domingo, 31 de janeiro de 2016

Any Color you Like e Brain Damage

THE DARK SIDE OF THE MOON -
A Obra prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana
(parte 6)






Any Color you Like (Alguma cor que você goste)


A música Any Color You Like é inteiramente instrumental e podemos lhe atribuir um significado simbólico, relacionando-o ao prisma que compõe a capa de The Dark Side of The Moon. Assim, a cor a ser escolhida nos remete ao espectro, onde as cores refletem a capacidade da consciência em reconhecer como elementos diferentes o que antes formava um todo indiferenciado, a exemplo do que ocorre na decomposição da luz ao atravessar o prisma. Da mesma forma que o branco é a junção de todas as cores, o inconsciente reúne todos os elementos indistintos que depois serão discriminados pela consciência.

A imagem do prisma: criação de Storm Thorgerson


Assim, o feixe colorido que sai do prisma é uma analogia à aquisição da consciência, pois ao deixar para trás o estado de indiferenciação, representado pela luz branca, o ser humano tornou-se um ser consciente e capaz de escolher e decidir de acordo com sua vontade. Tudo isso se reflete no sentimento de que somos verdadeiramente livres e donos de nosso destino, uma crença comum ao homem moderno.

Porém, esse sentimento de liberdade, sem dúvida uma conquista do ser humano, não pode levar o indivíduo a se afastar do inconsciente, sob o risco de perder o contato com suas camadas vitais e criativas, que no prisma estão relacionadas ao raio infravermelho e ultravioleta, respectivamente os domínios do instinto e do espírito, analogia feita pelo próprio Jung.



Mas o que tem acontecido é justamente o desprezo pelo aspecto vital e transformador da psique, fato que caracteriza a alienação do homem moderno, extremamente identificado com a razão e com a vontade do seu ego, que se julga capaz de fazer suas escolhas sem se preocupar. 

Para se evitar essa unilateralidade é preciso que, além das cores visíveis, que no espectro estão associadas à consciência ou ao conhecido, há muitas outras coisas que não são imediatamente acessíveis aos sentidos, mas que são parte de um todo mais abrangente, ainda que desconhecido, como os raios infravermelho e ultravioleta, que neste caso representam os aspectos inconscientes da psique. O ego não é somente o sujeito da razão e da consciência, mas também o objeto de um Outro que o transcende em força, poder e extensão.

É possível considerar ainda Any Color you Like como um mergulho no caleidoscópio da loucura, onde tudo é mais intenso e revelador, pois ela é a música que antecede Brain Damage, que no contexto do disco é para onde converge tudo o que está relacionado ao lado oculto da Lua.



Brain Damage (Dano Cerebral)


O lunático está na grama
O lunático está na grama
Relembrando jogos, colares de margarida e sorrisos
É preciso manter os doidos na linha
O lunático está no saguão
Os lunáticos estão no meu saguão
Os jornais seguram seus rostos dobrados colados no chão
E todo o dia o entregador traz mais
E se a represa arrebentar muitos anos cedo de mais
E se não houver espaço encima da colina
E se sua cabeça explodir com presságios sombrios também
Verei você no lado oculto da Lua
O lunático está na minha cabeça
O lunático está na minha cabeça
Você levanta a lâmina, você faz a mudança
Você me rearranja até eu estar são
Você tranca a porta
 E joga a chave fora
Há alguém em minha cabeça, mas não sou eu
E se a nuvem estourar o trovão em seus ouvidos
Você grita e ninguém parece ouvir
E se a banda de que você faz parte começar a tocar em tons diferentes
Verei você no lado oculto da Lua


Brain Damage aborda a loucura, que em termos psiquiátricos recebe o nome de esquizofrenia, a doença que foi diagnosticada em Syd Barret, antigo membro do Pink Floyd.

Syd Barret (1946 - 2006)


Logo nos versos iniciais, a música traz uma figura muito associada à loucura: o lunático. O lunático é aquela pessoa que sucumbiu aos poderes do inconsciente, simbolicamente representado pela Lua. O fato de ele estar na grama, em contato com a natureza, nos mostra que ele está muito próximo da vida instintiva e, conseqüentemente do inconsciente. É nesse lugar que cenas do passado vêm a tona, e o lunático revive algumas de suas lembranças.

Essas lembranças evidenciam cenas que surgem do inconsciente, onde o lunático parece entrar de forma cada vez mais profunda. A pessoa, ao se tornar cada vez mais incapaz de lidar com as demandas da realidade externa, aciona um movimento que se chama de regressão da libido. Libido é o nome que se dá para energia psíquica. Quando permanece neste estado, o indivíduo vai se distanciando cada vez mais do mundo, podendo chegar a ponto de permanecer definitivamente afastado dele, que é quando as fantasias, devaneios ou lembranças passam a dominar a mente. Se este movimento não for compensado por tentativas de adaptação ao mundo exterior, o sentido de realidade se altera. O ego poderá ser dominado pelo inconsciente, e o sonho poderá assumir o lugar da realidade. Isso é a esquizofrenia, um transtorno mental que se caracteriza pelo predomínio dos conteúdos do inconsciente sobre a consciência, afetando os processos de pensamento, emoção e linguagem.

