sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O MEDO DE SE SENTIR FELIZ




Você já parou para pensar quantas coisas perdeu na vida em função do medo?

Todos nós queremos se sentir felizes. No entanto, o passado e as experiências que tivemos ao longo da vida podem fazer com que o sofrimento seja para nós um território conhecido, familiar e, portanto, sentido como mais seguro. A felicidade, ao contrário, pode trazer uma certa angústia, e a sensação de que o perigo se aproxima. É muito freqüente lutarmos muito pela nossa felicidade e bem-estar e, quando sentimos que finalmente as coisas estão bem, apoderar-se de nós uma ansiedade inexplicável. Começamos a ver problemas onde não existem, ou até mesmo começamos a boicotar inconscientemente os nossos planos.

Isto acontece como uma defesa. Acabamos nos preparando automaticamente para a possibilidade do sofrimento, porque no passado foi muito difícil suportar os sentimentos que vieram das experiências negativas. Assim, sempre que está tudo bem, dispara um alarme interior que nos deixa em estado de alerta para o que vem a seguir, não nos permitindo vivenciar o presente em plenitude.

Nossos temores não são tão infundados assim. O fluxo da vida é realmente impermanente. Por melhor que estejamos no presente, sempre pode ocorrer algo no futuro que vai nos fazer sofrer. As perdas, os fins, as mudanças inevitavelmente batem à nossa porta, independente do quanto estamos felizes no agora. No entanto, precisamos aprender a nos soltar e confiar. Enquanto permanecermos apegados à sensação de segurança do sofrimento, dificilmente vamos conseguir viver uma vida com sentido e propósito, dificilmente vamos conseguir viver a nossa vida com toda a sua riqueza. Vamos permanecer eternamente oscilando entre a ansiedade e a depressão, perdendo inúmeras oportunidades que surgem de vivermos momentos felizes e positivos. Esses momentos podem até ser breves, mas são eles que nos dão forças para suportar os momentos difíceis. São eles que nos fazem perceber que a vida tem um sentido, que vale a pena de ser vivida e que existe algo a que se agarrar, mesmo quando encontramos obstáculos pelo caminho. 

Que a nossa vontade de ser feliz seja sempre maior do que o nosso medo de perde-la!

Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

O parto natural mais famoso de todos os tempos


Natalie Lennard ('Miss Aniela'), fotógrafa do Reino Unido, criou uma série de fotografias sobre o nascimento intitulada “A Criação do Homem” cujo propósito era mostrar com extrema fidelidade a natureza do nascimento, e o quanto as mulheres são aptas a dar à luz, sem interferências, como qualquer outra das 5 mil espécies de mamíferos do planeta.

Uma das imagens criadas pela artista foi o nascimento de Jesus, retratando o êxtase e o poder de Maria ao dar a Luz. Após intensa pesquisa, ela verificou que todas as imagens de arte relacionadas a este acontecimento sempre mostram os momentos do pós-parto, mas nunca o nascimento em si. Um parto que, segundo a lenda, foi realizado no estábulo, rodeado de animais, o que o aproxima de sua natureza selvagem e instintiva. Uma imagem de difícil absorção para uma sociedade de bases patriarcais que nega e reprime o feminino, ou a nossa realidade instintiva, animal, emocional.

No entanto, esse é o nascimento mais famoso de todos os tempos. Todos os anos, mesmo sem perceber, celebramos esse parto! Eis a história...


A natividade de Jesus recontada


No dia em que Jesus estava pronto para vir ao mundo, Maria recebeu uma mensagem não verbal de humildade. Não verbal, porque essa mensagem veio da própria natureza do nascimento. Encontrou-se ela em um estábulo, entre outros mamíferos. Sem palavras, eles a ajudaram a entender essa mensagem naquele dia: ela tinha que aceitar sua condição de mamífero. Ela tinha que lidar com a desvantagem da sua humanidade e desconsiderar a efervescência de seu intelecto. Ela tinha que liberar os mesmos hormônios que os outros mamíferos parturientes, através da mesma glândula e da mesma parte primitiva do cérebro, que todos nós temos em comum.

O ambiente foi idealmente adaptado às circunstâncias. Maria sentiu-se segura e, por isso, seu nível de adrenalina foi o mais baixo possível. O trabalho pôde estabelecer-se nas melhores condições possíveis. Tendo percebido essa mensagem de humildade e aceitando suas condições de mamífero, Maria colocou-se de quatro. Em uma postura como essa, e na escuridão da noite, ela pôde facilmente se afastar do mundo cotidiano.

