domingo, 6 de novembro de 2016

Materialismo e Alquimia: Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta.





Embora se manifestem como elementos contrários, matéria e espírito, ou masculino e feminino, constituem um todo que se complementam, conforme a imagem do yin e yang, símbolo que representa a união e o equilíbrio entre os opostos. Esse equilíbrio tornou-se cada vez mais precário ao longo do desenvolvimento da consciência humana. A excessiva valorização do princípio masculino acabou nos levando ao individualismo, na medida em que o ego, a razão e a consciência foram sendo considerados os únicos donos e criadores de todas as coisas.

O feminino, embora tenha sido considerado algo inferior e desprovido de importância, nunca deixou de existir. Ele permaneceu num nível primitivo e pouco desenvolvido, buscando meios de se manifestar em um mundo dominado por juízos, valores e leis patriarcais. Com isso, o que seria ligação ou conexão com a terra, transformou-se em uma obsessão apaixonada pela matéria, ou por tudo aquilo que pode ser visto, tocado e usufruído pelos sentidos. O materialismo, quando extremado, representa a forma negativa como o homem se relaciona com a terra e com a natureza. Assim, o feminino, ao ser rechaçado, reprimido e mantido inconsciente, passou a mostrar-se no seu aspecto negativo.

O interesse na matéria, enquanto valorização daquilo que se mostra de forma concreta e objetiva, é algo encontrado também na Alquimia. As origens dessa antiga tradição remontam a Hermes Trismegisto e ao Deus egípcio Toth. Consistia em um vasto conjunto de técnicas e ensinamentos que buscavam, através da opus alquímica, transformar o vil metal em ouro.  O vil metal, algo desprovido de valor e importância, é a prima materia de um longo e meticuloso trabalho que consistia na busca pela pedra filosofal, o lapis philosoforum, a substância capaz de transformar os metais em ouro.

Concomitante a essa transformação, de onde se extraia algo superior de algo inferior, acontecia a transformação espiritual do alquimista, que ao executar sua obra, confrontava-se consigo próprio através de suas projeções sobre o mundo exterior. Assim, a mudança que acontecia fora era acompanhada de uma mudança que acontecia dentro, no interior de sua psique. O cerne da opus alquímica, deste modo, não era a transformação meramente física da matéria, mas uma transformação dos valores e do caráter do ser humano, este sim a pedra a ser transformada no verdadeiro ouro filosofal.

Muito diferente dos alquimistas, que viam na escuridão da matéria um caminho para o autoconhecimento, o homem de hoje, desenraizado e alienado de sua própria natureza, vive uma relação negativa com aquilo que poderia ser a prima materia de uma transformação maior de si e de seus valores. Por fixar seus interesses somente naquilo que se mostra de forma concreta, como os bens de consumo, por exemplo, o indivíduo passou a acreditar que o sentido e a finalidade da vida são impostos de fora para dentro, e não algo a ser buscado no âmago de cada um.  O homem moderno não só deixou de cultivar a cultura da alma, como perdeu também a capacidade de se voltar para dentro, para o seu mundo interior.

A falta de introspecção afasta o homem da realidade da sua alma e também impede que o mundo material seja compreendido como um recipiente das projeções do seu mundo interior, como ocorre, por exemplo, quando um sentimento de inferioridade e baixa auto estima é compensado pela posse de bens materiais. Esse tipo de atitude, quando utilizada para suprir um vazio ou falta de sentido, só faz aumentar a dependência e o apego em relação a esses bens, pois geram uma falsa sensação de prazer e bem-estar.

Quanto à isso, Jung dizia que “Não há dúvida de que é mais confortável morar numa casa bem ordenada e instalada, mas isso não resolve a questão de saber quem é o habitante desta casa e se sua alma também goza da mesma ordem e do mesmo asseio que a morada que serve à vida exterior. Ensina-nos a experiência que o homem voltado excessivamente para as coisas exteriores nunca se contentará com o estritamente necessário, ambicionando sempre o mais e melhor, que ele busca no exterior. Assim procedendo, se esquece por completo de que internamente continua sempre o mesmo, apesar dos sucessos exteriores, e é por isso que se queixa de sua pobreza quando só possui um carro, em vez de dois, como os outros”.

A metáfora da transformação do vil metal em ouro, ou seja, da transformação da prima materia na pedra filosofal, corresponde ao processo de individuação, enquanto busca e realização da nossa totalidade e singularidade mais última, única e incomparável. Processo esse que transforma a nossa vida, conferindo-lhe um significado maior, da mesma forma que os alquimistas buscavam extrair o ouro daquilo que não tinha valor algum.

Essa busca requer voltar o nosso olhar para o mundo interior, que é tão real quanto a materialidade daquilo que nos cerca. Caso contrário, estaremos sujeitos a sucumbir ao ideal da valorização irracional dos bens materiais, sendo levados a acreditar que só eles possuem algum valor legítimo. Na medida em que nos submetemos cegamente a isso, o valor atribuído a nós mesmos diminui, permanecendo na condição de algo vil e sem importância, enquanto tudo o que é exterior torna-se atraente e sedutor.

Precisamos recuperar nossos conteúdos interiores que estão projetados na materialidade do mundo exterior e reintegra-los à nossa consciência. Essa seria uma forma de encontrar novos sentidos para a vida, pois como disse Jung “é a consciência de que a vida tem uma significação mais ampla que eleva o homem acima do simples mecanismo de ganhar e gastar”. Só assim poderemos acessar nosso mundo interior e despertar para nós mesmos, pois, como já é sabido através daquela famosa frase do Jung, “aquele que olha para fora sonha, aquele que olha para dentro desperta”. Esse é o caminho da individuação, a busca pela pedra filosofal, que nos liberta do materialismo e nos torna cada vez mais livres e conscientes do nosso próprio potencial de transformação.


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS


Adaptado de: YABUSCHITA, F. Massao. The Dark Side of the Moon: a obra prima do Pink Floyd segundo a Psicologia Junguiana. Içara/SC: Dracaena, 2012.







sábado, 22 de outubro de 2016

O Sagrado Feminino: retornando à essência.





No tempo das primeiras expressões religiosas da humanidade, mais precisamente no período neolítico, muitas evidências arqueológicas apontam para uma característica comum em todas as partes do mundo: o culto à Grande Mãe. Doadora, curadora e também ceifadora da vida, essa Deusa assumiu diversos nomes como Gaia, Pachamama, Diana, Isis, Ishtar, entre outros. Foi revestida com as particularidades de cada cultura, sendo a generosa personificação da Terra.

As mulheres, por serem as representantes dessa Grande Mãe, possuíam um lugar de respeito e autonomia dentro dessa forma de organização social. Porém, a lógica dessa manifestação religiosa era bastante igualitária. Não era uma forma de dominação como o patriarcado acabou construindo.  Homens e mulheres eram, da mesma forma, filhos desta Terra e todos chegaram ao mundo através de um útero. Portanto, a reverência à natureza era o fundamento dos cultos à Grande Mãe, e entendia-se que a sobrevivência só era possível porque ela fornecia tudo o que se precisa para viver.