Em Brain Damage, as lembranças que foram reanimadas pelo inconsciente, os jogos, colares de margarida e sorrisos, se referem a fatos relacionados à vida pessoal de Syd Barret, que se refugia num mundo mágico de imaginação e fantasia como defesa para lidar com o medo da vida. Nesse momento, fica evidente na música a imposição da censura e da dominação em relação a tudo aquilo que se mostra estranho e alheio à ordem estabelecida, pois “é preciso manter os doidos na linha”. Normalmente, o que se faz em relação a isso é a reclusão e o isolamento social, atitude que tem respaldo científico no intuito de se fazer os devidos ajustes sobre a mente e a moral dos loucos.


Bruegel, o Velho, A Extração da Pedra da Loucura, 1568

No entanto, a música mostra que o lunático não mais se mantém isolado e começa a compartilhar um espaço em comum, pois agora “o lunático está no saguão”. Ele entra em cena para se tornar uma figura familiar que participa de um mesmo ambiente, junto com outras pessoas. A ideia deste verso é de que a loucura está se tornando cada vez mais comum, e que nos dias de hoje qualquer um está sujeito a ela. Avistar o lunático no saguão é o mesmo que dizer que “a loucura está entre nós”




O lunático, então, passa a representar a loucura num sentido mais amplo, o lado mórbido do mundo moderno, que é retratado ao longo de todo The Dark Side of The Moon através do medo, poder, violência e demais formas de insanidade encontrada nos dias de hoje. O lunático se desdobrou em várias figuras pelo saguão. A loucura se multiplicou e passou a afetar um número cada vez maior de pessoas. Eles também surgem retratados no jornal, uma forma de dizer que a loucura também foi elevada ás esferas do poder e da fama. E cada dia o entregador traz mais.

No verso seguinte surge a imagem da represa que pode vir a arrebentar. Essa imagem mostra o que seria o colapso mental. A água, em termos psicológicos, simboliza as emoções e o inconsciente. Então, a represa arrebentando seria a invasão do inconsciente, com toda a sua força, rompendo com as frágeis resistências do ego, ou da consciência. Jung diz em de seus livros o seguinte: “a consciência individual está cercada pelo mar ameaçador do inconsciente. É apenas aparentemente segura e confiável; na verdade, é algo frágil, assentada em bases instáveis.” Ou seja, isso já aconteceu com o lunático, mas pode acontecer com qualquer um.

Estrutura básica da psique proposta por Jung:
consciência, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo.  

Porém, existe a possibilidade de se buscar refúgio em cima da colina, como diz a música. A colina, nesse caso, representa o aspecto da consciência que é capaz de suportar a invasão do inconsciente, ou seja, o próprio ego. Porém, se o indivíduo não tiver um ego forte e desenvolvido ele poderá ser tragado pelas águas do inconsciente e enlouquecer. Sendo assim, a explosão da cabeça, o próximo verso da música, é um a forma de representar exatamente isso, a fragmentação da personalidade, que é reduzida a estilhaços e que leva as pessoas a agirem de forma impulsiva e desproporcional. O lunático, então, invade e toma o lugar que antes era ocupado pelo ego, ele agora está dentro da cabeça, como diz a música.

A partir daí surge a lógica psiquiátrica frente à loucura que, com sua lâmina, ou seja, com seu poder discriminatório, separa, divide e classifica os indivíduos de acordo com o seu diagnóstico. No entanto, o que se observa é que, na maioria das vezes, o indivíduo se sente impotente quando está diante dessa lógica que, não raro, usa o isolamento e a exclusão forçada como meios de operar uma mudança, ou seja, tranca o indivíduo e joga as chaves fora, como nos versos da música. Esse método é bastante questionado hoje em dia, na medida em que só faz aumentar os anseios de fuga deste mundo fazendo com que a pessoa mergulhe cada vez no inconsciente, trazendo tristeza e sofrimento.



Então Brain Damage termina fazendo novamente uma referência a Syd Barret, como alguém a ser encontrado do outro lado da Lua. Os versos "E se a banda de que você faz parte começar a tocar em tons diferentes, verei você no outro lado da Lua" mostram que a loucura, e somente ela, é que pode unir o grupo de novo, depois da triste separação.

Além disso, a música também não deixa de ser uma homenagem a todos aqueles que de um modo ou de outro são tocados pela loucura, os vários lunáticos que estão espalhados por todos os cantos do mundo.


