A obra prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana
(parte 4)
MONEY (Dinheiro)
Dinheiro, caia fora
Dinheiro, volte
Dinheiro, é um crime
Acho que vou comprar um time de futebol pra mim
Estou bem, cara, tire suas mãos do meu monte
Dinheiro é um sucesso
Estou no grupo de viajem da primeira classe e
alta-fidelidade e acho que preciso de um jato da Lear
Divida-o de modo justo, mas não mexa na minha fatia
Dinheiro, assim dizem
É a raiz de todo mal hoje em dia
Mas se você pedir um aumento, não se surpreenda
Se não receber nenhum
Dinheiro é um sucesso
Estou bem, cara
Mas não venha com essa conversa fiada de fazer o
bem
Dinheiro é o máximo
Agarre essa grana com ambas as mãos e esconda-a
Carro novo, caviar, sonho acordado de quatro
estrelas.
A
música Money refere-se, com uma refinada ironia, a mais moderna das
temáticas: o materialismo e o consumismo. No contexto do disco, a referência ao
dinheiro sugere que ele pode ser um meio de aliviar o sofrimento e as aflições
relativas ao mundo moderno, como a falta
de sentido da vida. A necessidade imperiosa de se consumir e possuir bens
materiais pode ser entendida abordando-se o centro vazio instaurado na alma do
homem moderno.
Esse
processo é o resultado da perda de contato com a natureza e, conseqüentemente,
com a vida instintiva, algo importante na evolução humana por propiciar as
condições necessárias para a diferenciação do homem em relação aos demais
animais. Sem a renúncia ao ímpeto instintivo, a vida social e os valores morais
não seriam possíveis.
A
questão é que esse desenvolvimento, configurado pelo predomínio do Sol,
enquanto símbolo da consciência e da razão, levou a um perigoso rompimento com
aquilo que é primitivo e irracional no ser humano, representado pela Lua,
contribuindo assim para a instauração de um vazio insaciável, que tem sua origem
na atrofia, ou repressão, dos impulsos instintivos.
Para
o homem moderno, a realidade fundamental está contida na capacidade de pensar e
raciocinar, levando-o a suposição de que aquilo que não pode ser explicado
causalmente não tem legitimidade, favorecendo o ceticismo em relação aos
mistérios inerentes à vida. O crescente predomínio da razão levou o homem a ter
sentimentos de poder e domínio sobre a natureza, como se ele não fosse parte
dela. Este estado psicológico traz consigo um inevitável sentimento de solidão,
devido, sobretudo, à perda das raízes.
Psicologicamente,
o homem perdeu o contato com seu centro, a experiência daquilo que poderíamos
chamar de alma e que poderia lhe conferir o sentido do sagrado. Porém, a
necessidade instintiva de se religar a algo maior permaneceu inalterado ao
longo deste processo, justificando o consumismo e apego aos objetos de desejo
retratados em Money, pois se supõe que estes possam conferir algum conforto e
segurança, preenchendo necessidades antes cabíveis aos instintos.
Soma-se a
isso o fato de que o homem passou a se relacionar com os bens materiais como se
ambos constituíssem uma coisa só, ou seja, ele passou a acreditar ser aquilo
que tem. Sucesso e ascensão tornaram-se a medida da alma, numa flagrante tentativa
de se buscar algum sentido para a vida. O propósito passou a ser buscar refúgio
nos bens de consumo e nas posses materiais, fazendo deles as suas raízes.
Por
outro lado, quando perde suas raízes, o homem também é tomado por sentimentos
de inferioridade, ou por uma insaciável necessidade de poder, dois lados de uma
mesma moeda. O ego vai se enaltecendo cada vez mais e assume a condição de
autoridade central. Ele se sente o poder em pessoa e age dessa maneira em
relação a tudo e a todos. Busca no materialismo e no consumismo uma forma de
satisfazer seus anseios de prazer. O resultado acaba sendo o individualismo e o
narcisismo.
Assim,
outro fator decorrente é a crescente incapacidade de se preservar as relações
humanas. A exaltação do dinheiro, da forma como é feita em Money, impede a
prática do altruísmo e da solidariedade humana, pois como o poder está voltado
unicamente para o ego, este deixa de reconhecer o outro naquilo que ele tem de
único e particular, impedindo o relacionamento genuíno e criativo entre ambos.
O
poder acaba sendo um meio de forçar uma relação baseada, sobretudo, na
dominação, já que o envolvimento afetivo foi rechaçado pelo desejo de poder. A
este propósito serve o dinheiro, principalmente quando alimenta o sentimento
de competitividade entre as pessoas e o desejo de ser sempre melhor do que o
outro.
Portanto,
a música Money pode ser abordada como uma referência ao "Deus dinheiro" que
atinge o homem de hoje com extraordinária numinosidade, tornando-se facilmente
fonte de adoração e desejo. O fascínio que ele exerce é análogo á necessidade
humana de estar ligado a algo maior, como fonte doadora de vida que nutre o ser
humano em todas as suas necessidades.
Porém, a insaciável busca pela elevação
do padrão de vida e o consumismo desenfreado revelam, de forma distorcida, a
ânsia por um sentimento de totalidade, que não atende a real necessidade do
indivíduo, que não é a satisfação narcísica de seus desejos, mas o impulso em
buscar algo que o faça se sentir completo. Isso só será possível quando o
indivíduo se voltar para dentro, ao encontro de sua verdadeira realidade
fundamental, que deixará de ser sentida nas formas do mundo exterior, para,
enfim, ser descoberta no âmago de seu ser mais profundo.
Portanto, Money fala sobre a situação atual em que
se encontra o homem moderno, que fez dos bens materiais a sua realidade fundamental. Isso se deu, principalmente, em função da perda de
contato com sua vida instintiva e natural, trazendo como conseqüência a
instauração na sua alma de um centro vazio. O dinheiro seria então uma forma de
suprir este vazio, ocupando, muitas vezes, o lugar de Deus. O egocentrismo e o materialismo desta visão
de mundo do homem moderno também alimentam o desejo de poder que, na verdade,
surge para esconder o medo e o sentimento de inferioridade, que são a
conseqüência da perda de suas raízes.
Confira:
Confira:
Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS
(Próxima publicação: Us and Them)
Fonte: Yabuschita, Fábio Massao. The Dark Side of The Moon, a obra-prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana. Editora Dracaena.
Parabéns, Melissa, muito bom texto!
ResponderExcluirObrigada Inaê! Abraços pra ti
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