Logo após o nascimento, o recém nascido Jesus estava nos braços de uma mãe extática, tão instintiva como um mamífero não humano. Ele foi recebido em uma atmosfera sagrada e não violenta. Foi capaz, de forma fácil e gradual, de eliminar o alto nível de hormônios do estresse que ele produziu ao nascer. O corpo de Maria estava quente. O estábulo também estava quente, graças à presença dos outros mamíferos. Instintivamente, Maria cobriu seu bebê com um pedaço de pano que ela tinha na mão. Ela ficou fascinada com os olhos do seu filho e nada poderia distraí-la do contato prolongado com ele. Olhar um para o outro foi fundamental para a produção de oxitocina, de modo que seu útero se contraiu novamente e devolveu uma pequena quantidade de sangue enriquecido da placenta ao longo do cordão umbilical para o bebê; e logo depois, a placenta foi liberada.

Mãe e bebê puderam se sentir seguros. Maria, guiada por seu cérebro de mamífero, ficou de joelhos por um curto período de tempo após o nascimento. Depois que a placenta foi liberada, ela se deitou de lado com o bebê perto de seu coração. De repente, Jesus começou a virar a cabeça de um lado para o outro, abrindo sua boca. Guiado pelo odor do cheiro, ele se aproximou cada vez mais do mamilo, enquanto Maria, que ainda estava em um equilíbrio hormonal muito especial, e ainda se comportando de forma muito instintiva, soube como segurar seu bebê, fazendo o tipo de movimentos que o ajudaram a encontrar o peito. Jesus foi iniciado por sua mãe.

Jesus passou um longo tempo sugando vigorosamente. Com o apoio de Maria, ele conseguiu sair vitorioso de um dos episódios mais críticos de sua vida. No espaço de alguns minutos, ele entrou no mundo dos micróbios. Adaptado à atmosfera, separado da placenta, começou a usar seus pulmões e respirava independentemente. Também estava adaptado à força da gravidade e às diferenças de temperatura. Jesus é um herói!

Não havia relógio no estábulo. Maria não contou quanto tempo Jesus estava no peito antes de adormecer. Durante a primeira noite após o nascimento, Maria teve apenas alguns episódios de sono leve. Ela estava vigilante e protetora, ansiosa para satisfazer as necessidades da mais preciosa criatura da terra.
Nos dias que se seguiram, Maria aprendeu a reconhecer quando seu bebê queria ser embalado. Ela estava tão em sintonia com ele que poderia perfeitamente adaptar o ritmo dos movimentos de balanço à demanda do bebê. Ao balançar, Maria começou a cantar algumas músicas; as palavras iam sendo adicionadas. Como milhões de outras mães, ela redescobriu canções de ninar. Foi assim que Jesus começou a aprender sobre o movimento e, portanto, sobre o espaço. Foi assim que ele começou a aprender sobre o ritmo e, portanto, sobre o tempo. Ele estava gradualmente entrando na realidade do espaço e do tempo. Quando o bebê Jesus cresceu, Maria começou a introduzir mais e mais palavras em suas canções de ninar, e foi assim que Jesus aprendeu a língua materna.



“O nascimento de uma criança é algo tão cotidiano, algo que estamos tão habituados a ver, que muitas vezes esquecemos a grandeza, a magia desse ato inédito que é... 
Criar uma alma.”
-         Laurent Gounelle, psicólogo e escritor francês.


 

 


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

Para acompanhar o processo de produção da fotografia acesse:


Fontes:
CAVALCANTI. Raissa. O casamento do Sol com a Lua: uma visão simbólica do masculino e do feminino. Circulo do Livro, 1987.
LENARD, Nathali. Miss Aniela. www.facebook.com/missanielaphotography/
ODENT, Michel. A cientificação do amor. Midwifery Today, Vol. 58, 2001. Disponível em  http://www.wonderfulbirth.com/Services/ViewServices.asp?Ref=2305

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

As Princesas e as Bruxas


Existe a mulher do tipo “princesa Disney”: opaca, rasa, boazinha, que nunca desceu aos porões do seu inferno pessoal e nem sabe que eles existem. Ela pratica o "bem" porque aprendeu que assim deveria fazer. Foi criada para agradar, e vive sua vida com uma suavidade enjoativa e previsível.

E existe a mulher do tipo “bruxa feiticeira”, aquela que integrou o mal, que desceu aos porões mais escuros, e de lá saiu íntegra, forte e amadurecida. Sua voz tem profundidade, porque ecoa do fundo do ser. Ela não tem a intenção de agradar, mas de realizar a si mesma. Ao fazer o bem, ela faz uso dessa força que vislumbrou nos infernos, cujo conhecimento põe à sua disposição uma energia extraordinária. Ela conhece a sombra, e por isso não tem a aparência assim tão frágil como a da princesa. Ela tem a força dos demônios que conheceu e integrou em si mesma.

Quando a mulher toma consciência da quantidade de qualidades e potencial que tem dentro de si, é certo que ganha vontade de se transformar em uma bruxa...

Drops publicado especialmente para o Dia das Bruxas e dedicado a todas as mulheres fortes e destemidas.

Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS


sábado, 28 de outubro de 2017

A REALIDADE É RELATIVA



Aquilo que chamamos de realidade é completamente influenciada pelas emoções despertadas pela situação. Às vezes, podemos enfrentar um grande problema com pouco sofrimento. Outras vezes, um pequeno problema pode gerar muito sofrimento. E isso vai depender das feridas emocionais prévias que todos carregamos internamente. Se a situação que está na nossa frente tocar em uma destas feridas, nossa resposta emocional virá carregada por essa ferida. É o que chamamos na Psicologia de COMPLEXO. 

Nossos complexos emocionais nos fazem repetir padrões de resposta diante dos acontecimentos, como se uma entidade tivesse “baixado” em nós e nos possuído. O complexo turva a nossa visão e nos faz enxergar a realidade a partir da sua ótica. Isso acontece com todo mundo, de forma autônoma e inconsciente. Por isso a importância de tomarmos consciência de tudo aquilo que sentimos em profundidade, para não ficarmos repetindo padrões de resposta e vivermos nossa vida pessoal de forma distorcida, repetitiva e reduzida ao passado e ao sofrimento que ele produziu.

Ao nos deparamos com reações, fatos ou problemas repetitivos, tomenos como um sinal de que há um complexo ativo que precisa ser conscientizado e trabalhado, e de que também existe um caminho alternativo, ou uma outra realidade possível para aquilo que estamos enfrentando.


Precisamos relativizar sempre o nosso olhar. Essa é uma premissa básica tanto para o mundo real quanto para o mundo virtual.

Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

Não somos aquilo que nos aconteceu...



Nossa história pessoal é muito importante, mas não por possuir um poder determinante sobre a nossa vida. Os fatos que aconteceram, e que continuam acontecendo, tem a função de nos mostrar a sombra, ou seja, aqueles aspectos de nós mesmos que precisam ser integrados e que são inconscientes (ou semiconcientes): insegurança, rejeição, abandono, menos valia, auto sabotagem, agressividade destrutiva, culpa, competitividade, desejo de poder, vaidade, narcisismo, materialismo, imaturidade... Aspectos que nos fazem sentir frágeis e confusos diante da vida, fruto da nossa ignorância em relação a todo potencial que carregamos dentro de nós. 

Assim, tudo aquilo que acontece ou aconteceu vai na medida da necessidade do nosso desenvolvimento e serve como um GPS da Alma, um instrumento de localização que nos mostra onde estamos em relação ao que realmente somos. Essa consciência precisa ser bem enraizada para não permanecermos psicologicamente infantis, identificados com o eu-criança, levando uma vida reduzida à frustração e ressentimento, e com baixíssimo nível de realização pessoal. 

Cada um de nós possui um universo dentro de si, com infinitas possibilidades para criar e estar no mundo. Não é preciso se reduzir ou se aprisionar aos acontecimentos. Nós não somos aquilo que nos aconteceu. Nós somos aquilo que decidimos nos tornar.


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

REF: Pássara Franklin Seixas - Projeto Terra de Rudá 

O Nascimento como Fronteira



O nascimento é uma fronteira. Nascer é perceber que existe fronteira entre o eu e o outro. Quem conhece as suas fronteiras, quem estabelece limites entre o eu e o mundo, passa a conhecer mais sobre si mesmo e também sobre o próprio mundo.

Será que nós conhecemos quais são as nossas potências e quais são as nossas impotências? Será que quando entramos em um projeto, em uma equipe para trabalhar, nós temos conhecimento daquilo que não sabemos? Será que nós sabemos pedir ajuda para as outras pessoas? Será que nós temos clareza dos nossos limites enquanto pai e mãe, enquanto companheiro(a), enquanto amigo(a)?

Quanto mais pudermos olhar para os nossos limites, mais vamos perceber que somos absolutamente humanos, cheios de qualidades e defeitos, e mais vamos dar permissão para que os outros também errem, também observem sua própria humanidade e reconheçam seus próprios limites.

Essa é a base (e o ponto de partida) para a construção de relacionamentos baseados na empatia, na conexão, no vínculo amoroso e na parceria. Quem reconhece seus limites, consegue reconhecer os limites do outro, tem plena consciência das suas potências e impotências e sabe dizer não. A autoestima melhora e as relações tornam-se mais prazerosas e produtivas para todos os envolvidos.


E você, já nasceu?


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre

Essa tal de Resiliência...




Resiliência é uma daquelas palavrinhas da moda, vista como uma característica muito positiva e que se torna motivo de orgulho para muita gente. Existe uma extensa literatura a respeito do tema, principalmente a literatura de auto ajuda ou motivacional. Podemos defini-la como a capacidade que uma pessoa tem de enfrentar e superar as adversidades. Quanto mais resiliente uma pessoa é, mais recursos internos ela tem para transpor as dificuldades da vida, mais forte e capaz ela é. Só que não...