"É da maior importância entender que o conflito não é apenas um fracasso pessoal, mas ao mesmo tempo um sofrimento comum a todos, um problema que caracteriza toda uma época. Essa generalização desafoga o indivíduo de si próprio, ligando-o à humanidade."(Carl Gustav Jung)



Portanto, Any Color you Like se refere ao prisma que está na capa do disco, onde as cores representam a capacidade de discriminação da consciência, sendo necessário que também levemos em conta os aspectos não visíveis do espectro, os raios infravermelho e ultravioleta, o nosso lado mais instintivo e também o nosso lado mais espiritual. O título da música também nos remete ao psicodelismo, uma manifestação do inconsciente e uma experiência que dão outros contornos às experiências vividas pela nossa consciência. Brain Damage, por sua vez, aborda a loucura, tanto como uma psicopatologia, como o que aconteceu com o Syd Barret, como também num sentido mais geral, como uma forma disseminada de desequilíbrio e insanidade presentes na modernidade.

Confira:


Any Color you Like



Brain Damage





Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS



(Próxima publicação: Eclipse)

Fonte: Yabuschita, Fábio Massao. The Dark Side of The Moon, a obra-prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana. Editora Dracaena.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Us and Them

THE DARK SIDE OF THE MOON -
A Obra prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana
(parte 5)






US AND THEM (Nós e Eles)

Nós e eles
Afinal somos todos homens comuns
Eu e você
Deus sabe que não é isso que teríamos escolhido para fazer
Avante, gritou ele da retaguarda
E tombaram os homens da linha de frente
E o general sentou-se e as linhas no mapa
Eram movidas de um lado para o outro
Preto e azul
E quem saberia dizer qual é qual e quem é quem
Para cima e para baixo
E tudo afinal
É apenas uma continuidade de círculos
Você não ouviu, é uma batalha de palavras
Gritou a pessoa que carregava o cartaz
Ouça, filho, disse o homem com a arma
Há um lugar para você lá dentro
Por baixo e na pior
Não dá para evitar
Mas isto pode ser encontrado em todo lugar
Com, sem
E quem vai negar que esta é a razão de toda briga
Sai do caminho
Estou com a mente ocupada
Por falta do preço do chá com uma fatia
O velho morreu


A música Us and Them traz a ideia de violência. A expressão “nós e eles” se refere às divisões entre as pessoas, países e culturas que acabam levando à discriminação, preconceitos, conflitos, e por fim, às guerras, a mais brutal das formas de violência. O termo também pressupõe a ausência do “eu”, enquanto entidade dotada de singularidade e valor próprio, muito diferente de um “eu” alienado, internamente dividido e sempre pronto a irromper com os mais insanos atos de violência.

É bom lembrar que a ideia de indivíduo, como uma entidade dotada de um mundo interior e subjetividade própria, é algo recente na história humana. A identidade, no tempo anterior a Renascença, era algo essencialmente grupal e coletiva. Pensava-se e agia-se em função do grupo e da coletividade. Hoje, mesmo sendo capaz de se reconhecer como um ser distinto, o indivíduo é levado muitas vezes a agir com a suposição de que é igual ao seu próximo. Isso ocorre na medida em que a consciência grupal, ou o “nós”, como diz a música, se impõe sobre o indivíduo.

O predomínio do social em relação ao individual se dá devido ao reducionismo conferido pela visão estatística do ser humano, que se fundamenta na anulação daquilo que cada um tem de único e particular em favor de generalizações, que reduzem o indivíduo a números e cifras, quando não, a diagnósticos psiquiátricos. A visão estatística é construída a partir de uma concepção abstrata, que ao visar à média, exclui as diferenças e enaltece o que é comum, ou seja, a normalidade. E, então, cria-se a ideia de um “homem ideal”.
A hegemonia do coletivo, por sua vez, é do interesse social, pois tendo sua individualidade reprimida, o sujeito submerge na massa como uma unidade anônima, destituído de suas virtudes e de seu potencial criativo. Alienado de si mesmo, o indivíduo acaba sucumbindo à mentalidade coletiva. Assim, “O que muitos acreditam ser verdadeiro, o que muitos desejam, deve ser digno de luta, necessário e, portanto, bom”. Qualquer tentativa na direção contrária pode ser enquadrada como egoísmo, soberba ou subversão. Assim, para nossa segurança e comodidade, passa a ser mais fácil ser parte do rebanho, onde somos apenas homens comuns.

