quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A persona e a sombra: dois lados do nosso ser (parte 1)


“Há um tempo em que é preciso abandoar as roupas usadas, que já têm a forma do corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: se não ousarmos faze-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
(Fernando Teixeira de Andrade)




No desenvolvimento da consciência, o ser humano precisou criar algumas características básicas para a adaptação social em contraste com seus instintos animalescos. Jung usou o termo Persona para esta forma de adaptação. A palavra vem do teatro grego, onde cada ator utilizava uma máscara para representar seu personagem. A palavra personagem surgiu da palavra persona.

         A Persona é como se fosse uma máscara ou fachada que exibimos para facilitar nossa comunicação com o mundo externo, e assim, sermos aceitos por determinados grupos do qual fazemos parte, pela sociedade em que vivemos e também para que possamos cumprir com os papéis a nós exigidos. Dependemos dela nos nossos relacionamentos, no trabalho, na roda de amigos e na convivência em geral.

         De forma positiva, a Persona auxilia na convivência em sociedade e transmite uma sensação de segurança, já que cada um age dentro daquilo que é esperado. Por exemplo, existe um consenso na forma como um médico deve agir, ou também um professor ou um policial, entre outros.

A Persona também serve como proteção em relação às nossas características, desejos, pensamentos ou sentimentos internos que não serão bem vistos pelos outros e que, portanto, precisamos esconder.

Porém, pode ocorrer (e não raro acontece) de nos identificarmos a tal ponto com nossas Personas, que acabamos nos afastando de nossa verdadeira natureza. Por exemplo, aqui no Psicodrops eu sou psicóloga, mas eu sou muito mais do que isso. Em outros ambientes eu sou mãe, esposa, filha, aluna e assim por diante. Quando somos possuídos, por assim dizer, por nossas Personas a ponto de ficarmos totalmente identificados com elas, nos tornamos pessoas difíceis de conviver, somos rígidos e passamos a exigir que os outros se comportem assim, ou de acordo com aquela nossa Persona em ação.

Não termos Persona nenhuma é tão negativo quanto termos em excesso. Ninguém fala tudo o que sente e pensa, ninguém faz tudo que der vontade, pois há um limite, um respeito com o próximo, uma ética, mas isso não pode nos levar a esquecer de quem somos verdadeiramente.






* Texto especialmente produzido para o Programa Psicodrops, que vai ao ar todas as terças e quintas-feiras, às 19 horas, na Rádio Mutante. 

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