido.
Ele traz um aspecto de obscuridade, ligado mais a possibilidades do que a realizações
concretas. A lua, como símbolo do feminino, sugere potencialidades, estados de
alma, humores e emoções. Ela inspira os amantes, sugere a relação, o encontro,
o amor e a busca do outro. É a terra pronta para o recebimento da semente. O
receptivo que se abre e acolhe a germinação e o crescimento.
A lua
tem influência na fisiologia da mulher, como também no seu psiquismo. Na lua
cheia há um maior número de nascimentos. E os ciclos lunares de vinte e oito
dias correspondem, aproximadamente, ao ciclo menstrual da mulher. A ovulação,
como preparação para o solo, corresponde à fase da lua crescente. Depois,
estamos na lua cheia, que traz a possibilidade da fertilização e gestação. A
menstruação, como morte das possibilidades do vir a ser se relaciona com a fase
decrescente da lua.
A
mulher experimenta todos os meses esse ciclo cósmico em seu corpo e em sua
mente. O homem, apesar de não ter período menstrual, também experimenta este
ciclo. Todos nós experimentamos um crescimento da vitalidade, que se expressa
no momento seguinte numa maior criatividade e produtividade. Depois, há certo
decréscimo da vitalidade, para tudo finalmente voltar a se renovar. É o ciclo
da natureza, do qual todos fazemos parte, e que tem uma relação estreita com o
princípio feminino, assim como o nascimento, o crescimento, o amadurecimento e a morte.
O Sol
e a Lua, ou o masculino e feminino, portanto, são os agentes de toda mudança e
transformação da vida. Um princípio está profundamente ligado ao outro. Juntos
formam a totalidade, e do encontro dessas duas polaridades nasce todo o
universo e cria-se a vida. No seu processo de desenvolvimento, o homem e a
mulher devem entrar em contato com essas polaridades existentes em cada um, a
que Jung deu o nome de anima e animus. Essa foi uma das mais importantes
contribuições de Jung. Nós não somos psicologicamente homogêneos. Masculino e
feminino estão presentes dentro de todos nós, criando tensões e conflitos,
lutando por se expressar. Para se conseguir uma unidade harmônica é preciso
estar consciente de cada um desses lados e permitir a expressão adequada de
cada um deles.
No
entanto, a orientação da cultura do Ocidente tomou uma direção exacerbadamente
masculina, em desfavor do princípio feminino. Tanto o homem como a mulher
perderam contato com o princípio feminino. Para o homem este fato trouxe a
unilateralidade da sua vivência psíquica e emocional, se tornando um ser em
desequilíbrio permanente. A mulher, na tentativa de adaptação a um mundo com
uma consciência estritamente masculina, procurou se assemelhar ao homem,
perdendo a sua identidade psíquica mais profunda.
Sendo
assim, é, antes de tudo, o feminino que precisa ser resgatado como elemento
necessário para uma vida psíquica mais equilibrada, tanto do homem como da
mulher. Através do diálogo com esse princípio, o homem poderá aprender a se
relacionar de forma mais harmoniosa consigo mesmo e com os outros. A mulher,
reconhecendo o seu direito de viver a sua própria feminilidade, não precisará
mais se identificar com o homem. Ela buscará a sua identidade em si mesma, e
afirmará esta como uma consciência feminina. Ambos aprenderão a lidar melhor
com a sua vida emocional, reconhecendo a sabedoria que provém do inconsciente,
da intuição, da natureza e do seu lado mais instintivo. E este fato influenciará
profundas mudanças e transformações em todas as dimensões da vida humana.
Por
Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
Atende em Porto Alegre/RS
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