“Nós não somos as identidades que construímos todos os dias, mas a liberdade que cria essas identidades.”
(Sabedoria de Darmata – 5º Sabedoria Búdica)
Se a Persona é desenvolvida com o objetivo de facilitar a convivência
do homem em sociedade, para onde vão aqueles conteúdos não compatíveis com esta
adaptação?
Esses conteúdos,
que são os comportamentos, traços de personalidade e crenças que nós suprimimos
ou reprimimos porque foram considerados negativos para serem aceitos, passam a
constituir aquilo que chamamos de Sombra pessoal – ou seja, o nosso lado
negro. Quanto mais luminosa é a Persona, mais acentuados são os elementos que
compõem a nossa Sombra.
Sempre
que houver processo de escolha consciente, haverá também o lado que ficou
negligenciado ou não escolhido, aquele que poderia ter sido vivido e não foi.
Neste sentido, a Sombra estará sempre ao nosso lado e irá focalizar o resultado
de todas as nossas escolhas. Podemos passar a vida negando esses aspectos,
tentando mantê-los reprimidos, ou então, passamos a enxergar do lado de fora de
nós mesmos nas outras pessoas: desprezamos e nos irritamos com o outro, pois esse
passa a representar aquilo que não posso, ou não consigo reconhecer em mim.
Isso
acontece por um fenômeno chamado de Projeção. A Projeção é um poderoso espelho
refletor de conteúdos importantes para o autoconhecimento e desenvolvimento da
personalidade, mas para isso é preciso que ela seja reconhecida de forma
consciente.
Sendo assim, um
dos maiores e principais trabalhos que temos no desenvolvimento da nossa
personalidade é, sem dúvida, a conscientização da nossa Sombra, através da
retirada de nossas projeções no mundo exterior. A Sombra irá nos revelar quem
de fato nós somos ou quem poderemos nos tornar para além das aparências que a
nossa sociedade nos força a viver.
Quando, para a nossa adaptação social, desenvolvemos a Persona, somos
obrigados a descartar vários aspectos que não condizem com a atitude da
consciência naquele momento. Estes aspectos poderão ser úteis em outra época de
nossas vidas, poderão voltar, uma vez que não serão mais prejudiciais à nossa
adaptação e poderão mudar o rumo de nossa história.
O trabalho de
integração da Sombra, na maioria das vezes, não é nada fácil, mas é somente
através dele que colocaremos nossos pés no chão, dando permissão para que a
nossa alma possa florescer. A Sombra, quando trabalha em harmonia com a
consciência, deixa a vida mais rica e colorida.
Jung já dizia que o melhor trabalho político, social e espiritual que
podemos fazer é parar de projetar nossas Sombras nos outros, pois quando formos
capazes de enxergar nossas próprias mesquinharias, ciúmes, ódios e rancores,
então isso poderá se reverter num bem positivo, porque em tais emoções tão
destrutivas está armazenada muita energia vital, e quando se tem tal energia à
disposição, ela poderá ser utilizada para fins positivos.
Por Melissa S. Brendler
* Texto especialmente produzido para o Programa Psicodrops, que vai ao ar todas as terças e quintas-feiras, às 19 horas, na Rádio Mutante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário