Eu sempre gostei do silêncio. Quando consigo ficar
sozinha em casa procuro não ligar a TV e nem o som. Gosto de apreciar, de estar
atenta a tudo que passa, tanto externamente quanto internamente dentro de mim:
os pássaros cantando lá fora, o som do vento batendo nas árvores, os cachorros
latindo, a cidade acontecendo e os meus pensamentos, sentimentos e emoções,
participando ou não de tudo isso, marcando ali a sua presença.
O silêncio, ao invés do que muitos podem
pensar, não me aliena do mundo. Ao contrário, me leva a mergulhar no meu mundo
interior e me conecta ainda mais com o mundo exterior. As opiniões dos outros,
os acontecimentos, as demandas do dia-a-dia, minhas dúvidas e conflitos
pessoais, tudo neste momento encontra o seu lugar, se dissolve, se organiza, se
renova. O silêncio é uma necessidade que me ajuda a não ser levada pela
correnteza deste mundo caótico.
Talvez, em função disso, tenho observado a
dificuldade que as pessoas têm de lidar com o silêncio. Principalmente em um
encontro, em uma conversa. As pessoas falam, e falam muito. Poucas são aquelas
que realmente procuram escutar a voz do outro, ou o que o outro tem a dizer. E
de forma angustiante, ansiosa, falam muito sobre si mesmos.
Não sei se é porque eu aprendi a gostar do
silêncio, ou talvez por causa da profissão que escolhi, mas acredito que mais
importante do que saber falar é saber escutar. Escutar, na verdade é um grande
desafio. Escutar não é o mesmo que ouvir. É mais que ouvir. Escutar é
silenciar. É ir ao encontro incondicional do outro, sem defesas, e estar aberto
ao aprendizado que este outro pode me trazer.
O problema é que nesse mundo barulhento em
que vivemos, voltado o tempo todo para as coisas exteriores, somos quase que
pressionados a falar. Quem não fala incomoda. E então falamos. O tempo todo! Não escutamos e nem somos escutados. Nos tornamos solitários, porque estamos
demais centrados em nós mesmos, preocupados em apenas falar e não escutar.
Mas porque o silêncio incomoda tanto? Por
que ele é tão ameaçador? Por que precisamos estar o tempo todo preenchendo
nosso mundo exterior e interior com tanta fala, com tanto ruído e com tantas
tarefas?
Quem experimenta sabe: o silêncio fala sobre
nós. O silêncio nos coloca em uma posição passiva em relação ao outro e a nós
mesmos, e nos expõe a possibilidade de sermos surpreendidos e abalados por
aquilo que o outro diz e, também, por aquilo que encontramos dentro de nós. O
silêncio nos arrisca a contemplar o desconhecido, o novo, o vazio. O silêncio
nos despe de nossos preconceitos, de nossas verdades absolutas, de nossas
certezas, e talvez nos faça abrir mão de algumas delas. O silêncio nos incita
ao movimento. Está aí a dificuldade.
Silenciar, na verdade é se entregar. Se
entregar ao outro e se entregar a si mesmo. E o que é a entrega se não um
profundo ato de coragem, de renúncia, de desapego e liberdade?
Quantos de nós
estamos realmente dispostos?
Fica a pergunta e também o meu desejo
pessoal.
Pratiquemos todos a generosidade que o silêncio nos
propõe.
Por Melissa Samrsla Brendler
* Texto especialmente produzido para o Programa Psicodrops, que vai ao ar todas as terças e quintas-feiras, às 19 horas, na Rádio Mutante.
*Inspirado no artigo "Por que as pessoas falam tanto?" de Eliane Brum, jornalista e colunista da Revista Época.
* Texto especialmente produzido para o Programa Psicodrops, que vai ao ar todas as terças e quintas-feiras, às 19 horas, na Rádio Mutante.
*Inspirado no artigo "Por que as pessoas falam tanto?" de Eliane Brum, jornalista e colunista da Revista Época.
Olá Mel!
ResponderExcluirGostei muito do texto. Percebo isso também na sociedade contemporânea, o desprezo pelo silêncio, pela solidão, pelo escutar. Parece que o "eu" sempre tem mais problemas que o outro, sempre tem mais a falar, sempre tem que estar em grupo. No entanto, vejo isso apenas como ações que refletem individualidade, egoísmo e dificuldade em lidar com os próprios sentimentos ou quem sabe olhar para si mesmo sem máscaras. O silêncio propicia autoconhecimento, mas nem todos querem se conhecer. O silêncio nos propicia empatia, mas nem todos querem se dar o trabalho de olhar o outro com ternura e compreensão. Sendo assim, vivemos num imenso barulho que no fim das contas não diz nada.
Abraços!
Oi Erik! Fiquei muito feliz com a tua visita e com o teu comentário! É isso mesmo. Obrigada! Abraços pra ti também!
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