Oi!
Eu sou a criança que mora dentro de você. Quando você era criança, e eu também,
a gente conversava de montão, você se lembra? Tudo era tão cheio de magia!
Naquele tempo você era muito diferente. Não tinha medo de sair na chuva e gostava
de comer as mesmas coisas que eu. A gente dava muita risada. É verdade que
tinha muitas coisas que a gente não entendia direito. Os adultos pareciam tão
complicados para nós!
Então
você cresceu. Isso não aconteceu de um dia para o outro, mas foi acontecendo
devagarzinho. Nossas conversas foram ficando diferentes. Você foi aprendendo um
monte de palavras novas e difíceis. Muitas delas eu nem consigo entender. Você
fala e eu continuo sem saber o que você quer dizer.
Você
também foi deixando de me escutar. Preferia ouvir as conversas difíceis dos
adultos. Passou a achar que o que eu dizia era simples demais. Você cresceu e
eu continuei aqui, dentro de você, sem ter com quem conversar. Sabe por quê?
Eu sei. Vou te contar:
Conforme você foi crescendo, foi acreditando em uma coisa
que os adultos sempre acreditam. Você acreditou que era perigoso sentir! Por
alguma razão estranha, que eu ainda não consigo entender, os adultos acham que
os sentimentos são muito perigosos. Eles acreditam que precisam ser sempre
calmos e controlados. Como se isso fosse possível!
Mas eles continuam sentindo um monte de coisas. Sentem
raiva, sentem tristeza, sentem alegria
e sentem amor. Eles sentem tudo isso, mas fingem que não estão sentindo nada. E
fingem tanto que até se esquecem de que estavam fingindo, e um dia acabam
acreditando que não são mais capazes de sentir.
A
verdade é que muitos adultos ficaram surdos e já não ouvem mais a sua criança.
Mas eu preciso que você ouça minha voz e converse comigo um pouco. Se
você já não souber mais como me ouvir, vou tentar ajudar, mas já vou avisando:
meus métodos são simples! São simples porque eu sou a criança que ainda vive
dentro de você, e eu não sei fazer coisas complicadas.
Pra
começar, você precisa fazer as pazes com o tempo! Para mim é difícil
falar com alguém assim tão ocupado como você, sempre correndo, atrapalhado,
atrasado, cansado! Você tem que reservar um tempo pra mim. Um tempo para
respirar fundo de vez em quando e se lembrar de quem você é de verdade. Um
tempo para olhar pela janela, para se deitar no sofá e sonhar acordado.
Você
tem que ter coragem de arriscar! Arriscar
dar um sorriso e ser chamado de bobo. Arriscar andar descalço na grama e levar
picada de formiga no pé. Arriscar sair na chuva e ter de subir todo molhado num
elevador cheio de gente. Tem que arriscar palavras simples, uma nova cor, sair
da rotina, um gesto de amor. E, então, se você já escapou da gaiola do tempo e
está cheio de coragem para assumir riscos, já pode tentar uma lição mais
avançada. É hora de virar um caçador de sentimentos!
Os
sentimentos são como bichinhos assustados em uma floresta, que fogem toda vez
que fazemos barulho demais. Eles fogem do barulho dos nossos pensamentos, fogem
das críticas, dos certos e errados, dos julgamentos. Para caçar sentimentos,
você tem de aprender a chegar de mansinho na floresta, a olhar de verdade para
dentro, sem medo do que vai encontrar. Tem de ser amoroso com você mesmo, se
tornar mais atento, tem de aprender a pedir conselhos ao coração. Você pode fazer
isso agora mesmo. Pare de ler um pouquinho e ouça o bater que vem de dentro do
seu peito...Aprenda a decifrar as batidas!
Se
vocês, adultos, pudessem escutar mais a gente, muitas coisas iam ser
diferentes. Nós, crianças, sabemos que os seres humanos são muito mais do que
bichos pensantes. A gente sabe que cada pessoa é um pedacinho do Universo,
feito de luz e amor, capaz de fazer as coisas mais maravilhosas! Por exemplo:
nós podemos voar! Podemos voar mesmo sem ter asas de pássaros ou borboletas, porque
a gente tem umas asas muito mais fortes que essas: as asas da imaginação! Só
que os adultos esqueceram como imaginar. Eles acreditam numa coisa chamada
realidade que lhes diz que estão sempre presos a alguma coisa ou a algum lugar.
Eles já não sabem como voar. Isso é muito triste.
Nós,
crianças, também sabemos que quando outras pessoas estão tristes, a gente fica
triste também. E com isso a gente aprendeu que as pessoas também são parte da
gente...E os animais...E as florestas...E tudo o que existe no Universo! Tudo é
um! Os adultos esqueceram disso.
Os
adultos sabem ler o jornal, fazer contas complicadas, resolver problemas
difíceis, andar pra lá e pra cá como se soubessem de tudo. Eles acham que não
precisam de nada nem de ninguém. Muitas vezes eles nem sabem quem são. Mas, por
sorte, a criança que mora dentro deles nunca esquece!
Sabe,
se eu não fosse uma criança, eu ai cuidar dos adultos. Ia pegar cada um deles
no colo, fazer muito carinho, dar muitos beijinhos e falar para eles que está
tudo bem. Mas, eu ainda sou uma criança. Eu sou uma criança e preciso
muito de você, adulto. Preciso que você se lembre de mim. Preciso da sua
atenção, da sua confiança, do seu carinho. Preciso que você me aceite dentro de
você e me ajude a crescer.
Em
troca, eu posso te dar muitas coisas. Posso te ensinar a viver com leveza, a
fazer a rotina de boba e inventar coisas que tédio nenhum pode imaginar! Posso
te ensinar a criar as coisas mais incríveis sem esforço (toda criança sabe!), a
transformar sentimentos em cores, letras, formas e sabores. A ser artista,
pintor, poeta, escritor. A tocar música de tristeza e alegria. Com minha ajuda,
você pode transformar seu trabalho em uma brincadeira divertida.
Se
você deixar, posso te ensinar a maior de todas as artes: a arte de se
relacionar! Posso te ensinar a ser alegre de novo, a empinar papagaios lá
no alto do céu, a sair pelo mundo à procura de amigos, a dar valor às coisas
simples da vida, a dançar uma música bonita com quem você gosta, a tomar um
delicioso sorvete de chocolate, a chorar de alegria e de tristeza, a amar sem
medo! Sem medo de ser criança outra vez!
Estou
aqui dentro, agora mesmo, esperando por você! Vem brincar comigo?
Por
Melissa Samrsla Brendler
Psicologa - CRP 0713831
Atende em Porto Alegre/RS
Psicologa - CRP 0713831
Atende em Porto Alegre/RS
(Adaptado
do original GEBRIM, Patrícia. Palavra de Criança: coisas que você pode aprender
com sua criança interior. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2005).
Nenhum comentário:
Postar um comentário