Então, com seu poder de contágio, a massa forma um amontoado de seres inconscientes e despersonalizados, que sucumbem a valores, interesses e idéias que lhe são impostos de fora. O indivíduo se subordina a interesses alheios a sua vontade. Isso o torna influenciável e susceptível de ser tomado por instintos de crueldade e violência, pois o que acontece é um rebaixamento do nível da consciência, enquanto vontade e capacidade de reflexão e decisão, potencializando aquilo que é primitivo e inconsciente.


A massa também favorece a constelação da figura de um líder ou ideal, cujo fascínio e força de atração levarão o indivíduo a agir de tal forma que ele, em seu juízo normal, jamais o faria. O individuo passa a ser literalmente contaminado e guiado por forças que encobrem fraquezas e inferioridades que ele desconhece em si mesmo, justamente por estar alienado de si mesmo. E, como o estranho e o desconhecido são sempre atribuídos ao outro, este se torna uma ameaça que precisa ser combatida.

Assim, o indivíduo trava batalhas que apenas refletem, em escala maior, um conflito que deveria ser travado consigo próprio. E, alheio à própria sombra, o indivíduo passa a projeta-la em inimigos externos que, no nível pessoal, pode ser um vizinho ou alguém que declara uma opinião diferente da sua, mas que no nível coletivo assume proporções maiores, levando o mundo a se dividir em lados opostos. Divisão esta que está na raiz da maioria das guerras e conflitos mundiais.


É a extinção da personalidade singular que torna a massa suscetível aos poderes e vontade de um líder. Este determina o caminho a ser seguido, formando a linha de frente de batalha, onde estão os primeiros a tombar. Ele faz crer que concentra em si toda força e poder que cada indivíduo, tomado isoladamente ignora em si mesmo, pois uma característica da psicologia das massas é a formação de indivíduos inseguros e facilmente influenciáveis, sempre prontos a obedecer e avançar àqueles que se impõem como autoridade central, seja ela política, religiosa ou social.

A música, num determinado momento, também faz referência a uma “batalha de palavras”, ou seja, algo que ocorre no plano ideológico. O uso da linguagem indica a possibilidade de se renunciar a violência física em favor de um processo dialético, como ocorre na democracia, por exemplo. Jung já dizia que a democracia é o melhor modelo de organização política e social, pois só ela propicia espaço para o confronto de opiniões com respeito à lei do próximo. A massa pode lutar de maneira justa e organizada. Porém, a esperança é logo perdida pela imagem do homem com a arma na mão que ameaça aquele que carrega o cartaz, mostrando um contexto de intolerância e falta de compreensão, o que favorece a eclosão de atos violentos.

Qualquer tipo de entendimento parece improvável, o que significa que as coisas de fato não estão bem, e se assim estão, é porque o indivíduo também não está bem. A eclosão de grandes guerras e catástrofes fizeram o homem moderno perceber da forma mais cruel possível o seu potencial para a morte e a destruição, nos mostrando que não somos nada daquilo que imaginávamos ser. Como diz a música, em todo lugar a situação é de ruína e derrocada, e isso não dá para evitar.

Sweet Dreams Baby!(1965), Roy Lichtenstein:
violência industrializada

Jung sempre ressaltou a importância que devemos dar a cada pessoa em particular, algo que está se perdendo atualmente, como se observa na música a morte do velho, ocorrida por motivos absolutamente banais. Este fato mostra que a vida está perdendo seu sentido, porque o indivíduo, tomado pelo sentimento de nulidade em relação a si próprio, não está tendo mais valor. Conseqüentemente, o seu sentimento de nulidade é dirigido também para o outro, alguém que como ele, também não tem valor e importância. A alienação gera falta de compromisso com o outro e consigo mesmo e alimenta o desejo de poder e dominação de uns sobre os outros, o que é oposto à capacidade humana de amar e se relacionar. Como diria Jung onde falta amor, reina o poder, e onde há o poder, inexiste o amor. Um é a sombra do outro.
Portanto, Us and Them fala sobre as relações humanas e sobre os fatores que impedem a capacidade de relacionamento, como a massificação e a perda do senso de individualidade, esta favorecida pela visão estatística do ser humano, que quando cria a imagem de um homem médio ideal, negligencia o homem real, que é o único e verdadeiro portador do espírito da vida. Também a música aborda a guerra, a intolerância e a violência urbana como fenômenos relacionados à sombra, aquela parte que desconhecemos ou rejeitamos em nós mesmos, e que, então, passamos a enxergar no outro.