Em se tratando de emoções, nada é tão preto e branco assim. Acontece que essa tal de resiliência pode ter um efeito muito perverso sobre o equilíbrio emocional de muita gente. Ser “forte”, aguentar muita coisa durante muito tempo, nem sempre é uma boa ideia. Às vezes, fraquejar, desistir, desmoronar ou até mesmo impor limites para uma situação difícil pode ser justamente a nossa salvação. Pode ser a possibilidade de recomeçarmos a nossa vida de uma forma mais equilibrada e mais saudável, seja porque fomos atrás de ajuda ou porque conseguimos finalmente reconhecer algo que só nos fazia mal: um relacionamento, um emprego, uma função, uma responsabilidade, um lugar.

No fundo, algumas pessoas precisam aprender a ser menos “resilientes” e mais capazes de aceitar suas vulnerabilidades e suas dores. O sofrimento diminui e se torna menos traumático, porque procuramos soluções mais cedo para as dificuldades e os sofrimentos.

Ser resiliente de verdade, ou seja, ter a capacidade de lidar com problemas, de adaptar-se a mudanças, de superar obstáculos ou de resistir à pressão só é possível quando vem acompanhada do pleno reconhecimento das nossas fragilidades e limites.


Vamos seguir pelo caminho do meio...

Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O Tédio

(A Princesa que nunca sorriu - Vasnetsov Nesmeyana)



Quem tem Deuses nunca tem tédio.
O tédio é a falta de uma mitologia.
Fernando Pessoa


Sempre que canalizamos nossa energia contra as nossas necessidades instintivas durante um longo período de tempo, ou somos obrigados a servir a valores que nos são estranhos, o resultado é inevitável: sentiremos tédio. Aquele sentimento de vazio, de falta de energia para realizar atividades rotineiras, de frustração, inércia e insatisfação.

Atualmente, o trabalho realizado pela maioria das pessoas caracteriza-se por ser extremamente repetitivo, monótono e condicionado à ambientes artificiais. Até mesmo os profissionais liberais precisam se encaixar em estreitos parâmetros de desempenho, que pouco levam em conta o valor, a riqueza e a diversidade das almas individuais. Poderíamos dizer, inclusive, que quanto mais bem sucedida a vida exterior de uma pessoa, quanto mais reconhecida pela sociedade ela é, mais provável é que ela esteja se sentindo encurralada por esse sucesso, prisioneira de inúmeras obrigações e expectativas que só aumentam com o tempo.

O sucesso, tão almejado em nossa sociedade, pode aprisionar consideravelmente a alma. E é justamente nos momentos de ápice das nossas atividades que o tédio vem nos visitar, justamente naqueles momentos em que experimentamos uma progressiva redução do entusiasmo pelo nosso trabalho, ou uma ausência de vontade, desejo ou energia em seguir adiante.

Existe uma cobrança muito forte na nossa sociedade para que sejamos produtivos o tempo todo. Precisamos render cada vez mais, e de forma cada vez mais rápida. Somos definidos por aquilo que produzimos e, portanto, nos sentimos humilhados ao nos percebermos improdutivos. Então, como atores dedicados que somos, vestimos nossa Persona social e passamos a desempenhar o papel, conforme as expectativas do público. Vamos tentando acelerar a vida. As exigências são muitas, e o tempo nunca é o suficiente para dar conta de todas elas. Naturalmente que haverá uma compensação.

À semelhança de outras emoções perturbadoras, como a raiva, o medo ou a culpa, por exemplo, o tédio também traz com ele uma tarefa psicológica que precisamos resolver, a fim de restaurar nosso equilíbrio. Diante do tédio e da falta de energia criativa, precisamos reconhecer honestamente que estivemos contrariando nossa própria natureza, e que a vida pode ser muito mais simples do que nós supomos. Todos nós sabemos disso, mas às vezes precisamos levar uma “chacoalhada” da vida para realmente encararmos com seriedade esse assunto.

Nós possuímos recursos psíquicos importantes que podem nos auxiliar nessa tarefa e que podem nos servir de guia na forma de conduzir a vida: a função sentimento e o fluxo de energia vital.

O sentimento é uma função racional que promove uma análise autônoma e qualitativa da vida. Essa função nos diz se alguma coisa está correta ou não, adequada ou não. Da nossa parte, precisamos tornar conscientes esses sentimentos que brotam do mundo interior, e então decidir se vamos agir de acordo com eles. Infelizmente, a maioria de nós perdeu contato com esse recurso e, freqüentemente, passamos por cima dele, justamente para sermos produtivos. Por outro lado, o fluxo de energia vital é um guia poderoso para pensarmos se as escolhas que estamos fazendo são, de fato, corretas para nós. Ou seja, se o que estamos fazendo está correto, a energia está disponível. Essa afirmação é tão verdadeira, que soa quase como um mantra que deveríamos lembrar todos os dias ao acordar. Mas, freqüentemente canalizamos os nossos sentimentos e a nossa energia para tarefas insípidas, porque somos recompensados por isso e porque certamente sentiríamos vergonha se parássemos.