Com a transição da sociedade de coleta para a de caça, a partir de determinadas mudanças climáticas e invasões de povos bárbaros, as características típicas do masculino foram se tornando mais valorizadas, como a força física, a dominação do mais forte sobre o mais fraco e a lógica do pensamento linear (o feminino possui uma lógica mais intuitiva e sistêmica). Gradativamente, os mitos e ritos da religião da Deusa foram sendo substituídos pelo culto a divindades masculinas que, por sua vez, validavam a cultura da dominação e da guerra. E, como sabemos bem, a mulher perdeu sua autonomia e importância e passou a desempenhar um papel secundário, inferior ou coadjuvante.

A mulher, que antes era amada e reconhecida como humana e divina ao mesmo tempo e que, assim como a Terra, era livre e possuía algo de selvagem e indomável em sua alma e em seus olhos, passou a ser temida, reprimida e banida do convívio dos demais, quando não queimada, amordaçada e violentada. No entanto, a mulher é parte da natureza, ou melhor, ela é a própria natureza e não pode ser simplesmente aniquilada. Embora o que ainda possuímos são apenas resquícios, sua essência permanece viva nos confins do inconsciente de homens e mulheres que, em vista de toda essa repressão, sentem um profundo sentimento de vazio e solidão em suas vidas.

Resgatar o Sagrado Feminino hoje em dia é fazer um retorno das mulheres e homens contemporâneos a essa essência e a essa consciência de que a natureza, bem como seus corpos, ciclos, intuição, emoções e sensibilidade, entre outros aspectos, são tão importantes que merecem ser reverenciados. Quando revestimos um objeto, pessoa ou situação em um véu de máximo respeito e significado, isso se torna Sagrado para nós.  Retomar o sentido do Sagrado Feminino não significa voltar ao culto da Grande Mãe como fé e religião, mas simplesmente honrar os aspectos particulares da experiência biológica, social, psicológica e espiritual do que é ser uma mulher e também do feminino mais amplo que nos habita, tanto em homens quanto em mulheres.

No que se refere às mulheres, só de mudar o paradigma em torno da natureza de seus corpos e de seus ciclos menstruais já é um avanço bastante significativo. E isso exige apenas disponibilidade para o autoconhecimento e aceitação. A maioria das mulheres encontra-se profundamente desconectada de si mesma. Sentem inúmeros desconfortos físicos e emocionais, e as que tomam hormônios de forma contínua, acabam por não conhecerem as características de suas menstruações e de seus ciclos. Por estarem tão impregnadas pelo paradigma patriarcal, muitas mulheres não reconhecem mais, ou não conseguem mais acessar internamente a vivência saudável e natural da sua sexualidade e dos processos biológicos e psicológicos da menstruação, gestação, parto, amamentação e menopausa.

Quando a mulher reverencia o sagrado feminino dentro de si, a menstruação passa a ser vista como uma dádiva que lhe permite renovar-se fisicamente e energeticamente todos os meses, e não como um atraso ou algo sujo, incômodo e vergonhoso. E, assim da mesma forma, a vivência da sua sexualidade e de suas emoções. Além do mais, uma mulher que desperta o Sagrado feminino internamente, aprende que é autônoma e livre para escolher o que a faz se sentir melhor, independente disso ter um rótulo culturalmente construído para ser feminino ou não. Essa mulher tem consciência de si mesma e de suas necessidades, e aprende a se amar e a se respeitar em sua integralidade, sem excluir, renegar e maltratar seu corpo e sua subjetividade.

Por outro lado, o homem que conseguiu resgatar a essência do Sagrado Feminino dentro de si, consegue honrar e proteger o feminino que se manifesta fora, na forma da mulher e também na forma da Mãe Terra. Decidem conscientemente não ser mais tão competitivos, pois compreendem e reconhecem os princípios da irmandade, da parceria, da cooperação e do respeito. Não escolhem suas parceiras pela forma física, mas pela conexão que sentem em sua alma, mente e coração. Não baseiam a sua sexualidade em uma psicogênese de fantasias oriundas da pornografia e da objetificação do corpo da mulher, mas em verdadeiras sensações e no empenho em conhecer genuinamente seu corpo e o corpo de uma mulher. Aceitam-se vulneráveis e são capazes de entrar em contato com as suas emoções, externalizando o que sentem e aceitando os processos internos dos outros. Por isso, também se sentem responsáveis pela cura e manutenção de suas relações. Ao terem filhos, sabem que o cuidado não é exclusivamente da mãe. Honram, admiram e respeitam os movimentos cíclicos das mulheres e os processos naturais da maternidade, bem como seus próprios movimentos internos. Estes homens se assumem como cuidadores no mais amplo sentido, e prezam pela sustentabilidade e pelo consumo consciente.

Retomar a essência do Sagrado Feminino é resgatar a sabedoria milenar de que somos todos filhos desta Grande Mãe Terra. Relembrar que nossos corpos e nossas emoções são parte integrantes da natureza, e que nós somos, viemos e precisamos dela para continuar a viver e a evoluir. E, acima de tudo, reconhecer que ela tem sua própria sabedoria, que precisa ser honrada e respeitada por todos. Homens e mulheres precisam voltar a se harmonizar com o que há de mais natural, reintegrando o princípio básico de que estamos todos ligados de alguma forma, curando e se libertando da sensação de isolamento e artificialidade que é tão adoecedora e que já produziu incontáveis conseqüências desastrosas para todos nós.


Por Melissa Samrsla Brendler
Psicologa - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS







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Fontes:
CARDOSO, Morena. O Sagrado Masculino. Disponível em http://www.danzamedicina.net/blog/sagradomasculino.
CARVALHO, Mayara S. Mas o que é esse tal de Sagrado Feminino?. Disponível em http://caminhosterapeuticos.com.br/2016/09/03/mas-o-que-e-esse-tal-de-sagrado-feminino/.
EISLER, Riane. O Prazer Sagrado: sexo, mito e política do corpo. São Paulo: Rocco, 2000.
ESTES, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os Lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. São Paulo: Rocco, 2014.




sábado, 15 de outubro de 2016

O Resgate do Princípio Feminino




Atualmente, os papéis, as funções e o relacionamento entre homens e mulheres estão sendo reexaminados. Tanto o homem quanto a mulher procuram uma melhor compreensão de si mesmos, já que as definições antigas e estereotipadas já não se mostram mais tão satisfatórias. E é neste ponto que surgem algumas questões importantes. O que é ser homem? O que é ser mulher? Há alguma diferença essencial entre o homem e a mulher? O que é o masculino e o que é feminino?

Masculino e feminino são modos de existir, de estar presente no mundo, de percepção e de relação com a vida, com o outro, consigo mesmo e com o universo. Masculino e feminino são polaridades psíquicas ou energéticas que estão presentes tanto no homem quanto na mulher. Em tradições milenares, como a cultura chinesa, por exemplo, esses princípios são denominados yin e yang e formam o casal cósmico que refletem simbolicamente o masculino e o feminino. O yin é a terra, a mãe, a lua, ou o feminino. O yang é o céu, o pai, o sol, ou o masculino.