Confira: 



"O mais alto interesse da sociedade livre deveria ser a questão das relações humanas, uma vez que sua conexão própria e sua força nela repousam. Onde acaba o amor, tem início o poder, a violência e o terror." (C.G.Jung)




Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

(Próxima publicação: Any Color you Like e Brain Damage)
(Anterior: Money)

Fonte: Yabuschita, Fábio Massao. The Dark Side of The Moon, a obra-prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana. Editora Dracaena.



domingo, 17 de janeiro de 2016

Money

THE DARK SIDE OF THE MOON -
A obra prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana
(parte 4)






MONEY (Dinheiro)

Dinheiro, caia fora
Dinheiro, volte
Dinheiro, é um crime
Acho que vou comprar um time de futebol pra mim
Estou bem, cara, tire suas mãos do meu monte
Dinheiro é um sucesso
Estou no grupo de viajem da primeira classe e alta-fidelidade e acho que preciso de um jato da Lear
Divida-o de modo justo, mas não mexa na minha fatia
Dinheiro, assim dizem
É a raiz de todo mal hoje em dia
Mas se você pedir um aumento, não se surpreenda
Se não receber nenhum
Dinheiro é um sucesso
Estou bem, cara
Mas não venha com essa conversa fiada de fazer o bem
Dinheiro é o máximo
Agarre essa grana com ambas as mãos e esconda-a
Carro novo, caviar, sonho acordado de quatro estrelas.


A música Money refere-se, com uma refinada ironia, a mais moderna das temáticas: o materialismo e o consumismo. No contexto do disco, a referência ao dinheiro sugere que ele pode ser um meio de aliviar o sofrimento e as aflições relativas ao  mundo moderno, como a falta de sentido da vida. A necessidade imperiosa de se consumir e possuir bens materiais pode ser entendida abordando-se o centro vazio instaurado na alma do homem moderno.



Esse processo é o resultado da perda de contato com a natureza e, conseqüentemente, com a vida instintiva, algo importante na evolução humana por propiciar as condições necessárias para a diferenciação do homem em relação aos demais animais. Sem a renúncia ao ímpeto instintivo, a vida social e os valores morais não seriam possíveis.



A questão é que esse desenvolvimento, configurado pelo predomínio do Sol, enquanto símbolo da consciência e da razão, levou a um perigoso rompimento com aquilo que é primitivo e irracional no ser humano, representado pela Lua, contribuindo assim para a instauração de um vazio insaciável, que tem sua origem na atrofia, ou repressão, dos impulsos instintivos.



Para o homem moderno, a realidade fundamental está contida na capacidade de pensar e raciocinar, levando-o a suposição de que aquilo que não pode ser explicado causalmente não tem legitimidade, favorecendo o ceticismo em relação aos mistérios inerentes à vida. O crescente predomínio da razão levou o homem a ter sentimentos de poder e domínio sobre a natureza, como se ele não fosse parte dela. Este estado psicológico traz consigo um inevitável sentimento de solidão, devido, sobretudo, à perda das raízes.

Psicologicamente, o homem perdeu o contato com seu centro, a experiência daquilo que poderíamos chamar de alma e que poderia lhe conferir o sentido do sagrado. Porém, a necessidade instintiva de se religar a algo maior permaneceu inalterado ao longo deste processo, justificando o consumismo e apego aos objetos de desejo retratados em Money, pois se supõe que estes possam conferir algum conforto e segurança, preenchendo necessidades antes cabíveis aos instintos. 

Soma-se a isso o fato de que o homem passou a se relacionar com os bens materiais como se ambos constituíssem uma coisa só, ou seja, ele passou a acreditar ser aquilo que tem. Sucesso e ascensão tornaram-se a medida da alma, numa flagrante tentativa de se buscar algum sentido para a vida. O propósito passou a ser buscar refúgio nos bens de consumo e nas posses materiais, fazendo deles as suas raízes.

Por outro lado, quando perde suas raízes, o homem também é tomado por sentimentos de inferioridade, ou por uma insaciável necessidade de poder, dois lados de uma mesma moeda. O ego vai se enaltecendo cada vez mais e assume a condição de autoridade central. Ele se sente o poder em pessoa e age dessa maneira em relação a tudo e a todos. Busca no materialismo e no consumismo uma forma de satisfazer seus anseios de prazer. O resultado acaba sendo o individualismo e o narcisismo.

Assim, outro fator decorrente é a crescente incapacidade de se preservar as relações humanas. A exaltação do dinheiro, da forma como é feita em Money, impede a prática do altruísmo e da solidariedade humana, pois como o poder está voltado unicamente para o ego, este deixa de reconhecer o outro naquilo que ele tem de único e particular, impedindo o relacionamento genuíno e criativo entre ambos.



O poder acaba sendo um meio de forçar uma relação baseada, sobretudo, na dominação, já que o envolvimento afetivo foi rechaçado pelo desejo de poder. A este propósito serve o dinheiro, principalmente quando alimenta o sentimento de competitividade entre as pessoas e o desejo de ser sempre melhor do que o outro.

Portanto, a música Money pode ser abordada como uma referência ao "Deus dinheiro" que atinge o homem de hoje com extraordinária numinosidade, tornando-se facilmente fonte de adoração e desejo. O fascínio que ele exerce é análogo á necessidade humana de estar ligado a algo maior, como fonte doadora de vida que nutre o ser humano em todas as suas necessidades. 


