quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A PERSONA E A SOMBRA: Dois lados do nosso ser (parte 2)



“Nós não somos as identidades que construímos todos os dias, mas a liberdade que cria essas identidades.”

(Sabedoria de Darmata – 5º Sabedoria Búdica)


Se a Persona é desenvolvida com o objetivo de facilitar a convivência do homem em sociedade, para onde vão aqueles conteúdos não compatíveis com esta adaptação?

Esses conteúdos, que são os comportamentos, traços de personalidade e crenças que nós suprimimos ou reprimimos porque foram considerados negativos para serem aceitos, passam a constituir aquilo que chamamos de Sombra pessoal – ou seja, o nosso lado negro. Quanto mais luminosa é a Persona, mais acentuados são os elementos que compõem a nossa Sombra.

        Sempre que houver processo de escolha consciente, haverá também o lado que ficou negligenciado ou não escolhido, aquele que poderia ter sido vivido e não foi. Neste sentido, a Sombra estará sempre ao nosso lado e irá focalizar o resultado de todas as nossas escolhas. Podemos passar a vida negando esses aspectos, tentando mantê-los reprimidos, ou então, passamos a enxergar do lado de fora de nós mesmos nas outras pessoas: desprezamos e nos irritamos com o outro, pois esse passa a representar aquilo que não posso, ou não consigo reconhecer em mim.

     Isso acontece por um fenômeno chamado de Projeção. A Projeção é um poderoso espelho refletor de conteúdos importantes para o autoconhecimento e desenvolvimento da personalidade, mas para isso é preciso que ela seja reconhecida de forma consciente.

Sendo assim, um dos maiores e principais trabalhos que temos no desenvolvimento da nossa personalidade é, sem dúvida, a conscientização da nossa Sombra, através da retirada de nossas projeções no mundo exterior. A Sombra irá nos revelar quem de fato nós somos ou quem poderemos nos tornar para além das aparências que a nossa sociedade nos força a viver.

Quando, para a nossa adaptação social, desenvolvemos a Persona, somos obrigados a descartar vários aspectos que não condizem com a atitude da consciência naquele momento. Estes aspectos poderão ser úteis em outra época de nossas vidas, poderão voltar, uma vez que não serão mais prejudiciais à nossa adaptação e poderão mudar o rumo de nossa história.

O trabalho de integração da Sombra, na maioria das vezes, não é nada fácil, mas é somente através dele que colocaremos nossos pés no chão, dando permissão para que a nossa alma possa florescer. A Sombra, quando trabalha em harmonia com a consciência, deixa a vida mais rica e colorida.

         Jung já dizia que o melhor trabalho político, social e espiritual que podemos fazer é parar de projetar nossas Sombras nos outros, pois quando formos capazes de enxergar nossas próprias mesquinharias, ciúmes, ódios e rancores, então isso poderá se reverter num bem positivo, porque em tais emoções tão destrutivas está armazenada muita energia vital, e quando se tem tal energia à disposição, ela poderá ser utilizada para fins positivos.








Por Melissa S. Brendler


* Texto especialmente produzido para o Programa Psicodrops, que vai ao ar todas as terças e quintas-feiras, às 19 horas, na Rádio Mutante. 





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