O masculino está mais relacionado aos valores da razão e da consciência. Ele analisa, discrimina, organiza, estabelece regras e leis, racionaliza e executa. O sol todas as manhãs traz um novo dia, ele organiza o tempo, é regular no seu surgimento, lógico, previsível e esperado. Nos desperta da noite da inconsciência para a vida consciente e nos incita ao movimento. A criatividade solar masculina se dirige sempre ao objetivo. Não há flexibilidade e maleabilidade, ele é agente de um tempo e direção que não podem ser mudados. O princípio masculino está mais ligado ao social, ao cultural e ao civilizado. O sol (masculino) rege mais o plano exterior e age no plano da consciência, do concreto e do palpável.

Por outro lado, para compreender o feminino observamos a lua. Entramos em um mundo mais obscuro, caprichoso, mutável, atemporal e inesperado. O feminino apresenta um outro tipo de saber, a sabedoria que vem do inconsciente, da intuição, da natureza e dos instintos. Possui ritmo e natureza próprios e suas qualidades aparecem mais ligadas à fertilidade e à receptividade. O feminino é acolhedor, nutridor e propiciador do crescimento. Jamais pode ser inteiramente apreendido. Ele traz um aspecto de obscuridade, ligado mais a possibilidades do que a realizações concretas. A lua, como símbolo do feminino, sugere potencialidades, estados de alma, humores e emoções. Ela inspira os amantes, sugere a relação, o encontro, o amor e a busca do outro. É a terra pronta para o recebimento da semente. O receptivo que se abre e acolhe a germinação e o crescimento.

A lua tem influência na fisiologia da mulher, como também no seu psiquismo. Na lua cheia há um maior número de nascimentos. E os ciclos lunares de vinte e oito dias correspondem, aproximadamente, ao ciclo menstrual da mulher. A ovulação, como preparação para o solo, corresponde à fase da lua crescente. Depois, estamos na lua cheia, que traz a possibilidade da fertilização e gestação. A menstruação, como morte das possibilidades do vir a ser se relaciona com a fase decrescente da lua.

A mulher experimenta todos os meses esse ciclo cósmico em seu corpo e em sua mente. O homem, apesar de não ter período menstrual, também experimenta este ciclo. Todos nós experimentamos um crescimento da vitalidade, que se expressa no momento seguinte numa maior criatividade e produtividade. Depois, há certo decréscimo da vitalidade, para tudo finalmente voltar a se renovar. É o ciclo da natureza, do qual todos fazemos parte, e que tem uma relação estreita com o princípio feminino, assim como o nascimento, o crescimento, o amadurecimento e a morte.

O Sol e a Lua, ou o masculino e feminino, portanto, são os agentes de toda mudança e transformação da vida. Um princípio está profundamente ligado ao outro. Juntos formam a totalidade, e do encontro dessas duas polaridades nasce todo o universo e cria-se a vida. No seu processo de desenvolvimento, o homem e a mulher devem entrar em contato com essas polaridades existentes em cada um, a que Jung deu o nome de anima e animus. Essa foi uma das mais importantes contribuições de Jung. Nós não somos psicologicamente homogêneos. Masculino e feminino estão presentes dentro de todos nós, criando tensões e conflitos, lutando por se expressar. Para se conseguir uma unidade harmônica é preciso estar consciente de cada um desses lados e permitir a expressão adequada de cada um deles.

No entanto, a orientação da cultura do Ocidente tomou uma direção exacerbadamente masculina, em desfavor do princípio feminino. Tanto o homem como a mulher perderam contato com o princípio feminino. Para o homem este fato trouxe a unilateralidade da sua vivência psíquica e emocional, se tornando um ser em desequilíbrio permanente. A mulher, na tentativa de adaptação a um mundo com uma consciência estritamente masculina, procurou se assemelhar ao homem, perdendo a sua identidade psíquica mais profunda.

Sendo assim, é, antes de tudo, o feminino que precisa ser resgatado como elemento necessário para uma vida psíquica mais equilibrada, tanto do homem como da mulher. Através do diálogo com esse princípio, o homem poderá aprender a se relacionar de forma mais harmoniosa consigo mesmo e com os outros. A mulher, reconhecendo o seu direito de viver a sua própria feminilidade, não precisará mais se identificar com o homem. Ela buscará a sua identidade em si mesma, e afirmará esta como uma consciência feminina. Ambos aprenderão a lidar melhor com a sua vida emocional, reconhecendo a sabedoria que provém do inconsciente, da intuição, da natureza e do seu lado mais instintivo. E este fato influenciará profundas mudanças e transformações em todas as dimensões da vida humana.



Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS



sábado, 8 de outubro de 2016

Palavra de Criança






Oi! Eu sou a criança que mora dentro de você. Quando você era criança, e eu também, a gente conversava de montão, você se lembra? Tudo era tão cheio de magia! Naquele tempo você era muito diferente. Não tinha medo de sair na chuva e gostava de comer as mesmas coisas que eu. A gente dava muita risada. É verdade que tinha muitas coisas que a gente não entendia direito. Os adultos pareciam tão complicados para nós!

Então você cresceu. Isso não aconteceu de um dia para o outro, mas foi acontecendo devagarzinho. Nossas conversas foram ficando diferentes. Você foi aprendendo um monte de palavras novas e difíceis. Muitas delas eu nem consigo entender. Você fala e eu continuo sem saber o que você quer dizer.

Você também foi deixando de me escutar. Preferia ouvir as conversas difíceis dos adultos. Passou a achar que o que eu dizia era simples demais. Você cresceu e eu continuei aqui, dentro de você, sem ter com quem conversar. Sabe por quê? Eu sei. Vou te contar:

Conforme você foi crescendo, foi acreditando em uma coisa que os adultos sempre acreditam. Você acreditou que era perigoso sentir! Por alguma razão estranha, que eu ainda não consigo entender, os adultos acham que os sentimentos são muito perigosos. Eles acreditam que precisam ser sempre calmos e controlados. Como se isso fosse possível!

Mas eles continuam sentindo um monte de coisas. Sentem raiva, sentem tristeza,  sentem alegria e sentem amor. Eles sentem tudo isso, mas fingem que não estão sentindo nada. E fingem tanto que até se esquecem de que estavam fingindo, e um dia acabam acreditando que não são mais capazes de sentir.

A verdade é que muitos adultos ficaram surdos e já não ouvem mais a sua criança. Mas eu preciso que você ouça minha voz e converse comigo um pouco. Se você já não souber mais como me ouvir, vou tentar ajudar, mas já vou avisando: meus métodos são simples! São simples porque eu sou a criança que ainda vive dentro de você, e eu não sei fazer coisas complicadas.

Pra começar, você precisa fazer as pazes com o tempo! Para mim é difícil falar com alguém assim tão ocupado como você, sempre correndo, atrapalhado, atrasado, cansado! Você tem que reservar um tempo pra mim. Um tempo para respirar fundo de vez em quando e se lembrar de quem você é de verdade. Um tempo para olhar pela janela, para se deitar no sofá e sonhar acordado.