Porém, a insaciável busca pela elevação do padrão de vida e o consumismo desenfreado revelam, de forma distorcida, a ânsia por um sentimento de totalidade, que não atende a real necessidade do indivíduo, que não é a satisfação narcísica de seus desejos, mas o impulso em buscar algo que o faça se sentir completo. Isso só será possível quando o indivíduo se voltar para dentro, ao encontro de sua verdadeira realidade fundamental, que deixará de ser sentida nas formas do mundo exterior, para, enfim, ser descoberta no âmago de seu ser mais profundo.



Portanto, Money fala sobre a situação atual em que se encontra o homem moderno, que fez dos bens materiais a sua realidade fundamental. Isso se deu, principalmente, em função da perda de contato com sua vida instintiva e natural, trazendo como conseqüência a instauração na sua alma de um centro vazio. O dinheiro seria então uma forma de suprir este vazio, ocupando, muitas vezes, o lugar de Deus. O egocentrismo e o materialismo desta visão de mundo do homem moderno também alimentam o desejo de poder que, na verdade, surge para esconder o medo e o sentimento de inferioridade, que são a conseqüência da perda de suas raízes. 

Confira:





Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

(Próxima publicação: Us and Them)

Fonte: Yabuschita, Fábio Massao. The Dark Side of The Moon, a obra-prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana. Editora Dracaena.




sábado, 9 de janeiro de 2016

Time, Breathe reprise e The Great Gig in the Sky

THE DARK SIDE OF THE MOON - 
A Obra prima do Pink Floyd Segundo a Psicologia Junguiana
(Parte 3)





TIME (Tempo)

As horas passam marcando os momentos que se vão em um dia monótono
Você desperdiça e perde as horas de uma maneira descontrolada
Perambulando num pedaço de terra de sua cidade natal
Esperando que alguém ou algo venha mostrar-lhe o caminho
Cansado de se deitar à luz do sol e de ficar em casa observando a chuva
Você é jovem e a vida é longa e há tempo de viver o hoje
E um dia você descobre que dez anos ficaram para trás
Ninguém te avisou quando correr, você perdeu o tiro de partida.
E você corre e corre para alcançar o Sol, mas ele está indo embora no horizonte
Girando ao redor da terra para se levantar atrás de você outra vez
O Sol permanece relativamente o mesmo, mas você está mais velho
Com fôlego mais curto e a cada dia mais próximo da morte
Cada ano está ficando mais curto, você nunca parece ter tempo
Planos que tampouco deram em nada ou em meia página de linhas rabiscadas
Permanecer num desespero quieto é o modo inglês
O tempo se foi, a canção acabou, pensei que tivesse algo mais a dizer


A música Time começa com referências ao ritmo desacelerado do tempo. Neste início ele é sentido como algo abundante, o que nos remete para um estado de inconsciência, já que a percepção do tempo só é possível a partir do desenvolvimento da consciência. Isso ocorre a partir do nascimento e se estende gradualmente até a idade adulta, quando a nossa consciência atinge o seu grau máximo de diferenciação.

Na fase inicial do desenvolvimento psicológico, mãe e criança formam um todo psicológico onde predomina na criança o estado inconsciente. Nesta fase o ego não se diferencia do mundo exterior, o eu e o outro são sentidos como algo único e inseparável, como uma totalidade inconsciente. A vida ainda não é medida pelo tempo, mas regulada pelo instinto. 

Mais adiante o filho se identificará com a figura paterna e, posteriormente, surgirão outras identificações importantes: com a família, o grupo social, a aldeia, a comunidade, ou mesmo com a pátria. Todas essas identificações conferem um sentido de identidade e pertencimento. Tudo isso representa a cidade natal, o pedaço de terra citado na música “Time”, onde a vida parece estagnada e sem sentido. 

Nessa fase da música, o indivíduo está inteiramente voltado à natureza, em estado de contemplação e passividade. Passa os dias deitado ao sol, ou observando a chuva, vivendo o tempo que está relacionado à natureza. Essa forma de se lidar com o tempo é observada na criança e aponta para o estado anterior ao despertar da consciência, quando a vida é apenas um fluir, livre de preocupações ou expectativas, mas sem a possibilidade de realização plena de si mesmo.



A formação da consciência começa na infância, a partir dos primeiros anos de vida, mas atinge o seu ponto crítico e de maior importância na adolescência, que é quando o indivíduo deixa o solo materno e as identificações que resumem o que seria sua cidade natal, como diz a música, para trilhar o caminho que o conduzirá ao encontro e descoberta de si mesmo.