No entanto, a experiência do tédio vibra, e nos chama para uma nova consciência. “Que tarefa estamos evitando?”, Carl Gustav Jung costumava perguntar. E a resposta é simples: normalmente, estamos evitando assumir a responsabilidade pela própria vida. Durante a infância, aprendemos sobre nossa impotência, internalizamos as figuras de autoridade e também as regras da sociedade. Mais tarde, na qualidade de “formigas operárias adultas”, como disse o analista James Hollis, passamos a servir-lhes de forma eficaz. Enfrentar esse arsenal interno provoca culpa e ansiedade, mas, por outro lado, permanecer no tédio é optar pelo afastamento cada vez maior do nosso eu autêntico.

Precisamos ter em mente que a energia perdida é sempre recuperável. Quando escolhemos servir aos desígnios da nossa alma, a energia retorna e fica novamente disponível. A responsabilidade de viver a vida e o seu chamado, com todas as suas exigências e implicações, continua a ser nossa. O tédio é como se fosse um protesto da nossa alma, que remove toda nossa energia criativa, porque ela não aprova a maneira como a estamos conduzindo. Podemos até desprezar este sinal, mas é bem provável que os sintomas se intensifiquem. Por mais desagradáveis que sejam, eles são advertências amigáveis cuja função é transformar a nossa vida. Cabe a nós aceitarmos.


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS


Fonte: HOLLIS, James. Os Pantanais da Alma: nova vida em lugares sombrios. Coleção Amor e Psique. São Paulo: Paulus, 1998.


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Como andam seus relacionamentos?



Para além do romantismo, o sentido de uma relação amorosa é ser uma escola onde aprendemos sobre nós mesmos e sobre nossas concepções de amor e liberdade. A relação afetiva produz inevitavelmente uma série de situações que nos possibilitam conhecer e, portanto, remover possíveis obstáculos que nos impedem de amar e se relacionar de forma verdadeira com o outro.

Existem certas lições que nós só conseguimos aprender através das relações amorosas, porque elas são catalisadoras de todas as nossas feridas, de tudo aquilo que não está integrado em nós. Todo nosso passado é reeditado nesse cenário para que possamos ter a chance de integrá-lo, curando as feridas emocionais que ainda estão, de alguma forma, interferindo no nosso sistema psíquico-emocional. 

Por outro lado, embora o relacionamento amoroso seja um poderoso instrumento de autoconhecimento, ele também pode nos levar a uma espécie de sono. Nós podemos ficar presos em determinados padrões destrutivos, repetindo seus roteiros e andando em círculos, deixando de aprender e crescer.

Para que um relacionamento amoroso seja considerado saudável e maduro, para que exista amor, é preciso que ele esteja pautado na liberdade e no respeito à individualidade do outro.  Isso implica na ausência de sentimentos de poder, ciúmes e possessividade.  Jung costumava dizer que onde o poder predomina, há falta de amor, pois um é a sombra do outro.

Uma relação amorosa madura deve pressupor que o outro é uma pessoa livre, principalmente da necessidade de nos amar eternamente. Essa compreensão é a prova final de qualquer relacionamento, pois exige de nós um trabalho árduo em relação às nossas carências afetivas e emocionais mais profundas. É só dessa forma que nós conseguiremos ser de fato livres e deixar o outro livre.

Às vezes, ficamos tão cegos pelas nossas carências, que não conseguimos perceber nossa necessidade de estar só, ou não conseguimos perceber se nossas relações têm contribuído para o nosso crescimento. Mas, quando uma relação se torna eminentemente destrutiva, precisamos ter a coragem de olhar para isso de frente, encarar a verdade e o medo que sentimos de ficar sozinhos. Precisamos, acima de tudo, ser honestos com nós mesmos e com o outro.

Às vezes, também, mantemos um relacionamento para poder ter onde projetar nossos sonhos de príncipes e princesas encantadas. O outro passa a funcionar como uma tela na qual projetamos todos os nossos ideais de perfeição. Porém, quando essa pessoa quer deixar de ser essa tela, ou quando sentimos que nossas projeções não se sustentam mais, costumamos terminar a relação. Então ficamos procurando ansiosamente outras telas para poder continuar projetando nossos ideais, nossos sonhos. Outras vezes, passamos a exigir que o outro se torne um escravo dos nossos desejos, como uma prova do seu amor por nós.  Mas precisamos ter a consciência que isso não é amor. Isso é prisão, é estabelecer uma relação de poder com o outro.

Precisamos sempre nos perguntar os motivos que nos mantém em uma relação. Não devemos ter medo de sermos honestos. Se os nossos relacionamentos são baseados no amor, na liberdade, no crescimento e no aprendizado mútuos, sigamos em frente. Do contrário, tenhamos a coragem de olhar para tudo o que nos mantém presos à essas relações, dando os passos necessários para a nossa expansão e amadurecimento.


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS



Ref: BABA, Sri Prem. Seu relacionamento amoroso tem feito você crescer? Disponível em https://www.sriprembaba.org/.../seu-relacionamento-amoroso-tem-feito-voce-crescer. JUNG, Carl Gustav. Presente e Futuro. Obras Completas. Vol. X. Petrópolis: Vozes, 1999. 

terça-feira, 12 de setembro de 2017

POR QUE AS PESSOAS FALAM TANTO? (ou Os Cinco Tipos básicos de Surdos)




Certa vez a jornalista Eliane Brum disse que nós vivemos em um mundo de “surdos sem deficiência auditiva”, já que a maioria das pessoas se preocupa mais em falar, do que escutar. E, o pior, se preocupam apenas em falar sobre si mesmas.


Se pararmos para analisar, muito daquilo que se diz em uma conversa, não precisaria realmente ter sido dito. Na verdade, procuramos preencher todos os espaços possíveis com uma torrente de palavras, na tentativa de fugir ou esconder o medo que temos do silêncio e, certamente, com a possibilidade de nos encontrarmos com o nosso mundo interior e com a realidade do outro que está ali na nossa frente.



Eliane fez uma listagem, bastante divertida até, dos cinco tipos básicos de surdos que ela detectou ao observar as pessoas em uma conversa. Eis aqui:

Tipo 1: aqueles que literalmente falam. Emendam um assunto no outro e quase não respiram. 

Tipo 2: aqueles que falam e falam e, de repente, percebem que deveriam perguntar alguma coisa a você, por educação. Perguntam. Mas quando você está abrindo a boca para responder, já enveredaram para mais algum aspecto sobre o único tema que conhecem: eles mesmos. 

Tipo 3: aqueles que fingem ouvir o que você está dizendo. Você até consegue responder. Mas, quando coloca o primeiro ponto final, percebe que não escutaram uma palavra do que você disse. De imediato, eles retomam do ponto em que haviam parado. E não há nenhuma conexão entre o que você acabou de dizer e o que eles começaram a falar.

Tipo 4: aqueles que ouvem o que você diz, mas apenas para mostrar em seguida que já haviam pensado nisso ou que sabem mais do que você. (o que é só mais um jeito de não escutar).

E, por fim, o Tipo 5: aqueles que só ouvem o que você está dizendo para rapidamente reagir. Enquanto você fala, ficam em busca de argumentos para demolir os seus e vencer a discussão. A ideia é ganhar. Para eles, qualquer conversa é um jogo em que devem sair vitoriosos. E o outro, de preferência, massacrado. Só conhecem uma verdade, a sua. E não aprendem nada, por acreditarem que ninguém está à altura para lhes ensinar algo.


Esses são apenas alguns tipos que ela conseguiu encontrar, certamente deve haver outros por aí. Também podemos pensar em um mix das várias modalidades em uma mesma pessoa, ou até em nós mesmos. Será que já paramos para pensar sobre isso?

O fato é que nós vivemos em um mundo barulhento, povoado por faladores compulsivos. E um mundo assim é solitário, restrito e muito chato. 

Façamos o nosso mea culpa!


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS

sábado, 19 de agosto de 2017

Nossos parceiros invisíveis...





Os homens costumam pensar e julgar-se apenas como homens e as mulheres apenas como mulheres, mas os fatos psicológicos mostram que dentro de todo homem existe o reflexo de uma mulher, e dentro de cada mulher existe o reflexo de um homem. Jung chamou esses opostos de Anima e Animus. 


Anima seria o componente feminino que existe na personalidade do homem, e o animus o componente masculino que existe na personalidade da mulher. Eles personificam a minoria de genes femininos ou masculinos existentes dentro de nós. O ego, na sua evolução psicológica habitual, identifica-se com a qualidade masculina ou feminina do corpo e, assim, a outra parte se transforma numa função inconsciente. Esses fatores psíquicos são geralmente projetados, os vemos fora de nós, como se fizesse parte da outra pessoa e nada tivesse a ver conosco. 

Nós fazemos isso de forma inconsciente. 

Isso tem implicações importantes para o relacionamento entre os sexos, pois cada um projeta sobre o outro sua qualidade inconsciente. A pessoa que carrega a projeção nos atrairá ou nos causará repulsa, da mesma forma que um imã. 

Quando um homem e uma mulher projetam ao mesmo tempo suas imagens positivas sobre o outro, temos aquele estado aparentemente perfeito de estarem apaixonados! 

Porém, eles não estão se vendo como realmente são, mas como desejam que o outro seja. E está aí o fato do porque relacionamentos exclusivamente baseados na paixão não duram. As projeções positivas diminuem sua intensidade com o tempo, e o ser humano real que está diante de nós começa a aparecer de verdade.