Você tem que ter coragem de arriscar! Arriscar dar um sorriso e ser chamado de bobo. Arriscar andar descalço na grama e levar picada de formiga no pé. Arriscar sair na chuva e ter de subir todo molhado num elevador cheio de gente. Tem que arriscar palavras simples, uma nova cor, sair da rotina, um gesto de amor. E, então, se você já escapou da gaiola do tempo e está cheio de coragem para assumir riscos, já pode tentar uma lição mais avançada. É hora de virar um caçador de sentimentos!

Os sentimentos são como bichinhos assustados em uma floresta, que fogem toda vez que fazemos barulho demais. Eles fogem do barulho dos nossos pensamentos, fogem das críticas, dos certos e errados, dos julgamentos. Para caçar sentimentos, você tem de aprender a chegar de mansinho na floresta, a olhar de verdade para dentro, sem medo do que vai encontrar. Tem de ser amoroso com você mesmo, se tornar mais atento, tem de aprender a pedir conselhos ao coração. Você pode fazer isso agora mesmo. Pare de ler um pouquinho e ouça o bater que vem de dentro do seu peito...Aprenda a decifrar as batidas!

Se vocês, adultos, pudessem escutar mais a gente, muitas coisas iam ser diferentes. Nós, crianças, sabemos que os seres humanos são muito mais do que bichos pensantes. A gente sabe que cada pessoa é um pedacinho do Universo, feito de luz e amor, capaz de fazer as coisas mais maravilhosas! Por exemplo: nós podemos voar! Podemos voar mesmo sem ter asas de pássaros ou borboletas, porque a gente tem umas asas muito mais fortes que essas: as asas da imaginação! Só que os adultos esqueceram como imaginar. Eles acreditam numa coisa chamada realidade que lhes diz que estão sempre presos a alguma coisa ou a algum lugar. Eles já não sabem como voar. Isso é muito triste.

Nós, crianças, também sabemos que quando outras pessoas estão tristes, a gente fica triste também. E com isso a gente aprendeu que as pessoas também são parte da gente...E os animais...E as florestas...E tudo o que existe no Universo! Tudo é um! Os adultos esqueceram disso.

Os adultos sabem ler o jornal, fazer contas complicadas, resolver problemas difíceis, andar pra lá e pra cá como se soubessem de tudo. Eles acham que não precisam de nada nem de ninguém. Muitas vezes eles nem sabem quem são. Mas, por sorte, a criança que mora dentro deles nunca esquece!

Sabe, se eu não fosse uma criança, eu ai cuidar dos adultos. Ia pegar cada um deles no colo, fazer muito carinho, dar muitos beijinhos e falar para eles que está tudo bem. Mas, eu ainda sou uma criança. Eu sou uma criança e preciso muito de você, adulto. Preciso que você se lembre de mim. Preciso da sua atenção, da sua confiança, do seu carinho. Preciso que você me aceite dentro de você e me ajude a crescer.

Em troca, eu posso te dar muitas coisas. Posso te ensinar a viver com leveza, a fazer a rotina de boba e inventar coisas que tédio nenhum pode imaginar! Posso te ensinar a criar as coisas mais incríveis sem esforço (toda criança sabe!), a transformar sentimentos em cores, letras, formas e sabores. A ser artista, pintor, poeta, escritor. A tocar música de tristeza e alegria. Com minha ajuda, você pode transformar seu trabalho em uma brincadeira divertida.

Se você deixar, posso te ensinar a maior de todas as artes: a arte de se relacionar! Posso te ensinar a ser alegre de novo, a empinar papagaios lá no alto do céu, a sair pelo mundo à procura de amigos, a dar valor às coisas simples da vida, a dançar uma música bonita com quem você gosta, a tomar um delicioso sorvete de chocolate, a chorar de alegria e de tristeza, a amar sem medo! Sem medo de ser criança outra vez!

Estou aqui dentro, agora mesmo, esperando por você! Vem brincar comigo?



Por Melissa Samrsla Brendler
Psicologa - CRP 0713831
Atende em Porto Alegre/RS




(Adaptado do original GEBRIM, Patrícia. Palavra de Criança: coisas que você pode aprender com sua criança interior. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2005).



domingo, 2 de outubro de 2016

O Problema de Tentar Agradar Todo Mundo





Muitas vezes achamos difícil entender a nós mesmos, mas com muita facilidade saímos por aí a decifrar, julgar e falar mal das experiências e sentimentos dos outros. Por outro lado, todos nós já nos sentimos feridos pelas críticas e julgamentos alheios, em algum momento da nossa vida.

O hábito de falar mal dos outros é tão normal que na maioria das vezes não paramos para pensar o quanto essa atitude pode prejudicar a vida das pessoas, não só daquele que é criticado, mas também daquele que critica e daquele que ouve passivamente as críticas.

No entanto, se pararmos para pensar e observar mais cuidadosamente, veremos que muito daquilo que as pessoas pensam e falam de nós ou dos outros a nossa volta reflete muito mais uma realidade interna da própria pessoa que critica do que daquela que é criticada. De forma geral, essas pessoas não estão bem. Estão infelizes com algum aspecto de suas vidas, se sentem inseguras em relação à si mesmas ou às suas escolhas, ou estão com algum problema de autoestima. Assim, projetam suas dificuldades emocionais sobre os outros para se sentirem aliviadas. Falar mal de alguém disfarça e tira o foco dos nossos próprios defeitos e atitudes condenáveis que agora passam a pertencer ao outro.

Essa é uma regra simples e básica no que se refere aos fenômenos psicológicos. O inconsciente de uma pessoa, ou seja, a sua sombra, aquilo que ela não vê em si mesma, passa a censurar no outro. Para o Jung, “isso tem uma validade geral tão impressionante, que seria bom se todos, antes de criticar os outros, se sentassem e ponderassem cuidadosamente se a carapuça que querem enfiar na cabeça de alguém não é aquela que se ajusta perfeitamente a eles”.

É importante termos a consciência disso, para não deixarmos mais que a opinião dos outros influencie de forma negativa as nossas escolhas e o nosso dia-a-dia. Por outro lado, também é preciso um esforço de nossa parte no sentido de desenvolver a nossa própria consciência. A consciência sobre quem de fato nós somos: nossas capacidades, dificuldades, nossos valores e convicções. A chave para conseguir isso, claro, é o autoconhecimento, o investimento em si próprio.

Quando não nos conhecemos de verdade, nos sentimos inseguros em relação a quem somos, ao que acreditamos ou às escolhas que fazemos e assim, as críticas e opiniões dos outros passam a ter um peso muito grande na nossa vida. É claro que, em certa medida, nós podemos considerar e ponderar o que o outro tem a dizer. Mas, se passarmos a viver de acordo com o que os outros pensam ou falam de nós, vamos perder nossa identidade, negar nossa personalidade e nossa história, que é única e excepcional. Perderemos muito tempo e energia usando máscaras (ou personas) que só vão refletir no espelho nossa insegurança, nossa falta de autoestima e autoconhecimento.

Existe uma pequena história que reflete muito bem o problema de levarmos demais em consideração as críticas e julgamentos alheios. Certa vez, um homem e sua esposa estavam viajando com o seu burro. Ao passarem por uma cidade vizinha foram duramente criticados:


“- Que crueldade! Dois a andar sobre um pobre burro!”. Gritou um rapaz.
A mulher prontamente desceu do burro e pôs-se a caminhar ao lado dos dois.
Na próxima cidade, passaram por dois amigos que estavam conversando. Logo vieram as críticas:
“- Egoísta! Deixa a esposa caminhar a pé enquanto ele vai no burro.” Disse um deles.
O marido decide então descer do burro e dar o seu lugar para a esposa. E eles seguem seu caminho. Mais adiante passaram por duas senhoras que estavam conversando. Uma delas retrucou:
“- Que cara estúpido! Vai a pé enquanto a mulher vai folgada no burro!”
A mulher, já cansada de tantas críticas, desce e passa a caminhar com o marido ao lado do burro.
Enfim, chegam ao seu destino, e lá encontram o prefeito que diz:
“- Povo Ignorante! Andam a pé e nem sabem montar em um burro!”


Ou seja, é impossível agradar todo mundo. Quando tentamos fazer isso, esquecemos o mais importante, que é agradar a gente mesmo e fazer aquilo que é melhor e mais adequado pra nós naquele momento!

Não importa o que você faça, sempre haverá alguém que interpretará seus atos de forma errada e projetará sobre você suas dificuldades pessoais. Então, procure viver de acordo com sua verdade, seus sentimentos e seus valores, pois sempre estará fazendo aquilo que é certo pra você!

Afinal, nós não temos que justificar nosso direito de existir. A melhor estratégia é sempre defender o direito de ser quem somos, sem vergonha e sem pedir desculpas pelos nossos próprios sentimentos e experiências.




Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS







sábado, 24 de setembro de 2016

No caminho da Individuação: o confronto com a Persona e a Sombra.






A individuação é o processo de desenvolvimento da nossa totalidade, ou da nossa singularidade mais íntima, única e incomparável, como disse Jung. É um movimento que nos leva em direção a uma maior liberdade de expressão, pois implica na diferenciação da nossa personalidade em relação à psicologia do coletivo. Esse processo implica na integração de várias partes que compõem a nossa psique, para que elas possam se expressar de maneiras mais sutis e complexas.

No texto intitulado Qual o Propósito da sua Vida? falei um pouco sobre o processo educativo e o quanto ele é importante para a convivência em sociedade, e por outro lado, o quanto desse processo implica em sermos colocados dentro de determinados compartimentos, que acabam por nos afastar da nossa verdadeira natureza. Esses compartimentos são fruto de uma adaptação, e representam um compromisso entre o indivíduo e a sociedade acerca daquilo que alguém parece ser. Do ponto de vista do coletivo, tais dados são reais, mas em relação à individualidade essencial da pessoa, representam algo de secundário.

Na psicologia Junguiana, essa forma de adaptação recebe o nome de Persona. A palavra vem do teatro grego, no qual cada ator utilizava uma máscara para representar seu personagem. A palavra personagem surgiu da palavra Persona. A Persona é como se fosse uma máscara ou fachada que exibimos para facilitar nossa comunicação com o mundo externo e assim sermos aceitos por determinados grupos do qual fazemos parte, pela sociedade em que vivemos e também para que possamos cumprir os papéis a nós exigidos. Dependemos dela nos nossos relacionamentos, no trabalho, na roda de amigos e na convivência em geral.

De forma positiva, como falei antes, a Persona auxilia na convivência em sociedade e transmite uma sensação de segurança, já que cada um age dentro daquilo que é esperado. Além do mais, serve também como proteção em relação às nossas características, desejos, pensamentos ou sentimentos internos que não serão bem vistos pelos outros e que, portanto, precisamos esconder.

Porém, por outro lado, acontece freqüentemente de nos identificarmos a tal ponto com as nossas Personas que acabamos nos afastando da nossa verdadeira natureza. Quando somos possuídos, por assim dizer, por nossas personas a ponto de ficarmos totalmente identificados com elas, além de passarmos a viver de forma automática, sem uma reflexão mais profunda sobre nossa existência, também nos tornamos pessoas difíceis de conviver. Ficamos rígidos e passamos a exigir que os outros se comportem assim ou de acordo com aquela nossa persona em ação.

Obviamente não ter persona nenhuma é tão negativo quanto termos em excesso. Afinal, ninguém fala tudo o que sente e pensa, ninguém faz tudo o que der vontade. Há um limite, um respeito com o próximo, uma ética, mas isso não pode nos fazer esquecer de quem somos verdadeiramente. É como expressa uma das cinco sabedorias do Budismo: nós não somos as identidades que criamos todos os dias, mas a liberdade que cria essas identidades.

Por isso, o primeiro passo no caminho da individuação é a tomada de consciência, compreensão, desnudamento e dissolução das nossas personas. Por trás das personas está a nossa sombra, nosso “lado negro”, por assim dizer, que são todos os comportamentos, traços de personalidade e crenças que suprimimos ou reprimimos por terem sido considerados negativos para serem aceitos. Persona e Sombra fazem uma espécie de compensação. Quanto mais a persona é luminosa e “banhada em purpurina”, mais acentuados são os elementos que compõem a nossa sombra.

Como fomos condicionados, e também por ser algo desagradável de admitir, costumamos negar os aspectos que compõem a nossa sombra. A conseqüência natural é passar a enxergar esses conteúdos do lado de fora de nós mesmos, nas outras pessoas: desprezamos e nos irritamos com o outro, pois o outro passa a representar aquilo que não posso, ou não consigo reconhecer em mim. O tão conhecido fenômeno psicológico da projeção, com todas as suas implicações para os relacionamentos.

Por isso, um dos maiores e principais trabalhos que temos no desenvolvimento da nossa personalidade no caminho da individuação é, primeiro, o desnudamento de nossas personas, e depois a conscientização e integração da nossa Sombra, através da retirada das projeções no mundo exterior. Quando aceitamos a realidade das nossas sombras podemos ficar livres da sua influência, além de também podermos tomar consciência de muitas riquezas que estavam escondidas. Os aspectos da nossa personalidade que foram descartados poderão ser trabalhados e se tornarem novamente úteis, uma vez que não serão mais prejudiciais à nossa adaptação e poderão mudar o rumo da nossa história.

Além do mais, se queremos mudar o mundo, precisamos começar por nós mesmos. Olhar com atenção para aquilo que costumamos enxergar nos outros e perceber se isso não é apenas um reflexo daquilo que está escondido dentro de nós. Jung costumava dizer que o melhor trabalho político, social e espiritual que podemos fazer é parar de projetar nossas Sombras nos outros, pois quando formos capazes de enxergar nossas próprias mesquinharias, ciúmes, ódios e rancores, então isso poderá se reverter num bem positivo, porque em tais emoções tão destrutivas está armazenada muita energia vital, e quando se tem tal energia à disposição, ela poderá ser utilizada para o nosso próprio crescimento e integração.



Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS






domingo, 18 de setembro de 2016

Individuação: tornar-se si mesmo





Todos nós possuímos uma tendência inata, natural e espontânea para encontrar nosso centro, nossa unidade, ou nossa totalidade.  Essa tendência não é um fim, mas um processo, que se desenvolve no tempo, chamado de “individuação”. A individuação consiste em evoluir de um estado infantil de identificação com o inconsciente para um estado de maior diferenciação em relação a ele, resultando na ampliação da consciência. Os elementos inatos da nossa personalidade, seus componentes mais imaturos e as experiências de nossa vida procuram se integrar ao longo do tempo formando uma totalidade em pleno funcionamento.

Da mesma forma que possuímos uma estrutura física comum, todos temos também uma estrutura psíquica comum. Todos nós possuímos um coração e um pulmão, por exemplo. Com a psique acontece algo semelhante, pois ela também possui uma estrutura e um modo de funcionar que são comuns. Os arquétipos são esses elementos comuns da psique humana e, de certa forma, corresponderiam aos elementos comuns do corpo humano.

Os arquétipos são os blocos básicos da construção da personalidade. São padrões de emoção, de imaginação e de significado. A soma de todos eles compõe o inconsciente coletivo e forma o substrato básico da nossa vida emocional. Quando ativados, atingem a consciência e influenciam no desenvolvimento e expressão da nossa personalidade de forma bem definida. Os arquétipos nos impelem a certa atividade física, que será acompanhada por imagens, fantasias e emoções características.

Um bom exemplo é a experiência de apaixonar-se por alguém, uma experiência típica e que apresenta uma base arquetípica. Quando nos apaixonamos, sentimos um desejo sexual e ao mesmo tempo nossa consciência é inundada por fantasias referentes à pessoa amada. Experimentamos o surgir de profundas emoções e verificamos que no centro de tudo há um significado profundo. É um estado de coisas único para nós. No entanto, em todo mundo a linguagem do amor é admiravelmente a mesma. A experiência humana em si é tão antiga como a própria vida humana. Em outras palavras, é uma experiência arquetípica.

É claro que a vida humana é, ao mesmo tempo, única. Apesar dos corpos humanos possuírem todos a mesma estrutura, não são, contudo, exatamente iguais. O mesmo acontece com as personalidades. A personalidade de cada um jamais existiu antes. Há alguma coisa em cada pessoa que faz com que seja ela somente. No entanto, enquanto vivemos inconscientemente, tendemos a ser semelhantes aos demais. Os arquétipos vão nos formando de acordo com os moldes gerais da humanidade, e tornamo-nos o homem coletivo. Mas se adotamos uma outra atitude em relação ao inconsciente, se nos tornamos conscientes do que somos e dos elementos únicos que existem em nós, então começa o desenvolvimento individual. Os mesmos arquétipos que antes nos modelavam pelo tipo de homem comum, agora começam a nos ajudar a nos tornar indivíduos, no momento em que estabelecemos uma relação consciente com eles.

O inconsciente coletivo, ou a soma de todos os arquétipos, portanto, contém não apenas a sabedoria do passado, como também a energia do futuro ou um enorme potencial criativo. A vida está constantemente lutando por fazer surgir formas novas e únicas. No centro do inconsciente há um instinto profundo para tornar-se si mesmo, para expressar a personalidade única que há em nós. Uma personalidade que é integrada ao inconsciente. Naturalmente, ninguém consegue tornar-se um indivíduo completo e total. Sempre ficam muitas possibilidades em nós que poderiam ser desenvolvidas em nossa vida. O importante é o processo de tornar-se uma pessoa mais desenvolvida. É isso que dá significado à vida e interesse pela mesma. O sofrimento e as doenças psíquicas são decorrentes da nossa resistência ao desenrolar natural desse processo.

A individuação é o instinto fundamental da vida. Atua sobre nós e nos impele a procurar e a tomar consciência da nossa totalidade. Não só tomar consciência, como também expressa-la. O objetivo é nos tornarmos a pessoa que realmente somos, e isso não se dá somente através do processo de aceitação de si mesmo. Além de se conhecer, devemos também nos colocar no mundo. Buscar o equilíbrio entre as demandas do mundo externo e interno. Descobrir o nosso papel na sociedade, o lugar em que podemos viver a nossa própria natureza individual para o bem-estar da sociedade. Esse processo não nos leva ao isolamento, mas a um relacionamento mais íntegro com o coletivo. Tornar-se si mesmo não significa tornar-se perfeito, mas pleno e completo. Assumir a própria condição humana tal qual se apresenta, e vive-la com todas as suas implicações e riquezas, com todas as dores e as delícias de ser quem se é.



Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS










domingo, 11 de setembro de 2016

Qual é o propósito da sua vida?





Neste mundo rápido e acelerado em que vivemos, normalmente não há muito espaço para refletir sobre a própria vida. Vivemos de forma automática, esmagados pelas demandas do cotidiano, submetidos às imposições da sociedade e com uma sensação de escassez de tempo constante. Sentimos como se tivéssemos nos perdido no meio do caminho, e muitos já não enxergam mais um sentido ou propósito para a própria existência. Porém, como disse o psiquiatra chileno Cláudio Naranjo, “é normal não encontrar sentido na vida quando se está muito condicionado pelo mundo”.

Desde que nascemos somos ensinados a nos guiar a partir de um modelo que é oferecido por outras pessoas. O processo educativo é uma parte importante e indispensável na formação e estruturação da personalidade de qualquer pessoa. Receber limites e aprender as normas sociais nos prepara para a futura convivência em sociedade e lança as bases sobre as quais conseguiremos sobreviver no mundo. No entanto, esse processo, na maioria das vezes, implica em sermos colocados dentro de verdadeiros compartimentos, que fazem mais sentido para os outros do que para nós mesmos. Como dependemos do amor e aprovação daqueles que nos cuidam, nos submetemos a esse processo e aprendemos negar seguidamente quem somos. Passamos a viver do jeito que alguém diz que temos que viver. E, quanto mais rígidos e restritos forem esses compartimentos, mais nos afastamos de quem somos e mais dificuldades teremos de nos encontrar depois.

Aprendemos a viver de fora para dentro e não de dentro para fora. A pior conseqüência disso é que a maioria de nós, quando chega o momento de se definir em termos profissionais, acaba optando por uma carreira antes de descobrir seu verdadeiro propósito. Nossa sociedade defende a idéia do sucesso como algo restrito a uma carreira estável e altamente rentável, além de alguns outros requisitos a serem preenchidos. Então, como fomos condicionados a fazer o que os outros esperam de nós, entramos na direção do conformismo. Assumimos o compromisso social e deixamos para depois uma reflexão mais profunda sobre os nossos próprios anseios.

No entanto, ter uma profissão não deve se resumir apenas a uma questão de sobrevivência ou de ganhar dinheiro, pois passamos a maior parte do dia e da nossa vida trabalhando. Então, é preciso que ele faça sentido, para que a nossa vida tenha sentido. Quando o trabalho evoca os sentimentos, quando nos proporciona alegria, inspira e fascina dá a nossa vida um significado maior, uma razão a mais para viver, um senso de destino pessoal, um propósito ou uma vocação.

Vocação é uma palavra que descende do latim e significa voz do coração. Está associada tanto a um chamado, dom ou predestinação, como a talento ou aptidão, na qual uma determinada atividade se desenvolve de maneira admirável. Vocação é diferente de profissão porque é uma expressão natural da personalidade. Todos nós deveríamos buscar uma atividade profissional correspondente aos nossos talentos naturais. Assim, não encontraríamos apenas um caminho profissional, mas também o nosso propósito e nossa realização pessoal.

No entanto, não é possível ter tudo na vida. Honrar o nosso propósito implica em perdas. Muitas vezes vamos ter que abrir mão de convites, oportunidades, hábitos, da necessidade de ser admirado e de estar de acordo com os padrões, do conforto e até de dinheiro para viver de acordo com aquilo que faz mais sentido para nós. Como diz o escritor Gabriel Carneiro Costa: “No sentido filosófico, todo mundo considera que o dinheiro tem menos importância, mas, na esfera prática, ninguém quer diminuir a renda que recebe”. E assim, seguimos insatisfeitos. Correndo o risco de chegar ao fim da vida compartilhando do arrependimento mais comum: não ter tido a coragem de viver uma vida fiel a si mesmo.

O importante a compreender é que “quem você é” e “quem você quer ser” são questões que devem vir antes e acima daquilo que você quer ter. E para isso, precisamos ter a coragem de olhar para dentro e encarar com honestidade as próprias necessidades, sonhos e desejos. Dar espaço para que a nossa autenticidade possa aparecer. Como diz o filósofo Alan Watts em seu vídeo E se o dinheiro não fosse a finalidade?, "melhor viver uma vida pequena que é cheia do que você gosta de fazer, do que uma longa vida vivida de forma miserável. Afinal, se você realmente gosta do que está fazendo, não importa o que seja, pode eventualmente se tornar um mestre nisso. E o único jeito de se tornar um mestre em algo, é fazendo o que se gosta." E então você poderá ganhar bem e ter aquilo que deseja. 

O propósito da vida não é dado, cada um constrói o seu a partir do intercâmbio entre aquilo que nos é dado e aquilo que já existe dentro de nós.

Então, qual é o propósito da sua vida?




Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831

Atende em Porto Alegre/RS







domingo, 4 de setembro de 2016

Os Sonhos na Prática





Os sonhos nascem de uma extensa parte de nós mesmos que é psíquica e que não se identifica com a nossa consciência. Por isso é chamada de inconsciente. O inconsciente possui uma linguagem própria, ele se expressa através de imagens, metáforas e símbolos. É como se fosse uma língua estrangeira. Se quisermos aprender, teremos que dedicar nosso tempo para essa aprendizagem, afim de que possamos entender o novo vocabulário e sua “estrutura gramatical”. Na verdade, não são os sonhos que são obscuros, mas nossa compreensão dos mesmos. Eles se tornam claros, na medida em que aprendemos a sua linguagem.

Existem diferentes tipos de sonhos, e cada um é diferente em qualidade e intensidade. Muitos sonhos são “comuns”, apenas refletem e comentam os acontecimentos da vida diária. Separam os acontecimentos do dia anterior ou nos preparam para o dia seguinte. Outros refletem a nossa história de vida, trabalham uma ferida antiga, algum evento traumático ou procuram integrar o passado, relembrando-o e dando-lhe um sentido. Outros, porém, são de difícil compreensão, mesmo quando levamos em conta tudo o que se passou ou que se passa na nossa vida. São os sonhos provenientes do inconsciente coletivo e, por isso, são chamados de sonhos “arquetípicos”. Esse tipo de sonho é tão carregado de energia e simbolismo, que somos obrigados a prestar-lhes atenção. Eles transcendem a nossa experiência individual e nos tocam profundamente. Para compreende-los é preciso ter conhecimento técnico, pois os símbolos que aparecem nesses sonhos são de certa forma desconhecidos e encontram paralelos nas histórias mitológicas, contos de fada e simbolismo religioso. São, por exemplo, aqueles sonhos com catástrofes naturais, seres desconhecidos, extraterrestres e animais esquisitos. Esses sonhos podem acontecer em momentos críticos da nossa vida, nos chamando atenção para um desenvolvimento maior a ser atingido pela nossa personalidade. E há também os sonhos em que recebemos informações de coisas que ainda não aconteceram ou que nos põem em contato com algo que acontece com uma pessoa que está distante. Esses sonhos parecem ter por objetivo preparar-nos para alguma ação de importância crucial ou vital. Às vezes, os sonhos também podem estar relacionados com o nosso estado de saúde física.

Como os sonhos revelam a nossa mente inconsciente, as figuras que a aparecem nos mesmos personificam algum aspecto da nossa personalidade global. As pessoas do mesmo sexo do sonhador personificam a sua sombra. A sombra representa aqueles aspectos ou qualidades que nos pertencem, mas que rejeitamos ou não reconhecemos em nós e que, por isso, precisam ser integrados. Por outro lado, as figuras do sexo oposto ao do sonhador representam aquilo que Jung denominou de anima e animus, que são respectivamente as personificações das qualidades femininas no homem e a personificação das qualidades masculinas na mulher. Essas figuras trazem complicações significativas para o relacionamento entre os sexos e têm um importância crucial para o nosso desenvolvimento, pois somente quando entendidas de forma correta é que temos acesso as camadas mais profundas do nosso inconsciente. Os sonhos nos convidam a tomarmos consciência de todas essas figuras e a encontrar a maneira pela qual a vida contida nelas se expresse adequadamente.

Como um drama, o sonho possui muitas vezes cena de abertura, desenvolvimento e conclusão. A cena de abertura do sonho expõe o problema ou a situação a respeito da qual o sonho vai tratar e, para compreender o sonho é bom prestar especial atenção ao modo como o sonho começa, porque esse início prepara o palco para tudo o que se segue. Depois desenrola-se a ação, na qual a situação de abertura do sonho se transforma em história. Geralmente, à medida que o sonho se desenrola, algum dilema é apresentado. Na conclusão do sonho está a solução ou a pista para a solução. É o desatar do nó, a sugestão que o inconsciente nos oferece de como proceder para resolver a dificuldade. O final do sonho é muito importante, pois contém o aspecto que deve ser conscientizado.

Porém, nem todos os sonhos nos oferecem uma solução. Um exemplo claro são os pesadelos. Num pesadelo, a situação que produz tensão se desenvolve e cria cada vez mais ansiedade, chegando ao ponto de despertarmos aterrorizados. Uma das razões do pesadelo é o de não encontramos solução para o impasse produtor de ansiedade no sonho. Nos pesadelos existe uma grande tensão entre a nossa atitude consciente e o inconsciente, como eles estivessem em desacordo. Eles são extremamente importantes. São como que eletrochoques que a natureza nos aplica quando quer que despertemos. O ponto do sonho em que acordamos é o choque através do qual o inconsciente diz: “É isso, preste atenção nisso!”. De alguma forma, não estamos dando a devida atenção para algum problema que é psicologicamente urgente.

Existe também o que se poderia falar de um padrão geral dos sonhos. Normalmente, na primeira metade da vida, os sonhos se referem mais a uma adaptação dinâmica à vida exterior, terrena, material. Na segunda, em geral, começam a dirigir a pessoa a recolher-se e a desenvolver uma certa sabedoria ou insight sobre o que está por trás da vida aparente. Os últimos sonhos de pessoas à beira da morte são claramente uma preparação para o que está por vir. Não abordam a morte de uma forma concreta, mas falam de uma transformação ou passagem para um outro estágio ou nível.