O caminho citado na música representa o desenvolvimento da personalidade. O tempo passa a ser sentido de outra maneira, como algo que não volta. Ele perde seu caráter circular, que antes foi representado pelos fenômenos da natureza, dias de sol e chuva que se sucediam como uma roda que gira. Esse “novo” tempo é o tempo linear, o tempo da consciência, o tempo no qual o mundo civilizado se organiza, compartimentado em dias, horas, minutos e segundos. A partir deste momento, que coincide com a vida adulta e com a competitividade do mundo moderno, o relógio passa a ditar o ritmo, alinhando o indivíduo aos seus ponteiros, como se cada tic-tac fosse um ajuste, e o despertador, o tiro de partida.



Agora o indivíduo se vê obrigado a apressar os passos, a correr como diz a música, pois o tempo deixou de ser abundante como o tempo da infância, e a vida já não é mais algo a se perder de vista. As demandas da vida adulta, organizada em função de jornadas de trabalho, horários, prazos e todo o tipo de exigências relacionadas ao tempo, transformam o seu curso num fluir sem volta.

Esse fluir sem volta no que se transformou o tempo aumenta o desespero e a vontade de controlar os seus efeitos. Assim, alcançar o Sol é uma forma de não se sujeitar ao tempo, já que, como diz a música, o Sol não envelhece, ou seja, ele representa aquilo que não está sujeito ao tempo enquanto passado, presente e futuro. Por outro lado, a imagem do Sol se pondo no horizonte também nos dá a ideia do tempo como algo que empurra o ser humano para frente, em direção a um futuro do qual a única certeza é a morte.




À medida que a música vai chegando ao fim, percebe-se como é difícil lidar com o tempo. Ele tornou o indivíduo um ser impotente e incapaz de atender às demandas que lhes são impostas pelo mundo exterior. Porém, uma vida significativa e plena de realizações só pode ser alcançada se o inconsciente estiver presente neste processo, algo que não aconteceu em Time, onde os planos do indivíduo não deram em nada, não passando de meia página de linhas rabiscadas.

Somente através do retorno ao nosso mundo interior é que o eterno e o atemporal podem se manifestar, conferindo um significado maior à nossa vida. Esse retorno é uma experiência religiosa, no sentido de religare, que significa restabelecer novamente a ligação perdida, entre o ego humano, através do reconhecimento de sua finitude e transitoriedade, com aquilo que há de eterno em cada um de nós.



A música Time traz em seu desfecho, acompanhado de um “quieto desespero”, como diz a letra, a sensação de algo que está chegando ao fim, neste caso a própria canção, de acordo com a lógica do tempo linear, a lógica da finitude humana.

Como nos diz Jung, a Modernidade, ao privilegiar o ego racional e materialista, orientada para o mundo exterior em busca de satisfações mundanas e fixada numa temporalidade vazia, sem história e sem raiz, afasta o indivíduo do essencial, tornando-o um ser oprimido pelo tempo e temeroso diante da fatalidade do seu destino.


BREATHE reprise (Respiração)

Em casa, em casa novamente
Gosto de estar aqui quando eu posso
Quando eu chego em casa com frio e cansado
É bom esquentar meus ossos junto ao fogo
Bem longe através do campo
O badalo do sino de ferro
Conclama os fiéis a se ajoelharem
Para ouvir os encanamentos proferidos com fala suave


“Breathe reprise” mostra em seu início o indivíduo voltando ao lar, um fato com importante implicação psicológica. Como seqüência de Time, os primeiros versos da música apontam para um desfecho. O caminho, que simbolicamente representa o processo de desenvolvimento da personalidade ao longo da vida, foi enfim percorrido. A música sugere uma experiência religiosa, onde a volta ao lar significa o restabelecimento do eixo ego-inconsciente perdido. As aflições vivenciadas anteriormente foram superadas, e o indivíduo consegue então desfrutar de algum conforto e segurança junto ao fogo.



O elemento espiritual que em “Breathe” foi relacionado ao ar, agora está representado pelo fogo. Tanto o ar quanto o fogo são elementos que se referem à realidade psíquica, ou realidade da alma. Segundo Jung, se compreende facilmente que a respiração, por ser um sinal de vida, também serve para representa-la simbolicamente, assim como o fogo, ou uma chama, porque o calor é também um sinal de vida. Esses significados apontam para uma atitude religiosa do indivíduo (no sentido de religar), que busca encontrar dentro de si, no mundo interior, um ponto de apoio que o ajude a se orientar no mundo exterior.

Jung mostrou que a melhor coisa que homem moderno pode fazer para lidar com sua angústia espiritual, com seu sentimento de estar perdido num mundo sem sentido, com seus anseios irrealizados e também com sua sensação ilusória de bem-estar dentro de um vazio espiritual e religioso, é trilhar o caminho da experiência interior. Portanto, estar junto ao fogo é também uma forma de consumar-se a experiência simbólica que faltou em “Breathe”, e que só veio a ocorrer em “Breathe (reprise)”, não por acaso a música que vem depois da vivência angustiante de “Time”.