As projeções de anima e animus em si não são boas nem más. Na verdade, elas são inevitáveis! O que fazemos com elas é que deve ser levado em conta, pois toda vez que ocorrem surge para nós uma excelente oportunidade de conhecermos o nosso mundo interior.




Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831


Ref: SANFORD, John A. Os Pareceiros Invisíveis: o masculino e o feminino dentro de cada um de nós. São Paulo: Paulus, 1987.


(Para atendimento clínico na cidade de Porto Alegre, favor mandar email para meldeluz@hotmail.com ou entrar em contato através do messenger do facebook www.facebook.com/Psycodrops )

domingo, 13 de agosto de 2017

A Paternidade nos dias atuais



A participação ativa dos pais na criação dos filhos é um movimento crescente, mas ter pai presente ainda é, infelizmente, um luxo para a maioria. No Brasil, em torno de 6 milhões de crianças não tem o nome do pai na certidão. Outras têm o nome, mas o pai abandou a família ou não são nem um pouco participativos. Por isso, precisamos falar e incentivar os homens a repensarem o seu papel.

Para além do âmbito subjetivo, ainda existem muitos sinais sociais que excluem o pai da participação na vida dos filhos, por exemplo: licença paternidade de apenas 5 dias, inexistência de fraldários em banheiros masculinos, de bonecas que dizem “papai”, além dos recados escolares que são sempre dirigidos às mães, sendo estas as que normalmente participam das reuniões e eventos escolares.

Já é de conhecimento da maioria que a ausência paterna prejudica o desenvolvimento e estruturação da personalidade da criança, mas não é só ela a prejudicada. À mulher cabe todo o peso e responsabilidade sobre a criação dos filhos, e o homem, por sua vez, deixa de desenvolver uma parte importante do seu papel no mundo, incluindo a manifestação dos seus afetos e o desenvolvimento de uma maior maturidade emocional.

Precisamos refletir sobre o que entendemos sobre paternidade nos dias atuais, pois esta não se resume apenas à participação genética, DNA ou sobrenome. Ser pai é estar presente, participar da criação e da rotina dos filhos e de cada dificuldade que se apresenta. Em um mundo em que as mulheres também se tornaram provedoras, é preciso que os homens também aprendam a se tornarem cuidadores.

Como disse Marcos Piangers, pai precisa ser muito mais do que um "pai de selfie": tirar fotos, postar nas redes sociais, ganhar muitas curtidas e só.

Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831

(Para atendimento clínico na cidade de Porto Alegre, favor mandar email para meldeluz@hotmail.com ou entrar em contato através do messenger do facebook)

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Deixa a tristeza falar...




Há certos momentos em que nos sentimos tristes e tudo o que queremos é ficar em silêncio e manter um certo isolamento da sociedade. E não há nenhum mal nisso. Nós não somos seres estáticos, robóticos, que possuem apenas um tipo de emoção. Somos seres vivos, mutantes, vivendo e convivendo com as mais diversas situações e pessoas todos os dias. E, nesse contexto, as emoções fluem, se transformam. 


Não é fácil estar triste, não é fácil aceitar esse estado de espírito na nossa vida. E, em uma sociedade que nos obriga constantemente a expor uma felicidade nem sempre genuína, admitir a própria tristeza é praticamente um ato de coragem. No entanto, a tristeza é um sentimento natural, faz parte da vida. É preciso respeita-la, dar-lhe ouvidos. Ela tem muito a nos ensinar, porque é ela quem nos orienta a sair de uma situação que não está nos fazendo bem. 

Menosprezar nossas emoções e sentimentos, vestindo máscaras, só contribui para gerar ainda mais conflitos internos e dificuldades em se sentir bem, incluindo a possível manifestação de sintomas físicos. 

Por isso, precisamos reconhecer e enfrentar tudo aquilo que se encontra dentro de nós. Fugir só adia os problemas, não os soluciona. Quanto mais um conteúdo emocional é reprimido, mais ele cria raízes e mais forte ele se torna. Lembrando também que o diálogo e o contato com a natureza são excelentes remédios.






Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831


(Para atendimento clínico na cidade de Porto Alegre, favor mandar email para meldeluz@hotmail.com ou entrar em contato através do messenger do facebook)


Ref: MEDEIROS, Nath. Respeite a sua Tristeza. Disponível em http://www.contioutra.com/respeite-sua-tristeza/

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Deixe que a Vida seja!





Nós temos a necessidade de criar rótulos para tudo o que sentimos e percebemos, e para todas as experiências que vivenciamos. E isso acaba por acarretar um conflito quase ininterrupto com as pessoas e as situações.
No entanto, isso é apenas um hábito. E, como todo hábito, ele pode ser mudado. Não é preciso fazer nada. Basta aceitarmos, sem resistências, sem julgamentos, tudo aquilo que se apresenta diante de nós. 

