terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O Casamento do Sol com a Lua (parte 2)

O Homem, a Mulher e o resgate do Princípio Feminino.






O homem e a mulher são regidos por princípios internos diferentes. Jung ensinou que a mulher é feminina na sua consciência e masculina no seu inconsciente, enquanto o homem é masculino na sua consciência e feminino no seu inconsciente. Anima seria nome do componente feminino numa personalidade de homem e Animus o nome do componente masculino numa personalidade de mulher. Eles personificam a minoria de genes femininos ou masculinos existentes dentro de nós. O ego, na sua evolução psicológica habitual, identifica-se com a qualidade masculina ou feminina do corpo e, assim, a outra parte se transforma numa função inconsciente. O reconhecimento desses dois princípios básicos que regem o interior do psiquismo humano é necessário para que possa haver a diferenciação e o encontro criativo com o outro.

No entanto, a orientação da cultura do Ocidente tomou uma direção exacerbadamente masculina, em desfavor do princípio feminino. É, antes de tudo, o feminino que precisa ser resgatado como elemento necessário para o melhor equilíbrio na vivência psíquica do homem e da mulher. O diálogo entre o Sol e a Lua precisa existir dentro de cada um para uma percepção mais rica da realidade. A unilateralidade nos enrijece e sempre traz prejuízo para a nossa compreensão da realidade.

Tanto o homem como a mulher perderam contato com o princípio feminino. Para o homem este fato trouxe a unilateralidade da sua vivência psíquica, que o coloca como um ser em desequilíbrio permanente. A mulher, na tentativa de adaptação a um mundo com uma consciência estritamente masculina, procura se assemelhar ao homem, perdendo a sua identidade psíquica mais profunda.

O reconhecimento do princípio feminino, portanto, é da máxima importância, tanto para o homem como para a mulher. Através do diálogo com esse princípio que rege o inconsciente do homem, ele poderá aprender a se relacionar de forma mais harmoniosa consigo mesmo e com a mulher. A mulher, reconhecendo o seu direito de viver a sua própria feminilidade, não precisará mais se identificar com o homem. Ela buscará a sua identidade em si mesma, e afirmará esta como uma consciência feminina.

A diferenciação e a afirmação do feminino possibilitará um melhor encontro entre o homem e a mulher. O diálogo interno entre o masculino e o feminino abre um espaço maior para as relações interpessoais e para um melhor autoconhecimento.

A Lua precisa ressurgir no céu da nossa alma para que possa ser realizado o casamento interno. Só com a sua volta do exílio que o Sol poderá reconhecer a sua mais antiga noiva. O casamento do Sol com a Lua é o evento mais importante que precisa acontecer neste momento. É este fato que influenciará as mudanças e as transformações em todas as dimensões da vida humana.


O reaparecimento dos valores femininos, dentro de uma cultura que reprimiu essa polaridade, tem uma importância muito grande para o seu equilíbrio psicológico. Para isso, é preciso olhar os valores lunares com olhos livres de preconceitos, pois até então, a definição da polaridade feminina tem sido feita segundo a ótica do patriarcado, que a distorce e a discrimina.



Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria

Que o mundo masculino tudo me daria

Do que eu quisesse ter



Que nada

Minha porção mulher, que até então se resguardara

É a porção melhor que trago em mim agora

É a que me faz viver

(Super-Homem - A Canção



Por Melissa S. Brendler


* Texto especialmente produzido para o Programa Psicodrops, que vai ao ar todas as terças e quintas-feiras, às 19 horas, na Rádio Mutante. 


Fonte: Cavalcanti, Raissa. O Casamento do Sol com a Lua. Cultrix: São Paulo,1990.

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