segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O Casamento do Sol com a Lua (parte 1)


        Atualmente, os papéis, funções e o relacionamento entre homens e mulheres estão sendo reexaminados. Tanto o homem quanto a mulher procuram uma melhor compreensão de si mesmos. As definições antigas e estereotipadas hoje se mostram insatisfatórias.

        É neste ponto que surgem algumas questões importantes. O que é ser homem? O que é ser mulher? Há alguma diferença essencial entre o homem e a mulher? O que é o masculino e o que é feminino?

Masculino e feminino são modos de existir, de estar presente no mundo, de percepção e relação com a vida, com o outro, consigo mesmo e com o universo. Masculino e feminino são polaridades psíquicas que estão presentes tanto no homem quanto na mulher.



O Masculino e o Feminino, o Sol e a Lua







Em tradições milenares, como a cultura chinesa, esses princípios são denominados yin e yang e formam o casal cósmico que refletem simbolicamente o masculino e o feminino. O yin é a terra, é a mãe, é a lua, é o feminino. O yang é o céu, é o pai, é o sol, é o masculino.

         O sol, com sua claridade e luz brilhante, se relaciona perfeitamente com o princípio masculino, com os valores da razão e da consciência. O masculino analisa, discrimina, organiza, estabelece regras e leis, racionaliza e executa. O sol todas as manhãs traz um novo dia, ele organiza o tempo, é regular no seu surgimento, lógico, previsível e esperado. O sol nos desperta da noite da inconsciência para a vida consciente e nos incita ao movimento. A criatividade solar masculina se dirige sempre ao objetivo. Não há flexibilidade e maleabilidade, ele é agente de um tempo e direção que não podem ser mudados. O princípio masculino está mais ligado ao social, ao cultural e ao civilizado. O sol rege mais o plano exterior e age no plano da consciência, do concreto e do palpável.

Para compreender o feminino observamos a lua e percebemos os seus mistérios. Entramos num mundo mais obscuro, caprichoso, mutável, atemporal e inesperado. A lua apresenta outro tipo de saber, a sabedoria que vem do inconsciente, da intuição, da natureza e do instinto. Possui ritmo e natureza próprios e suas qualidades aparecem ligadas à fertilidade e à receptividade. É acolhedor, nutridor e propiciador do crescimento. O feminino jamais pode ser inteiramente apreendido. Ele traz um aspecto de obscuridade inconsciente, ligado mais a possibilidades do que a realizações concretas. A lua sugere potencialidades, estados de alma, humores e emoções. Ela inspira os amantes, sugere a relação, o encontro, o amor e a busca do outro. É a terra pronta para o recebimento da semente. O receptivo que se abre e acolhe a germinação e o crescimento.

A lua tem influência na fisiologia da mulher, como também no seu psiquismo. Na lua cheia há um maior número de nascimentos. E os ciclos lunares de vinte e oito dias correspondem, aproximadamente, ao ciclo menstrual da mulher. A ovulação, como preparação para o solo, corresponde à fase da lua crescente. Depois, estamos na lua cheia que traz a possibilidade da fertilização procriativa. A menstruação, como morte das possibilidades do vir a ser se relaciona com a fase decrescente da lua.

A mulher experimenta todos os meses esse ciclo cósmico em seu corpo e em sua mente. O homem, apesar de não ter período menstrual, também experimenta este ciclo. Todos nós experimentamos um crescimento da vitalidade e da excitabilidade psíquica, que se expressa no momento seguinte numa maior criatividade e produtividade. Depois, há certo decréscimo da vitalidade, para tudo finalmente voltar a se renovar. É o ciclo da natureza do qual todos fazemos parte e que tem uma relação estreita com o princípio feminino, assim como o nascimento, o crescimento e a morte.


A lua e o sol são símbolos do casal cósmico, agentes de toda mudança e transformação da vida. Um princípio está profundamente ligado ao outro. A lua é irmã do sol, o masculino pressupõe o feminino, o homem busca a mulher, e vice-versa. Do encontro dessas polaridades nasce todo o universo. Cria-se a vida.

Por Melissa S. Brendler


* Texto especialmente produzido para o Programa Psicodrops, que vai ao ar todas as terças e quintas-feiras, às 19 horas, na Rádio Mutante. 



Fonte: Cavalcanti, Raissa. O Casamento do Sol com a Lua. Cultrix: São Paulo,1990.

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