Para isso, precisamos nos dar conta da fugacidade da vida. Precisamos nos dar conta que nada nem ninguém pode nos oferecer algo que tenha um valor permanente. Nós continuamos a conhecer pessoas e a se envolver em experiências e atividades, mas sem os apegos, desejos e medos do nosso próprio ego. Simplesmente, paramos de exigir que as pessoas, situações, lugares ou fatos nos satisfaçam ou nos façam felizes. 

Não é uma questão de "aproveitar o momento", como se diz. É uma questão de ACEITAR o momento, tal qual ele se apresenta, partindo do princípio que tanto a luz quanto a sombra fazem parte da vida e são completamente necessárias para o nosso crescimento e amadurecimento psicológicos.

Ao aceitarmos aquilo que se apresenta, a pergunta "mas POR QUE isso foi acontecer comigo?" cede lugar para as perguntas "mas PARA QUE isso foi acontecer comigo?", "para onde isso me leva?", "O que preciso desenvolver em mim mesmo que eu ainda não desenvolvi?".

No lugar do conflito, surge a paz interior e um nível infinitamente mais profundo de percepção e compreensão, tanto em relação a nós mesmos, quando em relação às pessoas e às situações ao nosso redor. Damos um verdadeiro salto de qualidade!


Por Melissa Samrsla Brendler
CRP 07/13831

(Para atendimento clínico na cidade de Porto Alegre, favor mandar email para meldeluz@hotmail.com ou entrar em contato através do messenger do facebook)


Ref: TOLLE, Eckhart. O Poder do Silêncio. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.

sábado, 8 de julho de 2017

Keep Calm and Encare seus demônios!!!





O Dr. Bruce Banner é um cara bem legal. É um cientista brilhante e um dos maiores especialistas do mundo em física nuclear. É normalmente amigável e simpático. Mas Bruce tem um problema: quando fica com raiva, transforma-se em uma gigantesca criatura verde, irada, que sai quebrando tudo que vê pela frente. Ele se torna o Incrível Hulk, das histórias em quadrinhos e dos filmes.

Bruce é um personagem da ficção, mas todos nós temos algo em comum com ele. Carregamos, dentro de nós, emoções e pensamentos negativos, que podem se tornar muito destrutivos, se não olharmos para eles com cuidado. O psicanalista Carl G. Jung chamou essa área de "sombra". São nossos monstros internos. Eles têm um potencial enorme para sabotar nossos planos e relacionamentos, e de nos deixar confusos e isolados.

Todos nós nascemos com um lado claro e um lado escuro, como o Dr. Bruce. Isso faz parte do que é ser humano. Acontece que nossa consciência não quer saber muito disso. Nós não lidamos muito bem com esse nosso lado sombrio, porque ele nos envergonha, traz culpa, medo. Preferimos varrer tudo para debaixo do tapete, ou seja, deixar que tudo permaneça inconsciente. Isso acontece através de um processo chamado "dissociação". Aquilo que não conseguimos aceitar separa-se do resto da nossa psique, e vai para o inconsciente. E então, acontece uma outra coisa que chamamos de “projeção”, ou seja, os conteúdos que não conseguimos reconhecer em nós, passamos a enxergar do lado de fora, nas outras pessoas. E é aí que começam os conflitos. Passamos a nos irritar profundamente com o outro, pois o outro representa aquilo que não conseguimos reconhecer em nós mesmos.

O fato é que não fomos treinados para lidar com a nossa sombra; por isso que é tão difícil reconhecê-la e aceitá-la. Fomos ensinados a reprimir e a temer o lado obscuro da vida. Por exemplo, quem já não ouviu, quando criança, que era errado sentir raiva, medo, ansiedade, desejo? E aí crescemos sem ferramentas internas para lidar com as nossas emoções.

No entanto, nossos sentimentos e emoções são legítimos, e precisamos legitimá-los. Precisamos lembrar que nenhum sentimento, nenhuma emoção, nenhum impulso que possamos sentir é errado. Nós não temos o controle sobre isso. Na verdade, o problema não são eles, mas o que fazemos com eles. Nossos monstros internos são nossos grandes professores, pois nos mostram aquelas questões que nos afetam mais profundamente e que, por isso, precisamos olhar e transformar para voltarmos a nos sentirmos novamente inteiros e em harmonia com a vida. Se passarmos a enxergar nossos impulsos inconfessáveis como nossos professores - Jung os chamava de "sparring", o parceiro do treino de boxe -, poderemos transcendê-los e aí, e só aí, eles perderão força. Ficarão menos assustadores, menos asquerosos. Poderemos até usa-los para fins criativos, como o Dr. Bruce fez.


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831

(Para atendimento clínico na cidade de Porto Alegre, favor mandar email para meldeluz@hotmail.com ou entrar em contato através do messenger do facebook)