Porém, o que acontece ao longe, onde os fiéis são chamados a se ajoelharem, está muito distante do que se passa dentro da casa, na beira do fogo. Há um contraste na música entre a experiência religiosa, relacionada ao mundo interior, e a confissão, enquanto atividade relacionada ao mundo exterior. Nesta parte, a experiência religiosa ocorre em outro contexto, através dos símbolos e dos ritos consagrados para este fim.



The Dark Side of The Moon aborda em “Breathe (reprise)” a religião como uma experiência individual, através do contato com o fogo, ou coletiva, através dos rituais das Igrejas.

A música mostra que esse processo de religação, perdido pelo racionalismo e materialismo do mundo moderno, traz também o risco da submissão à uma mentalidade coletiva, onde o indivíduo é ordenado pelo pregador a se ajoelhar, juntando-se à massa de fiéis que é alimentada pelo moralismo e fanatismo, que fazem da religião algo inóspito e sem vida.

A interpretação da música poderia se encerrar neste ponto, não fosse por um detalhe que amplia o seu campo de interpretação: o badalo dos sinos de ferro. Tradicionalmente, o badalo dos sinos serve para anunciar a morte de alguém, principalmente no momento de prestar-se as últimas homenagens. Assim, “Breathe (reprise)” aborda também a questão da morte, um tema ao qual a razão não oferece conforto algum, nem tampouco respostas satisfatórias.



Apesar destas alusões à morte, é na próxima música “The Great Gig In The Sky” que ela será abordada de forma mais direta, o que nos faz pensar que o badalo do sino de ferro conclamando os fiéis a se ajoelharem é o prenúncio do que ainda está por vir.


THE GREAT GIG IN THE SKY (Um Grande Concerto no Céu)

“The Great Gig In The Sky” traz a questão da morte. Embora a morte seja o tema principal da música, ela já vem sendo abordada em suas mais variadas nuances desde o início do disco.

O fato é que a morte é um mistério que perturba o ser humano, podendo ser considerada, por assim dizer, o lado oculto da vida, aquilo que de fato não conhecemos e que, portanto, está muito mais relacionada ao inconsciente do que à consciência, à superfície visível e ao mundo exterior.

A morte, enquanto mistério, pode vir acompanhada de sentimentos contraditórios de dor e alegria. Do ponto de vista do nosso ego, ela é uma terrível brutalidade, pois como diz Jung (Em Memórias, Sonhos, Reflexões“um ser humano é arrancado da vida e o que permanece é um silêncio mortal e gelado. Não há mais esperança de estabelecer qualquer relação: todas as pontes foram cortadas” .

A Escada de Jacó (1880) de William Blake:
a ligação entre o Céu e a Terra

Porém, sob o ponto de vista da alma, a morte é um acontecimento importante, pois com ela, pode-se assim dizer, a alma alcança a metade que lhe falta e atinge a totalidade. Essa totalidade é uma forma de encontro, ou casamento, que se refere ao mais completo estado de união. Por isso, há muitos ritos que inserem a morte num contexto de alegria e festividade, representada entre banquetes e dançarinas.

Ou seja, essas manifestações mostram que a morte é sentida, por assim dizer, como uma festa. Um Grande Concerto no Céu, que é o nome desta música.


Portanto, Time, Breathe reprise e The Great Gig in the Sky também formam uma seqüência no The Dark Side of the Moon. Time aborda a forma como vamos percebendo o tempo ao longo da vida, a partir do desenvolvimento da nossa consciência e da nossa personalidade. O tempo deixa de ser percebido como algo circular, abundante e qualitativo para ser percebido no seu aspecto lógico, cronológico e quantitativo. Este é também o tempo característico dos nossos tempos modernos. Então, em Breathe reprise, a jornada do desenvolvimento que começou em Time, representada pelo caminho a ser percorrido, chega então ao seu fim. Surge a questão religiosa, que tanto pode ser algo íntimo, vivo e transformador, como também algo institucionalizado, baseado em normas e moral coletiva. Surge também uma referencia à morte, que não deixa de ser uma outra forma de se voltar para casa, tema que é abordado em The Great Gig in the Sky, onde a morte é vista como uma forma de encontro, uma celebração da união entre a vida e a morte.


Confira:




Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

(Próxima publicação: Money)

Fonte: Yabuschita, Fábio Massao. The Dark Side of The Moon, a obra-prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana. Editora Dracaena.


Pink Floyd: Richard Wright, Roger Waters, Nick Mason e David Gilmour

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