Enfim, nós não sabemos de onde viemos, nem o porque de estarmos aqui e tampouco sabemos para onde vamos. Todos nós fazemos parte desse grande mistério que é a existência. No entanto, os sonhos nos mostram que parece haver uma força diretriz, um padrão dominante que organiza a vida interior, que Jung deu o nome de Self. Nossa vida interior não é um fenômeno caótico e casual como muitos pensam, ao contrário, ela tem um centro e uma finalidade.

O desenvolvimento humano assemelha-se a uma árvore que para crescer deve possuir raízes muito firmes na terra. E o problema do nosso tempo é estarmos como árvores sem raízes. Nossas raízes não atingem a profundidade suficiente para extrair o alimento com o qual crescemos em direção ao domínio do espírito. Os sonhos são raízes que atingem as profundezas da alma e ajudam o fluxo da energia para o crescimento e desenvolvimento que nos são possíveis. Por isso, preste atenção nos seus sonhos!



Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS



Fontes: HALL, James A. Jung e a Interpretação dos Sonhos: manual de teoria e prática. São Paulo: Cultrix, 2007. SANFORD, John A. Os Sonhos e A Cura da Alma. São Paulo: Edições Paulinas, 1988. BOA, Fraser, VON FRANZ, Marie Louise. O Caminho dos Sonhos. São Paulo: Cultrix, 2007.



  



domingo, 28 de agosto de 2016

A Importância dos Sonhos




Sonhar é uma experiência humana universal, natural e necessária para o nosso desenvolvimento e equilíbrio psicológico. Todos nós gastamos em média seis anos da nossa vida sonhando. Enquanto a maioria de nós ignora e despreza o assunto dos sonhos, nos tempos antigos eles eram vistos como extremamente importantes, faziam parte da vida de homens e mulheres sábios e eram vistos como a manifestação mais óbvia da realidade do mundo espiritual.

Em função da ênfase no racionalismo e no materialismo, uma característica da modernidade, nós perdemos contato com as fontes da nossa vida espiritual. Nossa cultura se empobreceu e um abismo profundo surgiu entre a nossa vida consciente e a realidade de nossas almas. Apesar de todo bem estar material, estamos culturalmente e emocionalmente carentes. Nos sentimos perdidos e separados da nossa vida interior. E é claro que, a partir dessa perspectiva, os sonhos não fazem sentido algum.

No entanto, essa situação vem mudando. Desde o final do séc. XX, o interesse dos estudiosos e pesquisadores na realidade dos sonhos vem crescendo e vem sendo vista como uma possibilidade válida no estudo e investigação da alma humana. O psiquiatra suíço Carl G. Jung foi um pioneiro nesse sentido. Ele descobriu que os sonhos procuram regular e equilibrar as nossas energias físicas e mentais. Eles não apenas revelam a causa básica da nossa desarmonia interior e da angústia emocional, como também indicam o potencial de vida que há em nós, além de nos apresentarem soluções criativas para os nossos problemas diários. Jung descobriu que, enquanto dormem, através dos sonhos, as pessoas despertam para aquilo que realmente são.

Os sonhos, na verdade, são a manifestação mais direta do nosso inconsciente, ou do nosso mundo interior. Eles seriam como que a expressão dos pensamentos do nosso inconsciente. No entanto, esses pensamentos não se assemelham aos da consciência. Nossa consciência pensa através das palavras, da análise racional e lógica, de conceitos e idéias. Ao passo que o inconsciente pensa através de imagens, metáforas e símbolos, numa linguagem intimamente associada à da arte. A linguagem dos sonhos é a linguagem do “como se” ou de semelhança. O inconsciente utiliza-se de algo que nos é conhecido e familiar para representar algo que nos é desconhecido e não-familiar e, assim, nos colocar em contato com a realidade mais profunda de nossas almas.

A chave para a compreensão dos sonhos, portanto, é o conhecimento dos símbolos. Essa tarefa não é assim tão simples e requer estudo, dedicação e certa habilidade profissional. Além do mais, a maioria dos nossos sonhos não são tão óbvios. Eles costumam tocar o nosso ponto cego, aquilo que não conseguimos enxergar. Eles nunca nos dizem o que já sabemos, mas o que não sabemos. E é por essa razão que não se deve interpretar os próprios sonhos, pois nossa tendência é sempre projetar no sonho aquilo que já sabemos. Entretanto, algumas regras básicas e aspectos gerais podem ser transmitidos, no intuito de ajudar às pessoas a conhecerem e a estabelecerem uma comunicação com esse universo. Muitas vezes, em meio a sonhos completamente ininteligíveis, aparecem sonhos simples que qualquer um pode entender de imediato.

No próximo texto, vou abordar de forma mais específica os tipos de sonhos, seus elementos, algumas regras e aspectos gerais para interpretação. Mas, se você já quiser começar a se relacionar com os seus sonhos, a primeira coisa que deve fazer é passa-los para o papel. Isso funciona como um contrato com o inconsciente, além de ajudar a fixa-los na memória. O simples hábito de registrar os sonhos já traz uma sutil e significativa mudança à nossa consciência, ainda que não a entendamos. Depois, é importante nos tornarmos como que “amigo” dos sonhos. Olhar para a história do sonho, explora-la, rumina-la, refletir sobre ela, sobre os sentimentos, pensamentos e sensações que nos despertam, sobre as figuras presentes e, acima de tudo, tentar responder às seguintes perguntas: “Por que será que tive esse sonho?” e “Como esse sonho se relaciona com a minha situação de vida atual?”. Você também pode pinta-los, desenha-los e conta-los para outras pessoas de sua confiança. O importante é relacionar-se com eles e considera-los como uma parte comum e significativa da vida cotidiana.

Enfim, recordar e se relacionar com os próprios sonhos é como capturar peixes e possuir um pouco da vida do mar do inconsciente. É tempo de tentarmos nos reorientar, olhar um pouco mais para dentro de nós mesmos e descobrirmos as riquezas que estão aí escondidas. Como diz Cathy, a heroína do romance O Morro dos Ventos Uivantes, “Meus sonhos parece que ficaram sempre comigo e mudaram minhas idéias; misturam-se comigo como água e vinho e mudaram a cor do meu espírito.” É o que os sonhos fazem. Mudam a cor do nosso espírito. O colorido da nossa consciência se modifica gradual e sutilmente e acrescenta uma nova dimensão à nossa vida. 




Por Melissa Samrsla Brendler
Psicóloga - CRP 07/13831
Atende em Porto Alegre/RS


Fontes: HALL, James A. Jung e a Interpretação dos Sonhos: manual de teoria e prática. São Paulo: Cultrix, 2007. SANFORD, John A. Os Sonhos e A Cura da Alma. São Paulo: Edições Paulinas, 1988. BOA, Fraser, VON FRANZ, Marie Louise. O Caminho dos Sonhos. São Paulo: Cultrix, 2007.